Ouço vários relatos de esposas que rastreiam seus maridos através dos seus respectivos aparelhos celulares. A maioria delas alega que não se trata de insegurança e dá as mais criativas justificativas para manter sobre a palma das mãos o local exato de onde “seu homem” se encontra. Não sei se homens costumam agir da mesma forma, se o fazem, a mim nunca confessaram.

Lembro-me de quando me mudei para a capital e estava em um enorme hipermercado com meu marido e meu filho. Nós nos separamos para agilizarmos as compras e meu Arthur, na época com três anos e meio ficou comigo. Eu estava empurrando o carrinho e Arthur estava à minha frente, bem próximo, porém correndo com os braços abertos imitando um avião. De repente ele desaparece do meu campo de visão, pois entra atrás de uma pilha de caixas de papelão dessas que fica nos espaços entre os corredores.

Mantive o foco naquela direção esperando que ele fosse aparecer do outro lado com suas “asas abertas”, mas não. Ele não apareceu. Imediatamente corri para a pilha de caixas e dei uma volta toda ao redor dela, ou talvez duas. Ele havia desaparecido. Naquele momento eu queria um rastreador de gente, ou melhor, eu queria ter chipado o Arthur antes daquele acontecido.

Entrei em estado de catatonia e só consegui avisar o Murilo, pelo celular. Ele tomou todas as providências e em poucos minutos (que para mim foram séculos) o Arthur apareceu rindo acompanhado de uma moça.

Sempre me lembro daquele dia e de ter saído do hipermercado chorando e jurando que iria chipar meu filho, mas com o tempo a gente aprende que não controlamos os filhos, nem com chips, nem com rastreadores celulares e que o que resta é cuidar para que eles não se afastem enquanto precisam de nós. Um dia os filhos crescem e seguem seu caminho.

Voltemos então aos maridos rastreados e agora eu espero que tenha dado a vocês a ideia do quanto é descabida a tentativa de rastrear um adulto como se ele fosse propriedade nossa e/ou como se assim fosse ser possível evitar a traição. Sim, porque por trás de todas as desculpas, a grande razão para que mulheres andem por aí controlando os passos dos seus respectivos maridos e namorados é o medo de serem traídas por eles. Elas querem confirmar se eles estão falando a verdade, se estão mesmo onde dizem que estão e se não vão fugir delas.

Se não podemos sequer manter sob nosso controle os nossos filhos, por que insistir em controlar o outro que a nós não pertence?

Por que tratar o outro como se fosse propriedade nossa?

Caros leitores, desde que o mundo é mundo as traições acontecem pelas mais variadas razões e não há como controlar isso. Infinitas são as variáveis que levam um indivíduo a descumprir a promessa de fidelidade e cabe lembrar que o ser humano não é monogâmico por espécie, como a arara por exemplo. A fidelidade só é mantida porque p homem possui cognição e não apenas comportamentos respondentes como os outros animais também não monogâmicos. A razão para não trair é única e simplesmente a escolha de não o fazer, baseada nos valores éticos morais e religiosos de cada um. É só isso.

Os celulares podem ser desligados ou deixados em locais nos quais possam enganar o rastreador, infinitas desculpas podem ser inventadas porque a verdade é que quem quer arruma um jeito. A motivação é o combustível mais potente do ser humano.

Se me permitem uma sugestão: coloque-se no lugar de quem está sendo rastreado e lembre-se que a traição intima não é a única que existe. Quando você compra uma roupa nova e diz que usou o dinheiro para o supermercado você também está traindo a confiança de alguém. “Noves fora”: invista no autoconhecimento e na boa relação consigo mesmo. Ame-se e certamente as pessoas vão gostar de estar ao seu lado. Cuide do seu jardim, lembra? Para que as borboletas se aproximem dele. Cuide de você e se caso a traição dolorosa vier, faça o seguinte: desabe, fique no chão até conseguir forças, então se levante e siga. Jamais dê ao outro o poder de destruir sua história e sua trajetória.

Pessoas vêm. Pessoas vão. A única delas que ficará com você pelo resto da sua vida é você!

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Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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