Não foi uma das tarefas mais fáceis da minha vida, admitir e acreditar que nosso relacionamento havia chegado ao seu desfecho. Eu, francamente, acreditava que subiria ao altar e quem estaria me esperando lá seria você.
Até pressentia que nossa história não estava na sua melhor época, mas não conseguia engolir que precisasse mesmo de um ponto final em vez de uma vírgula ou um novo parágrafo.
Ficava remoendo em minhas lembranças a última vez que te vi, nosso último beijo e a última vez que você disse me amar.
Foram tempos difíceis.
Eu passava a noite e a madrugada inteira ensopando meu travesseiro – mesmo sabendo que no dia seguinte meu despertador me acordaria cedo – tentando entender em qual momento durante o relacionamento foi escrito alguma linha torta o suficiente para apagar toda a nossa narrativa.
Eu simplesmente não aceitava o fim porque te amava, e sabia que conseguiria pular mais um muro pra poder deitar na tua cama ao anoitecer, pra poder ter o teu corpo entrelaçado ao meu nas noites de tormentas, pra poder ter você ao meu lado sem como e nem porquês.
Certo dia, não muito tempo depois, resolvi que era hora de lavar o rosto com água gelada, cortar o cabelo, fazer uma limpa no meu armário e pra minha maior surpresa: fazer uma limpa no meu coração e na minha memória. E foi aí que eu deixei você de lado.
Eu te coloquei dentro de um saquinho, amarrei bem forte e coloquei o saquinho em uma caixa de sapatos. Vedei a caixa de sapatos com fita preta, coloquei dentro de um bauzinho e lacrei com um cadeado – só pra ter certeza que você não tentaria fugir.
Guardei em cima do armário dos sentimentos, justamente pra pegar poeira e por ser o lugar onde eu morro de preguiça de subir por precisar correr atrás de alguma escada.
Costumo deixar as pessoas que me machucaram por lá.
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Senti-me livre. Queria sair por aí voando, conhecendo o mundo e pessoas novas. Queria mostrar minha alegria por ter superado uma dor por aí, pelo mundo inteiro. Afinal, foram meses atrás de você. Foram meses tentando reconciliação, escutando que você me amava sim e queria voltar, mas não podia.
Passou algum tempo após minha mudança interior e numa noite dessas que sai com minhas amigas, conheci um moço interessante no bar. Que me chamou a atenção. Era gentil e muito atencioso. Tinha a fala mansa que me envolvia em suas conversas de uma forma até dominadora, possuía um charme que me deixou encantada desde que o avistei a primeira vez.
Mas eu olhei para o lado. Eu olhei para o lado errado. Eu olhei para o lado que você estava no bar e me dei conta que você estava sorrindo e acenando pra mim. Dei de ombros, afinal você já estava na seção dos esquecidos. Meu celular vibrou e eu gelei, pensei em correr ao banheiro porque sentia meu estômago subindo a cada segundo que meu celular vibrava.
Resolvi desligar meu celular mesmo sem ver quem havia chamado e continuar a minha noite tranquila com o Senhor Charmoso. Rimos, bebemos e até comi uma batata-frita, que fazia um bom tempo que não comia frituras.
O Sr. Charmoso se ofereceu para me levar embora, mas eu sabia onde essa noite iria dar – no sentido literal da palavra – e eu ainda não me sentia pronta para levar algum homem para a minha cama. Fui embora com o número dele anotado em um guardanapo.
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Ao chegar à minha rua, vejo o seu carro estacionado na frente da minha casa e penso em dar meia volta ou até mesmo ligar pro Senhor Charmoso e perguntar onde ele mora e se poderia passar a noite lá, mas escolho enfrentar a fera.
Você está de braços cruzados encostado no carro. Me aproximo sem dizer nada, com o coração saltitante e com a raiva corroendo meu corpo inteiro.
Você não diz nada por alguns segundos que viram uma eternidade até que você resolve questionar meu sumiço durante esses dois meses, disse que sente minha falta e me pergunta se realmente te amei, pois já estava conversando com outra pessoa no bar. Então você desabafa que precisava ver meu sorriso, que me ama e que não conseguiu me esquecer ainda.
Caí com a boca no chão e simplesmente não aguentei, a raiva tomou conta de mim por inteira e resolvi dizer que passei meses atrás de você e quando finalmente te esqueci, você me julga estar errada? Quando eu resolvi seguir em frente, você não concorda?
Quem terminou foi você, quem quis ir embora foi você e agora você acha que está no seu direito de voltar atrás e estragar tudo o que eu construí? Não. Te contei que passei meses chorando, mas que agora eu não choro mais por você. E por fim, pedi que fosse embora.
Você tentou rebater, mas não permiti. Observei pela janela do meu quarto você indo embora e levando contigo um peso que estava nas minhas costas. Você foi embora deixando a certeza que fiz as escolhas certas.
Ligo para o Senhor Charmoso:
– Você quer dar uma passada aqui na minha casa? Não terminamos o que começamos hoje no bar.
Fonte: Deu Ruim
Autor: Daniele Denez
*Via página parceira.
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