Interferir, revidar, conversar: Ensinando as crianças a se defenderem
Seu filho chega em casa, após passar o dia todo na escola. Você percebe que ele está machucado. Ao perguntar o que aconteceu, descobre que um coleguinha da turma bateu nele. Com certeza, só de pensar nessa situação, pais e mães já sentem aquele misto de emoções: um aperto no coração, sensação de impotência, raiva, tristeza e uma vontade enorme de poder proteger o pequeno de tudo e de todos a todo momento. Mas sabemos que, na prática, isso não é possível.
Na realidade, quanto mais o tempo passa, mais difícil é estar presente na vida dos filhos. Afinal, conforme vão crescendo, as crianças dão seus próprios passos, e descobrem por si mesmas seus caminhos e como resolver seus problemas. Nesse sentido, pais e mães se preocupam com uma questão: como ensinar os filhos a se defenderem?
Devemos ensinar os filhos a revidarem?
Acreditando na importância de ensinar os filhos a se defenderem sozinhos, alguns pais seguem a linha do “bateu, levou”, incentivando as crianças a baterem de volta, quando apanham, seja em casa, na escola ou qualquer outra situação. Embora a intenção nesse caso seja proteger o pequeno, impedindo que ele seja passivo em situações de agressão, encorajar os pequenos a revidarem, gera um ciclo de violência, incentivando comportamentos agressivos.
De acordo com Sarah Helena, mãe, psicóloga e curadora na Leiturinha, “ensinar as crianças a baterem de volta significa que a violência é uma solução plausível, permissível e capaz de resolver conflitos, quando, na verdade ela só gera mais problemas. Assim como gentileza gera gentileza, violência gera violência, até que alguém quebre o ciclo”. Sarah ainda complementa que, embora a intenção dos pais ao ensinar a criança a revidar seja protegê-la, “este tipo de proteção é ilusório e momentâneo, contribuindo, na verdade, para uma sociedade cada vez mais intolerante, violenta e incapaz de dialogar quando se há diferenças ou conflitos”.
Nesse contexto, outra questão também pode surgir: devemos ensinar meninos e meninas a se protegerem de maneira diferente? Embora criar filhos e filhas tragam desafios e dúvidas em comum, nós já falamos aqui no Blog sobre pontos importantes para se atentar na criação meninos e na criação meninas. “Sabemos que meninos e meninas, culturalmente, estão sujeitos a tipos diferentes de violência. Portanto, caberiam orientações tão diferentes quanto os tipos de violência. No entanto, é importante lembrar que a prevenção e proteção dos filhos começa com a orientação para que nunca partam para a agressão.”, afirma a psicóloga Sarah.
Então, como ensinar os pequenos a se defenderem?
Se não queremos que nossos filhos apanhem na escola e/ou sejam passivos em situações de violência, aceitando coisas que não querem/gostam por medo ou por não saberem se defender, mas, por outro lado, não queremos incentivar a agressividade, como podemos ajudar nossos pequenos a se defender por si mesmos?
Em uma pesquisa realizada no Instagram Leiturinha, dos 2.896 pais e mães que participaram, apenas 23% afirmaram que ensinam os filhos a revidarem. Para ajudar a pensar em alternativas no momento de ensinar os pequenos se defenderem, Sarah Helena elencou algumas dicas. Confira:
1. É preciso criar estratégias para evitar a violência. A violência acontece justamente quando faltam recursos na linguagem para lidar com a situação. Ensinar na prática, em casa, é muito importante para que a criança perceba que existem outros meios para se resolver conflitos.
2. Se o diálogo não for suficiente para resolver a situação entre seu pequeno e algum colega, oriente que ele saia de perto e busque distância, até que seja possível uma nova aproximação não violenta. O que à primeira vista pode parecer “covardia”, na verdade é um ato corajoso de escolha por um caminho diferente. Muitas vezes é preciso muito mais coragem e força para ceder e abandonar uma discussão do que para partir para a ação.
3. Em caso de risco, é sempre bom ensinar os pequenos a buscarem ajuda. Se for um conflito entre iguais – com amiguinhos ou colegas, a ajuda de um adulto pode ser eficiente. Caso o risco envolva algo mais sério, é importante que a criança saiba como chamar a polícia, por exemplo, ou que saiba como pedir ajuda sem chamar atenção.
4. Quando o conflito acontece na escola, a ajuda de um profissional é sempre válida, sobretudo quando as famílias também são envolvidas.
Sejamos nós os construtores da sociedade que queremos, mais segura e protetora!
(Autor(a): Ana Clara Oliveira)
(Fonte: leiturinha.com.br)