Nesse texto, vamos conversar um pouco sobre confiança. Esta, aliás, que poucas vezes é uma característica presente nas relações interpessoais.

Hoje em dia, muitas das relações em geral são mais baseadas em cálculos do que em confiança. Não que seja algo só de agora, pois isso sempre existiu. Mas digamos que a facilidade de comunicação e seu distanciamento, a partir do celular e internet, facilitam a criação de “personagens” no dia a dia. Distancia um pouco as pessoas, e fortalece a desconfiança.

Confiar é fiar com. É tecer junto. Ou seja, o ato de confiar é a atitude de quem vê o outro como um companheiro. É a possibilidade de acreditar, integralmente, em que o outro é um aliado.

Tal como uma criança que oferece o seu corpo nas mãos de seus pais, quando estes vão carregá-la para algum lugar ou quando cai no sono. É um ato de doação e ao mesmo tempo um pedido. É quando me coloco como vulnerável, quando desarmo minhas defesas. Entrego-me, correndo todos os riscos.

Nem todas as pessoas estão dispostas a se entregar. Sentem receio de se mostrar como são: de expor seus pensamentos, de demonstrar seus temores, seus desejos, de rir do que sentem graça e de chorar com o que as toca. De medos em medos não há mais espaço para a entrega. Afinal, preciso me resguardar.

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Ora, se preciso me proteger, claro que não vou correr o risco de me entregar. Não posso confiar de forma integral. Acabo me utilizando das redes sociais e dos meios de comunicação como um todo, para demonstrar para o outro apenas o que tenho certeza de que não vai gerar algum risco para a relação, seja de amizade, amorosa ou familiar. Mando risadinha quando não sinto graça, ou sorrisinho mesmo quando não estou querendo sorrir, afinal me revelar é correr risco.

Essa cultura do medo, do não demonstrar-se, é uma característica atual de nossa sociedade.

Porém, ainda é possível confiar. Muitas pessoas, quando encontram, por exemplo, uma pessoa pela qual sentem muito amor, se revelam integralmente. A confiança se faz presente e revela todas as suas alegrias.

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Colocar-se como vulnerável diante do outro, assim como a criança no colo do pai, dá “aquele soninho”. Ou seja, a pessoa relaxa, está em paz. Provavelmente como não consegue estar em nenhum outro momento da vida, até mesmo quando está sozinha.

Confiar é descobrir o equilíbrio perfeito entre mostrar-se forte e mostrar-se fraco. Afinal, quando eu estiver fraco, sem forças, não terei medo de demonstrar isso, pois tem alguém ali que me acolhe sem me julgar ou cobrar. E quando percebo a fraqueza desse alguém, sinto como que um impulso interno mais forte do que minha vontade racional, para acolhê-lo e doar-me integralmente, mas dessa vez na posição de quem “segura no colo”.

Confiar é descobrir um novo mundo. É redescobrir-se. É perceber fraqueza na força e fortaleza na fragilidade. É integração. Mesmo que a outra pessoa não confie em mim da mesma forma, quando eu confio nela, estou em paz, mesmo que venha a me decepcionar.

Claro que não falo aqui de uma entrega irrestrita. Quando sei que uma pessoa me faz mal, se tenho certeza de que não será de oura forma, evidente que não vou me entregar para ser ferido novamente.

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Confiar é uma atitude de certeza, até mesmo de uma certa ingenuidade, mas não uma atitude masoquista. Entretanto, se percebo que há uma chance de algo ser diferente… por que não dar um voto de confiança?

Acima de tudo, quem confia nas pessoas tem uma relação transparente consigo mesmo, e não com o outro. Sem medo de ser eu mesmo e de acreditar nas pessoas, certamente tenho menos preocupações, e sou mais pleno e alegre em todas as circunstâncias da vida. Mesmo que venha a chorar, enxugo as lágrimas, tal como uma criança, sem jamais perder a vontade de brincar e ser feliz. Confie nisso.

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Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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