Após toda a repercussão negativa causada, logo da primeira divulgação dos resultados da pesquisa “Tolerância social à violência contra as mulheres”, feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que dizia que 65% dos brasileiros concordavam com a afirmação, “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”, o Instituto reconhece o erro e faz uma errata, divulgando que o número correto é 26%.
Porém, se por um lado o resultado correto divulgado não chega a ser um escândalo, como o número anterior apresentado, por outro lado, também não temos motivos para comemorar, pois se considerarmos as respostas daqueles que discordam parcialmente dessa afirmação, esse número sobe para 37,6%. Ou seja, quase 40% dos entrevistados!
Vale ressaltar que grande parte das pessoas que responderam às questões são mulheres!
Embora a pesquisa não tenha sido feita em todo o território nacional, essa foi uma boa amostra que requer um olhar atento da população para a questão de todos os tipos de violência contra a mulher. O machismo ainda é a tônica neste país, haja vista os resultados das pesquisas feitas pela séria Instituição Fundação Perseu Abramo, nos últimos anos.
A luta contra a violência sexual contra mulheres, crianças e adolescentes continua sendo um desafio gigante que o governo brasileiro e a população mais esclarecida têm pela frente. Será preciso muito investimento e tempo em educação para transformar uma cultura machista que permite que mulheres sejam violentadas, espancadas e assassinadas. Além de punições mais efetivas para os espancadores e estupradores.
O Brasil precisa urgentemente de educação para que esse quadro um dia possa se reverter. Daí a necessidade da interferência do governo em promover políticas públicas mais eficientes que sensibilizem a população para uma convivência de não violência e de equidade de gênero, dentro das escolas e a partir dos meios de comunicação, através de campanhas constantes de conscientização.
É preciso também reforçar a educação sexual nas escolas que tem um papel fundamental na formação da personalidade da criança, pois ao contrário do que muitas pessoas pensam, a educação sexual vai muito além de promover o conhecimento da fisiologia da sexualidade e da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e aids.
Seu princípio básico é contribuir para aumentar a autoestima e a autonomia do indivíduo e principalmente, promover a cultura de não violência, ou seja, o respeito mútuo que deve haver entre todos os cidadãos, fazendo valer, inclusive os seus direitos sexuais que, aliás, são desconhecidos pela população.
Vale ressaltar que a maneira deturpada que boa parte da população brasileira encara o comportamento do homem e da mulher, bem como os seus direitos na sociedade, muito contribui para o estupro, não somente de mulheres, mas sobretudo de crianças e adolescentes que são em sua maioria meninas que têm menos de 13 anos.
Convido o leitor(a) a fazer uma reflexão crítica sobre a sua responsabilidade na educação dos seus filhos. Meninos e meninas são diferentes, mas devem ser educados com direitos iguais, caso contrário, essa cultura machista e violenta não vai mudar!
Procure na internet pela Declaração dos Direitos Sexuais, instituídos pela Associação Mundial para a Saúde Sexual, são direitos humanos universais baseados na liberdade inerente, dignidade e igualdade para todos os seres humanos.
Finalizo este artigo apresentando o Direito Sexual número 2 e na esperança de que cada cidadão possa ter a consciência de sua responsabilidade, individual, na prevenção deste grave problema de saúde pública que afeta a todos nós, sem exceção.
O DIREITO À AUTONOMIA SEXUAL, INTEGRIDADE SEXUAL E A SEGURANÇA DO CORPO SEXUAL. Este direito envolve a habilidade de uma pessoa em tomar decisões autônomas sobre a própria vida sexual num contexto de ética pessoal e social. Também inclui o controle e o prazer de nossos corpos livres de tortura, mutilação e violência de qualquer tipo.