O Homem e a Mulher no desempenho de papéis
A desigualdade de poder, vista por toda parte, influencia fortemente os comportamentos individuais na nossa sociedade.
Geralmente a mulher é educada para um papel mais passivo e o homem, mais treinado para a ação e para ser guerreiro.
De um modo geral, a mulher ganhou poder, na medida em que descobriu seus próprios recursos para sobreviver de forma autônoma e passou a ter realização profissional. No relacionamento-a-dois a situação é diferente. Uma boa parte ainda não consegue resolver os conflitos que surgem e tende a se submeter ao outro, tolerando a dominação e, às vezes, a hostilidade dos seus companheiros. Desta forma, sem querer, a mulher, contribui para que não haja consequências para os comportamentos agressivos dele e assim, a violência pode crescer a cada dia. Numa relação de força desproporcional entre os dois, o mais comum é que ela venha a se tornar a vítima dele.
E o homem, qual é o seu contexto? Ao contrário da mulher, nas últimas décadas a percepção do homem é de perda de poder e prestígio. O aumento da competitividade, inclusive com as mulheres, gera perda de espaço profissional e consequentemente, muitos sonhos de realização profissional e material frustrados. Além disto, no espaço da convivência com a mulher tem havido perdas, pois as mulheres geralmente trabalham e têm menos disponibilidade ou desejo de “cuidar deles”. Ainda assim, no espaço da intimidade, onde não há quase testemunhas, surge a brecha, isto é, o espaço onde ele, consciente ou não, tem a possibilidade de compensar estas perdas de poder, sentindo-se novamente forte. Seu passaporte para o poder é o papel de algoz desta companheira
Violência Contra a Mulher
O fato é que as condições de ambos os parceiros se tornam favoráveis ao crescimento do distúrbio da relação chamado Violência. No casal, o crescimento da hostilidade geralmente se desenvolve através de um processo lento e sutil de lavagem cerebral, até que a violência se torne crônica. Com o tempo, o homem se torna dependente do prazer fácil e das vantagens de ser algoz e quer mais. Enquanto, ao viver a violência cotidiana, cada vez mais a mulher perde a autoestima e a autoconfiança e, com isto, a sua capacidade de reagir para resolver o problema. Isto explica o agravamento do drama e por que tantas mulheres vivem a violência crônica até um final trágico.
Quem é o inimigo da mulher que sofre a violência?
Muitos responderiam que… “é o parceiro violento, claro. É dele que esta mulher precisa se livrar”. Esta visão do problema pode ser real, mas talvez seja superficial. As estatísticas mostram que se ela simplesmente se separar deste homem, tenderá a encontrar no seu caminho outro companheiro que age do mesmo jeito ou até pior, o que se pode entender facilmente, pois ela está condicionada a funcionar como vítima. Então, seu inimigo não é o parceiro.
Outros diriam que o inimigo da violência é o medo. É verdade que esta mulher pode ter medo intenso da violência dele ou até mesmo de perdê-lo, mas, como qualquer outro sentimento humano, o medo é natural e existe como um desafio a ser vencido. O inimigo real desta mulher é, em geral, a Dependência Emocional (Codependência) do parceiro. Ela é a sua grande armadilha que gera várias crenças como, por exemplo, de que pode aguentar tudo por amor, da sua fragilidade, da falta de merecimento do melhor, da falta de força diante da situação, de que “ruim com ele, pior sem ele”, de que não tem escolha e outras idéias limitantes que lhe fecham as portas para as soluções desta violência.
A Dependência Emocional tem solução?
É por tudo isto que se pode afirmar que a solução desta mulher é fortalecer-se, corrigir suas crenças a fim de perceber seu poder de ação, sair do papel de vítima e treinar o de protagonista. O que é isto? Protagonista é um papel que se escolhe e se desenvolve e isto não é natural. Segundo Rui Mesquita, “Protagonismo é a concepção da pessoa como fonte de iniciativa, que é ação; como fonte de liberdade, que é opção e como fonte de compromissos, que é a responsabilidade. Desta forma, a pessoa aprende fazendo, ocupando uma posição de centralidade no processo e é indutora de mudanças”.
Somente assumindo a responsabilidade total pelo seu bem-estar, a mulher pode vencer seu medo e a violência. E isto ela conseguirá buscando ajuda, lendo e discutindo sobre o seu problema com quem entende; enfim, ampliando muito a sua visão deste distúrbio chamado Dependência Emocional, do funcionamento das relações e de si mesma, encontrando, assim, seus verdadeiros recursos e seu poder para sair e prevenir-se de relacionamentos destrutivos e dar-se a chance de ter uma vida amorosa realmente satisfatória.
(Autora: Dra Elizabeth Zamerul – médica psiquiatra, psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e Codependência)
(Fonte: dependenciaecodependencia)
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