Segundo a Organização Mundial da Saúde, a violência é definida como o “uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações” (OMS, 2002)

No entanto, apesar de todos os esforços empreendidos por muitas mulheres no decorrer da História, a violência contra elas ainda subsiste, faz parte do nosso convívio hodierno, de nossas raízes socioculturais, algumas vezes veladas, silenciosas e difíceis de ser identificadas (como a violência psicológica); já outras, são totalmente ostensivas.

É inegável que a mulher foi historicamente um grupo excluído e marginalizado. Neste processo sócio-historico, a violência contra elas deve ser percebida e interpretada como uma construção sociocultural, mas infelizmente foi internalizada perigosamente como algo normal e legitimado.

Por se tratar de uma construção social, a violência de gênero pode ser desconstruída. Sendo assim, a medida a ser tomada seria educar os meninos acerca do respeito à mulher principalmente nas escolas, visto que o substrato das mudanças que precisamos chama-se educação e respeito à cidadania.

A educação para transformações sociais é importante, visto que quando se é negado o direito do outro de ter liberdade responsável dentro da sociedade em que construímos relações, inegavelmente serão criados estereótipos que repercutirão para todos, através da imposição de uma cultura de dominação.

Vale à pena salientar que onde há dominação e imposição de poder, também há violação de direitos humanos e consequentemente violência, constrangimento, conflitos, sentimento de posse e objetificação do outro.

Apesar de todas as lutas, ainda existem mulheres que diante da violência física, psicológica, sexual e patrimonial não denunciam a violência. Diante deste contexto, surge dentre outras, uma reflexão, talvez a mais intrigante: quais seriam as motivações para que algumas mulheres não denunciassem as agressões sofridas, principalmente por seus parceiros?

A questão é complexa e qualquer explicação generalista seria simplista e reducionista. Entre algumas explicações, existe a crença de que os assuntos de ordem familiar, mesmo em se tratando de violência devem permanecer entre seus integrantes, pois de acordo com esta concepção, estes conflitos configurados por agressões devem permanecer no âmbito da esfera doméstica. A outra questão trata-se do ciclo da violência, muito corriqueiro.

O que é o ciclo da violência?

O ciclo da violência se caracteriza por um padrão de agressão caracterizado por 3 fases distintas:

Fase 1– Criação e aumento da tensão até um ponto critico, que conduz à violência deflagrada e seguida da fase de amor ou reconciliação.

Fase 2– Fase de tensão, o comportamento do homem se torna diferente, mais ríspido e intolerante. Nesta fase, ocorre a agressão propriamente dita, seja física, psicológica, sexual ou mista.

Fase 3– A da parcimônia. Nesta fase, o homem demonstra arrependimento do que fez e tenta se redimir, procurando contornar a situação através da amorosidade e do companheirismo. Normalmente ele diz à mulher que estava passando por momentos difíceis no trabalho ou em outras áreas da sua vida, tentando, deste modo justificar seu comportamento através do estresse diário, assumindo posturas de arrependimento e mudando seu comportamento de modo que a mulher não rompa com a relação.

Como nesta última fase o parceiro se desculpou e se redimiu, a mulher acredita que não mais ocorrerão comportamentos agressivos, retornando à sua rotina normal e permanecendo na relação. No entanto, com o tempo pode iniciar-se novamente a fase 1, que é a de tensão seguida por novas agressões, reiniciando assim todo o ciclo da violência.

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Psicóloga, escritora, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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