Depois que uma pessoa passa por uma perda terrível ou por sucessivas perdas medianas que a levam a um processo depressivo, em que a autoestima e a energia vital ficam reduzidas a pó, começa a pesar e a medir os valores que prioriza.
Durante o processo de reconstrução, lento e bem particular para cada pessoa, começamos a perceber o que realmente é importante para a nossa sanidade mental. O que realmente faz a vida valer a pena e ter sentido.
Vivemos cercados por pessoas, circunstâncias, compromissos sociais e de repente nada parece tão grande assim. Conforme os efeitos da depressão começam a diminuir, tudo ganha um gosto novo e começamos a jogar fora o que faz a mala pesar demais durante a nossa caminhada pelo mundo.
Quando nos perguntam o que é fundamental para nós, respondemos de forma mais ou menos similar a esta pergunta. Quando estamos superando um trauma e “trocamos” a pele da alma, já não conseguimos mentir para nós mesmos. E o que antigamente parecia urgente, não tem tanta pressa assim.
O que parecia importante, talvez o seja para a sociedade ou para pessoas que amamos e não para nós mesmos.
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Fazemos descobertas incríveis ao passarmos por uma depressão. Quando estamos tentando vir à tona, sentimos que algumas pessoas e atividades são capazes de nos animar e aí descobrimos o nosso essencial.
O que me fez sorrir no meio desta tristeza toda? O que me fez sair da cama num dia em que me sentia no fundo do poço? O que me fez ir para a rua mesmo sem vontade alguma? Com quem eu quis me abrir? Quem me provocou uma risada? Qual atividade me fez esquecer o sofrimento mesmo que temporariamente?
Quando estamos bem, acumulamos uma série de preocupações supérfluas, assumimos compromissos que não queremos, investimos tempo, energia e dinheiro em coisas que não contribuem realmente para o nosso crescimento pessoal.
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Sem querer vivemos de acordo com um script social. O script destinado às pessoas do nosso gênero, da nossa classe social, da nossa profissão etc.
E passado um tempo, podemos perceber também que antes do trauma, antes da perda terrível, já estávamos um pouquinho deprimidos e que certas situações que nos pareciam normais contribuíram para aumentar a nossa ansiedade, a nossa angústia.
Alguém se recuperando de uma depressão é um sobrevivente. E como todo aquele que se livra de um grande desastre, cheio de estragos, aprende a se defender mais e melhor de tudo aquilo que pode machucá-lo. Vou mais além. Aprende que poucas coisas e pessoas realmente valem para nós nesta vida. Aprende que bagagem boa é bagagem pequena.
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Não me refiro a experiências e conhecimentos. Me refiro a protocolos sociais, a hábitos fúteis, excesso de preocupação com aquilo que os outros pensam e dizem, pavor de envelhecer, mania de querer que tudo aconteça do jeito que sonhamos ou planejamos, se valorar pelo olhar do outro, achar que tem direito a felicidade porque é uma boa pessoa.
Descobrimos que podemos ser uma boa pessoa, mas não precisamos ser perfeitos.
Às vezes pensamos que a nossa vida é como um trailer de cinema e que a qualquer momento, o filme vai começar. Na verdade, o trailer já era o filme e cabe a nós extrair o melhor dele, mesmo que tenhamos entrado na sala de projeção errada.
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