Ultimamente uma das queixas mais recorrentes de quem procura um trabalho psicoterapêutico é o vazio existencial. Pacientes relatam falta de sentido na vida, mal estar produzidos por sentimento de falta de inclusão, fracasso e desamparo, corroborando neste discurso queixas de quadros depressivos e ansiosos.
Parece que o vazio existencial tem assolado a humanidade. Atualmente, vivemos em um padrão comportamental dos momentos e prazeres fugazes, do consumismo desenfreado e da descartabilidade, do supérfluo, da valorização das aparências no intuito de sentir-se aceito socialmente.
E em meio a tantos “espelhos identitários” que se mesclam, nos atordoamos e perdemos até mesmo o sentido da própria identidade.
Vivemos num mundo de incertezas, de prazeres fugazes, do “ter” em detrimento do “ser” e de necessidades alienadas que nunca são satisfeitas em um sentido mais profundo, provocando uma sensação contínua de perda de valores e referencias. Neste “contrato social” da cultura do fast-food e da descartabilidade, o próprio ser humano tornou-se produto no imaginário popular de uso e consumo.
Vivemos em tempos de imprevisibilidade nunca antes vistos, onde a rapidez dos acontecimentos não acompanham suas significações e internalizações. Não há mais espaço para aprofundar raízes, consertar dificuldades, remendar problemas comuns do dia a dia. Existe um discurso que não se fala mas que se vive constantemente em que tudo perde o sentido com facilidade em que normalmente ninguém está disposto a resolver problemas a longo prazo.
As vivências atuais poderiam ser metaforizadas como a busca de um oásis, onde temos fome e sede insaciáveis de um sentido de profundidade, mas que ao mesmo tempo fugimos dele. E como todo oásis é uma miragem, nunca alcançamos a satisfação daquilo que deveria ocupar real importância. Ao passo que desejamos uma vida que preencham de significados uma verdadeira existência, contraditoriamente caímos no abismo das superficialidades. Mas será que de fato desejamos uma verdadeira existência?
Somos realmente paradoxais. Vivemos em uma sociedade em que todos estamos interligados pelos meios de comunicação, entre likes e compartilhamentos. Pessoas são nossos amigos ou nos seguem nas redes sociais, mas estas mesmas pessoas, contraditoriamente quando nos encontram na rua dificilmente nos cumprimentam.
Em outras palavras, preferimos viver na alienação do irreal a viver relacionamentos reais, pois precisamos de nossos espelhos narcísicos, não nos interessando a “cara lavada” que a vida oferece em sua espontaneidade; esta destruiria a nossa sensação de onipotência de nossos jogos egoicos.
E assim continuamos famintos e sedentos de significações reais, contemplando a superficialidade de uma vida de aparências para fugirmos da solidão de nós mesmos, buscando completude em bens de consumo, em um outro imaginário que preencha nossas expectativas existenciais igualmente de aparências. A parte este discurso niilista e diante de todas estas circunstâncias, será que sobra um pouco do que seja genuíno para sairmos da matrix e nos (re)encontrarmos em nossa “essência”?
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