Todo mundo sempre me disse que eu deveria engolir minha língua e parar de falar o que penso. Não que eu não compreenda sobre palavras e seu poder de ferir. Mas porque eu costumo abrir meu coração.

E claro, meu coração não é feito só de sentimento bom. Eu recebi várias lições durante a minha caminhada. Falar muito não é bom. Ironia nem sempre é bem vinda. Sinceridade machuca as pessoas. E as pessoas são uma incógnita, mesmo aquelas que você pensa conhecer como a palma da sua mão.

Quando falamos sobre sinceridade, não devemos pensar naquelas palavras desnecessárias que a pessoa emite porque se acha cheia de opinião e razão, ou por se dizer autêntica. Não pense que me refiro àquelas pessoas que falam o que pensam em qualquer hora e lugar, sem contexto, sem compaixão, sem remorso. Porque ela “não sabe ser falsa”.

Pense aqui comigo. Esse tipo de sinceridade é cruel e não deve ser levada em consideração, mesmo porque não se deve confundir autenticidade com falta de educação. Quando falo sobre sinceridade, quero falar da necessária, que torna as pessoas melhores. Que provoca reflexão e atitudes sobre crescimento. A sinceridade capaz de mudar vidas.

Esse tipo de sinceridade, as pessoas também não gostam. Machuca. Porque o ser humano está frágil e acomodado. Prefere manter-se dentro de um casulo construído na sua própria realidade sobre si mesmo e daí quando chega alguém pra cutucar mesmo quando é convidado, causa incômodo. Isso, claro, quando você não fala o que ele quer ouvir. Sabe a reação? Aquela madura que devia causar reflexão? Não aparece. O “PITI” é quase cômico. Resultando em cortes de relações amigas.

Mas eu parei, juro. Por um tempo. Como todo ser metamorfoseando e por aceitar a “verdade” que me diziam. Fui tão crucificada e julgada, que de todo me tornei rejeitada. Então guardei minhas palavras. Eu não queria ser solitária.

Acontece que guardar minhas palavras é como deixar de existir. Anular sentimentos e deixar o coração explodir de mágoa indigesta. Porque na maioria das vezes a sinceridade não trata da outra pessoa somente. Trata de quem fala e do que o emissor acredita ser importante no mundo em que vive. A sinceridade não é apenas sobre a atitude do outro, mas sobre o efeito que isso causa em você mesmo.

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E isso é muito particular. Se você não fala como a pessoa vai saber que errou com você? Como saberá que você está magoada ou insatisfeita com algo? Não entendo. Sinceramente não entendo o problema das pessoas em querer desconversar defeitos, em querer esconder medos e proteger rancor.

Bota para fora aqui, bota para fora ali e no fim pega tudo de ruim e descarta junto, no lixo, para ser incinerado. Deixando o que há de bom se reconstruir.

O fato é, não podemos manter amizades, relacionamentos ou laços familiares pisando em ovos. Concordando com tudo. Com medo de ferir sentimentos.

Eu tentei não dizer para uma amiga que não gostei de como ela me tratou. Tentei não falar para minha mãe como ela estava insuportavelmente ranzinza. Tentei não falar ao meu namorado que não nasci para ser submissa. Tentei não dizer ao meu irmão que eu esperava que ele quitasse sua dívida comigo e logo, porque precisava do dinheiro. Tentei porque diziam que eu precisava disso. E quer saber o que aconteceu?
Eu não me tornei uma pessoa melhor.

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Ao proteger todos da verdade sobre o que eu sentia e precisava, ninguém gostou mais de mim, ninguém me ajudou, ninguém recebeu uma luz divina com todas essas verdades que eu não pude falar para não machucar. E o que aconteceu?Eu me machuquei.

Implodi com todas as minhas dúvidas e queixas por puro egoísmo. Meu e de quem disse que eu devia me calar. E repito: Eu definitivamente não fui mais amada por isso.

Verdades devem ser ditas, quer doam ou não. Entende? Com contexto, com jeitinho quando necessário ou até mesmo rudemente para se ter o efeito desejado.

Então pessoas como eu, que sentem e precisam resolver mal resolvidos, não se calem. Façam sua parte. E pessoas que se ofendem por tudo, que não sabem aceitar, conversar, ouvir a versão do outro, crescer, parem!

E não faça de quem se abre um carrasco. É feio. É lamentável. Se você entrou para a turma do “Ah tá”, do “abstraio, nem escuto”, cuidado! Uma hora essa merda toda explode. E isso pode contaminar sua vida inteira.

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Publicitária por formação, aeromoça por opção e escritora por paixão. Virginiana, perfeccionista, mãe do Henri. Entre fraldas e mamadeiras, entre pousos e decolagens, entre artes e artimanhas, ela escreve. Escreve porque para ela, escrever é como respirar: indispensável à vida! É colunista do site Fãs da Psicanálise.

4 COMENTÁRIOS

  1. De fato, sinceridade e libertador!! E particularmente a verdade deixa a vida mais fácil. E complicado, nem todo mundo aceita mas aprendemos a lidar com isso é aceitamos esse fato pq esse é quem somos!

  2. Nunca me apaixonei tanto, quanto hoje, você é incrível, e descrevem o que aprendi na marra com a vida. Sempre fui um ser humano esmagado pelos ensinamentos dos meus pais. Quando adulta, analisei pela graça de Deus, que precisava ser assim, expor o que sentia para alcançar a cura interior. Agradeço por esse texto lindo.

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