Já ouvi diversas vezes pessoas nomeando suas “manias” como TOC. Querer tudo organizado, não misturar cores, tomar banho em um certo horário. Abordam seus comportamentos com humor e certo “romantismo”.

No senso comum, nas interações em geral, costumo não problematizar o assunto. Afinal, a sociedade abraçou certos diagnósticos e termos psicológicos e deu a eles outros significados. No entanto, quando se trata de entender um processo na clínica, em terapia, com base científica, preciso voltar ao real significado dos conceitos, entre eles o TOC.

Mas, afinal, o que é TOC?

O TOC, abreviação de Transtorno Obsessivo Compulsivo, é mais do que uma mania. É a necessidade de manter uma ordem específica, de repetir certos comportamentos, ter pensamentos fixos que não vão embora. Além disso, esses comportamentos e ideias trazem grande transtorno, atrapalhando a rotina, dificultando o relacionamento com outras pessoas, entre outros.

A pessoa com TOC sofre com seus sintomas. Em um grande número de casos, precisam executar uma série de comportamentos repetitivos, chamados também de rituais, para impedir que algo ruim aconteça.

Entendendo o TOC:

O TOC é composto, principalmente, por dois processos: pensar fixamente (obsessivo) e o agir ritualístico (compulsivo). Os dois acontecem simultaneamente ou um após o outro.

O esquema abaixo pode ajudar a entender:

Situação que antecede Resposta da pessoa Consequência da resposta
Evento ameaçador/aversivo Comportamento Compulsivo

Pensamento Obsessivo

Evento ameaçador/aversivo evitado

 

O evento ameaçador, também chamado de gatilho, que antecede o pensar e o comportar-se, nem sempre é passível de identificação ao primeiro olhar. Alguns são mais fáceis, como sujeira, bagunça. Outros são mais difíceis, como interações sociais, cores. O que determina algo como ameaçador, aversivo, é a história de cada pessoa e não a característica do elemento em si.

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Em relação ao segundo bloco da tríade, a resposta que a pessoa apresenta pode ter sido associada a consequência de forma aleatória, ou seja, pode ser qualquer coisa. Ela “impede” o evento aversivo e por isso é repetida. A questão no TOC é que quanto mais tempo a pessoa é apresentada a esses eventos, mais comportamentos ela associa ao evento aversivo, então o número vai aumentando. Algumas pessoas desenvolvem rituais complexos, envolvendo cadeias enormes de comportamento.

Quando a consequência alcançada é a evitação do evento aversivo, a pessoa aprende que seu comportamento é efetivo e essa relação se fortalece. Se isso se repete várias vezes durante a vida de alguém, isso se torna uma “verdade”, uma regra a ser obedecida. Ou seja, a pessoa evita algo ruim se comportando ou pensando de certa maneira. Quando ela tenta não obedecer ao que foi estabelecido, começa a apresentar reações fisiológicas chamadas de ansiedade, porque está desprotegida e vulnerável ao que é aversivo.

Tenho TOC. E agora?

Existem várias possibilidades de tratamento para esse transtorno. No aspecto neuropsicológico, é importante procurar ajuda médica e determinar qual é a medicação mais adequada para cada caso. No aspecto psicológico, a terapia é fundamental. As linhas mais indicadas são a Comportamental e Cognitiva Comportamental, mas os resultados, objetivos, tempo de acompanhamento, entre outras questões dependem de cada paciente.

O que expresso nesse texto se refere, de maneira resumida e simplificada, ao aspecto psicológico do TOC. Esse transtorno abarca, também, alterações neuropsicológicas que, em alguns casos, podem ser beneficiados com o uso da medicação.

O TOC não é loucura, não é uma mania, mas sim um transtorno que precisa de tratamento. Entender como ele funciona é o primeiro passo!

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