“Estava eu me arrumando para uma festa de reencontro da minha antiga turma da faculdade. Caramba, faz muito tempo. Dez anos já se passaram.

Me encontraria com pessoas caras, muitíssimo valiosas para mim. Amigos verdadeiros, que, embora não estejam mais cotidianamente presentes em minha vida, são muito queridos por tudo que já vivemos juntos.

Estava mergulhada nesse clima de alegria nostálgica, quando de repente vi aquela pessoa…

Não, não pode ser.

Vocês, queridos leitores, não imaginam quem seja essa pessoa que estou vendo na minha frente. Ela me fez muito mal.

Na época da faculdade, ela me colocava para baixo. Eu realmente queria acreditar na minha capacidade de tirar notas legais, de conseguir uma bolsa de iniciação científica naquela temática que eu mais gostava!

E ela, sarcástica, ficava me falando: “Você? Quer tirar notas boas aqui na Faculdade? Lembra como você colava no ensino médio. Colava demais! E só por isso pôde estar aqui. Você acha mesmo que pode conseguir isso? Passou no vestibular por questão de sorte, na reclassificação! Desiste, você não tem chance”.

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Ah, como era difícil escutar aquilo. Acabou que isso me desanimava, e eu apenas conseguia estudar para tirar a nota suficiente para passar de período. Monitoria? Acabei desistindo.

Essa pessoa também me atrapalhou muito quando conheci um homem muito especial nessa mesma época. Eu estava no terceiro período, quando conheci um monitor da uma disciplina, que era do quinto. Foi atração à primeira vista. Foi difícil resistir. Na segunda vez em que nos vimos, conversamos por horas, parecia que a vida conspirou para que nos encontrássemos, almas afins e apaixonadas.

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E esse momento chegou. Foi um romance fulminante, permeado de muito carinho e companheirismo. Ao fim do primeiro ano desse namoro, a tal pessoa, começou a me fazer olhar para as meninas que estavam próximas dele. Ela dizia: “Você acha que um cara tão especial, e tão assediado, vai realmente ficar com você por muito tempo? Se é que já não te traiu…”.

Nasceu um ciúme tão fulminante como aquela paixão. Simplesmente não enxerguei mais nada. Com o passar dos meses nosso namoro ficou insuportável, e ele quis terminar comigo. Eu queria que o mundo acabasse naquele momento! Ah, como eu não queria novamente rever essa pessoa inconveniente que me fez tão mal…

Essa pessoa, além disso tudo, também já me fez brigar com amigos, já me fez perder data de prova, já me desanimou em diversas empreitadas…

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E querido leitor, você não vai acreditar onde foi que enxerguei novamente essa pessoa. Eu a vi no espelho, enquanto me arrumava lembrando daquela época.

Sim, a Vitória do passado estava ali, na minha frente, e eu senti muita mágoa, muita raiva. E o mais dolorido: era eu mesma. Eu mesma me sabotava nos estudos, naquele relacionamento perdido, em tudo! Como era difícil reconhecer aquilo. Minha vida poderia ser outra…

Poderia?

Pensando melhor, acho que só por conta de tudo o que vivi, inclusive essas posturas autodestrutivas, sou quem sou hoje. Hoje estou bem empregada, noiva de um homem muito especial.

A Vitória do passado era frágil e não se acreditava capaz. Mas foi ela que me fez descobrir a minha força atual. Não suportei ficar onde eu estava e fui obrigada a crescer, a buscar ser feliz, a acreditar…

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Sim, agora posso olhar para o espelho, lembrar do passado e dizer: Sim, eu te perdoo!

Se você fez mal para você mesma, tenho certeza de que foi a melhor saída que encontrou naquele momento. Está tudo bem. A vida seguiu. A vida sempre segue. E segue porque aprendi a me perdoar, a continuar, apesar de todos os obstáculos que eu mesma possa ter causado. Me perdoo.

Assim é com qualquer um de nós, querido leitor. Se já nos fizemos mal, foi uma vivência de grande importância. Foi aí que aprendemos a ter força e a reafirmar as nossas escolhas.

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Quando eu permito meu passado existir, o presente vem e se apresenta por si só, naturalmente. Libertemo-nos! Com essa valiosa joia: o auto perdão. ”

Vitória Moraes

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Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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