Um dia desses fui procurar um filme para assistir num serviço de streaming. Como havia muitas opções e eu estava indecisa, entrei em um site jornalístico, que também continha críticas, para ter uma ideia geral sobre os títulos que me interessavam. Abaixo de cada uma existia a seção “comentários” onde as pessoas podiam opinar sobre o assunto.
Em meio aos comentários, alguns favoráveis a percepção do crítico e outros não, li um que me chamou atenção: “crítico de m****” (sinônimo de dejeto humano, afinal esse é um texto para todos). O primeiro pensamento que tive foi ignorar o comentário. Afinal aquele tipo de resposta não é incomum na internet. Porém, isso não demorou muito.
Essa situação me levou a refletir sobre as críticas presentes na internet e porque alguns fazem como o fazem. Opiniões cheias de ódio, raiva, em nenhum momento oferecendo uma opinião construída ou embasada. O que leva as pessoas a fazerem comentários desse tipo? Por que a internet parece estar cheia deles?
A crítica a que me referi no começo desse texto, e que inspirou essa reflexão, não trouxe nenhuma ponderação positiva ou negativa. Não apresentou os motivos do descontentamento, não expressou o porquê do desagrado. Foi apenas um xingamento direcionado a pessoa que escreveu o texto. O tipo de comentário carregado de ódio e que não contribuiu em nada, ao menos essa é a minha percepção, ao exercício jornalístico do autor ou a uma perspectiva diferente para aqueles que poderiam se interessar pelo filme.
Acredito e defendo o direito de expressão de qualquer pessoa, mas considero que a forma como nos expressamos deve ser sim problematizada, analisada. Por que esse tipo de expressão de ódio, nada construtiva, é ainda socialmente aceita? Por que ignoramos esse tipo de expressão e não a discutimos como forma a evitar e extinguir essa maneira de se comunicar? Por que as pessoas se comunicam assim?
Em relação a última questão, tenho algumas observações:
a) Quando a opinião proferida é contra ao que se que acredita, a pessoa se sente agredida
Nossas opiniões são parte de quem somos. Dependendo da segurança pessoal de cada um, a contradição pode ser um golpe duro em sua estima. Isso tem mais a ver com insegurança pessoal do que o cerne do processo de discordar. Discordar de uma opinião é apenas isso. Não significa que se é um lixo, ou que a outra parte é ignorante. Certas pessoas sentem-se tão inseguras dentro de suas construções internas que não podem ter nenhuma de suas posições questionadas. Qualquer possibilidade é rechaçada. Obviamente isso não se aplica a opiniões criminosas ou preconceituosas, que precisam ser sim revistas!
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b) O anonimato permite que as pessoas se comportem sem consequências
Isso está mudando, com a criação de leis que regulam a liberdade na internet, porém esse é um processo ainda incipiente. Quando não existem consequências para as ações, muitos se comportam sem a pressão das regras sociais ou morais e se permitem a expressão de tudo, sem filtros. Alguns podem argumentar que essa é a forma de realmente conhecer alguém e talvez isso seja verdade; no entanto acredito que muitas pessoas são feridas ou magoadas por uma permissividade perigosa.
c) Alguns confundem o direito de expressar sua opinião com grosseria
Essa é talvez um dos maiores problemas que enfrentamos. A ideia de ser honesto consigo e sincero é misturada a uma baixa habilidade de comunicar-se (ou até falta de interesse). Entendem que toda hora é o momento de expressar-se, mesmo que essa não seja cabível.
d) Alguns criticam a partir do que entenderam e não necessariamente do que foi dito
Lacan já dizia que sabe-se apenas o que foi dito e não o que o outro entende. Infelizmente, essa é uma realidade. Mesmo com grandes autores, como Machado de Assis, que tem um domínio extenso da língua existem confusões. Quanto mais entre os mortais! De um lado, existem analfabetos funcionais. Pessoas que sabem ler, mas não necessariamente compreender/interpretar um texto. De outro, pessoas que simplesmente fazem uma “leitura dinâmica” e opinam a partir dali, sem um verdadeiro exercício de reflexão.
Saliento que esse não é um texto a favor das críticas concordantes. Reafirmo isso, porque muitos podem ler essa opinião e pensar que estou sugerindo a censura. Definitivamente, essa não é minha posição. Todos têm o direito de discordar e acredito que essa é uma questão inalienável. No entanto, discuto como as críticas são feitas e também a finalidade! Se o objetivo for apenas explicitar sua insatisfação interna, talvez o meio também tenha que ser escolhido com cautela.
As razões acima explicitadas não esgotam o tema. São apenas uma breve reflexão para incitar a todos, eu inclusive, a refletir sobre esse tema. Principalmente entre os adolescentes, a internet exerce uma influência poderosa e, muitas vezes, perigosa para pessoas com a identidade ainda em construção. Quase todos os dias vemos casos de suicídio, tentativas de suicídio ou o desenvolvimento de doenças como depressão e ansiedade entre os jovens que se sentem ameaçados, desvalorizados, diminuídos por avaliações cheias de ódio.
Não sejamos haters!
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