Reconhecer a criança como sujeito envolve identificar suas potencialidades e os variados fatores que compõem a situação de seu sofrimento, buscando soluções em conjunto com ela. Abrir espaço para o saber das crianças autistas implica ajudá-los na sua singularidade, com tudo aquilo que os afeta em particular.
Ao mesmo tempo, ao escutar a criança em sua singularidade, abre-se um espaço para que o sujeito possa se expressar. Lacunas discursivas, repetições sintomáticas, ambiguidades, contradições e acontecimentos inesperados são pontuados na intenção de elaborar alguma hipótese sobre o funcionamento da criança.
Nesse processo, a criança é colocada na posição de falante, reconhecida como sujeito capaz de assumir um discurso próprio e particular, demonstrando qual é sua inscrição subjetiva e o seu funcionamento psíquico.
É assim, que Naoki Higashida, treze anos, autista e autor do livro “O que me faz pular” convida o leitor a imaginar uma vida cotidiana em que sua capacidade de falar lhe seja tirada. Explicar que está cansado, com fome ou com dor está tão além dos seus limites quanto conversar com um amigo.
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Seu livro fora composto por cinquenta e oito perguntas simples, perguntas que frequentemente são feitas pela maioria das pessoas que desconhecem o autismo e o modo de seu “funcionamento”.
O livro, no entanto, vai além de fornecer informações, oferece uma prova de que, encerrado no corpo aparentemente incapaz do autista, está um sujeito que quando colocado em condições em que suas invenções são valorizadas e não tomadas como obstáculos à seu desenvolvimento, torna-se possível para ele, não sair do seu autismo, mas de seu mundo imutável e seguro, abrindo-lhe um possível acesso à vida social.
Naoki, segundo o prefácio do livro, “sofre” de autismo severo. Preso em seu mundo individual, muitas vezes ele exibe comportamentos vistos como estranhos, peculiares, “inadequados”. Seja repetindo palavras e frases aparentemente sem sentido ou evitando contato visual com outras pessoas, tem uma enorme dificuldade de se comunicar e de socializar.
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Com apenas treze anos, escreveu “O que me faz pular”, um relato íntimo e penetrante que explica o modo de agir muitas vezes desconcertante das crianças autistas.
Naoki nasceu no Japão em 1992 e foi diagnosticado com “tendências autistas” em 1998. Depois disso, passou a frequentar escolas para estudantes com necessidades especiais, formando-se em 2011. Já publicou diversos textos de ficção e não ficção e ganhou prêmios literários. Ele também dá palestras sobre autismo e mantém um blog.
A possibilidade de “dar voz” à fala de Naoki só veio através de uma via não pedagogizante de intervenção e educação, através de uma aposta no sujeito feita graças à determinação de sua mãe e de uma professora da escola.
Naoki aprendeu a se expressar apontando as letras em uma espécie de teclado de papelão, e desde então o que tem a dizer traz uma certeza para a compreensão da singularidade que tanta caracteriza o sujeito autista em todas as suas formas.
Naoki conseguiu se expressar não através de uma aprendizagem sistematizada, que não leva em consideração as “obsessões” e estereotipias do sujeito autista, onde a fonte da mudança do seu comportamento estaria nas mãos da educadora ou da mãe, mas sim através da sensibilidade do método que leva em consideração a subjetividade que ele expressava, apostando na responsabilidade do sujeito para uma possível independência onde a mudança seja inerente à criança, onde o saber responsável por essa mudança estaria do lado do sujeito autista.
(Autora: Fernanda Marchi – Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)
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Gostei bastante desse texto, do assunto em geral. Tenho u filho autista, esse tema sempre é bem vindo, gostaria de ler o livro do Naoki, deve ser super interessante...vai entrar pra lista de livros a ler aqui! Obrigada.
Oi Andreia S.O. que bom que gostou do artigo.
O livro de Naoki é surpreendente, pois nos mostra a face do autismo pela via que, de fato, devia ser sempre a primeira a ser ouvida, a do sujeito autista.
Se puder adquira mesmo!
Abraço
Fernanda Marchi
Meu filho é TEA e tudo relacionado ao autimo me é super, aprendo dia com ele, pois onde moro não tem nada para autista , um centro, uma escola, ou pessoas especializadas , sei da importância da inclusão social, mas a lei ficou esquecida nessa parte. Amei sua pubicasão, parabéns , e obrigada