Na tristeza, você sofre por um fato específico. Existe um motivo, um contexto, uma dificuldade evidenciada. É um sofrer de fora para dentro. Não estava triste, porém ficou triste. Algo do campo de ação de seus afetos lhe magoou. A desarmonia externa traz conseqüências para o raciocínio. Ou é uma briga de casal ou um desentendimento no trabalho ou uma deslealdade de algum amigo.

A tristeza é clara, precisa, geométrica. É uma tensão que esvazia a força quando verbalizada. Porque é possível determinar a sua causa e encontrar uma solução objetiva. Caracteriza-se por um lamento, um desabafo episódico, uma reclamação contundente.

Já a depressão é sofrer por tudo, é quando toda a trajetória parece nula e errática. O deprimido se vê perdido, traindo a sua felicidade e enganando a sua liberdade. O deserdamento biográfico vem de supetão – até ontem as escolhas refletiam justiça e prazer.

Ele é sequestrado por si mesmo, num sofrer de dentro para fora. Abandonará as tarefas imediatas do trabalho e do estudo e o convívio do casamento, formas fixas da rotina.

Não há um alvo para as lágrimas. A choradeira compulsiva parte de um mal-estar generalizado. Não consegue determinar o estopim da crise, paralisado por um tormento indefinido e indeterminado. Quem está ao lado pretende justificar em vão a repentina catatonia que logo desemboca em turbilhão de soluços e desencanto do mundo.

Nada daquilo que funciona para acalmar a tristeza – como colo, conversa e carinho – surtirá efeito com a depressão, que exige o isolamento selvagem dos bichos.

O deprimido não escolhe o seu estado, termina arrastado por um desânimo visceral e químico. O engano é deduzir que se refugia no silêncio. Ele rumina, jamais se aquieta internamente, enredado no incessante barulho de existir.

A tristeza aceita a partilha com os próximos, na depressão o sujeito não fala com ninguém (balbucio) e tampouco sufoca a intensidade dos seus pensamentos fixos.

A tristeza é cheia de perguntas; na depressão, as dúvidas são dívidas impagáveis.

A tristeza espia a alegria dos outros, a depressão despreza a alegria dos outros.

A tristeza não acontece de qualquer jeito, mas do melhor jeito – a pessoa deita ou senta confortavelmente, reivindica a companhia de seu travesseiro ou assume o lugar preferido no sofá. Por sua vez, a depressão busca a incomunicabilidade e a renúncia – a pessoa se jogará no chão frio ou se dobrará num canto da casa em greve de fome.

A tristeza é hóspede, a depressão é residente.

A tristeza passa rápido, a depressão faz com que a vida passe por ela.

Autor: Fabrício Carpinejar

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A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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