De acordo com a própria designação do transtorno bipolar, este é um problema marcado por dois polos extremos, um de euforia e um de depressão. Este transtorno é bastante antigo a ponto de ter sido descrito por Areteu da Capadócia que apontou uma doença com dois polos: um melancólico e outro depressivo.

Resumidamente o quadro envolve dois momentos distintos no qual a pessoa altera completamente sua maneira de ser e permanece alterada por um período médio de quatro meses, tanto na fase eufórica ou maníaca como na fase depressiva. O transtorno afetivo bipolar verdadeiro é uma doença séria e que necessita de tratamento muito adequado e criterioso, inclusive com o uso de medicações.

Por ser um quadro um pouco complexo de a família lidar, nesse artigo responderei algumas questões importantes para quem convive com alguém com transtorno bipolar.

O comportamento do paciente bipolar é regular?
Entre as fases de mania ou euforia e as fases de depressão, pode haver o chamado “intervalo lúcido” no qual o paciente é completamente normal. Estes pacientes ciclam (mudam) da normalidade para a fase de doença maníaca ou depressiva devido a diversos fatores que denominamos “gatilhos”. Entre eles diversas situações estressoras externas, mudanças hormonais, alterações bioquímicas cerebrais, sazonalidade (alguns apresentam a fase depressiva sempre no mesmo mês do ano, como também a maníaca).

O grande trabalho do médico e da família ou dos tratadores é justamente se antecipar ao ciclo ou à mudança e intervir rapidamente para que tal não ocorra. Isto, entretanto, é bastante difícil, pois um paciente pode ciclar da total normalidade para a euforia plena em 24 horas!

O paciente pode ter seu estado normal semelhante para um dos espectros do transtorno?
Em primeiro lugar temos outra questão: muitas pessoas atualmente são diagnosticadas como portadoras de transtorno bipolar erradamente. Isto é muito grave, pois essas pessoas levam um rótulo para o resto de suas vidas! É importante salientar que alterações ou flutuações de humor todos temos: períodos de maior alegria, períodos de maior tristeza se alternando em dias, semanas; mas isto não caracteriza um transtorno bipolar.

Há uma série de alterações do humor que podemos imaginar numa escala crescente de comprometimento da pessoa e do comportamento: TPM – transtorno pré-menstrual, distimia (que pode ser compreendida como uma flutuação do estado de humor tendendo à depressão), disforia (outra flutuação do humor tendendo à irritação que não chega a ser classificado como transtorno bipolar). Quero deixar bem claro para o público que nem todos que apresentam alterações do estado de humor são considerados portadores de transtorno afetivo bipolar, e portanto não devem ser tratados como tal.

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Mas respondendo à pergunta, em muitos pacientes realmente o estado normal do paciente quase se assemelha a uma das fases da doença, daí fica mais difícil diferenciar entre a normalidade e a proximidade de um ciclo ou de um surto. Os próprios pacientes às vezes sabem, e não raro me pedem em consulta: “doutor, me deixe um pouquinho mais ‘acelerado’ como estou, pois a vida assim é mais gostosa”. Ele tem razão, mas aí devemos avisá-lo do perigo do surto, da mudança de fase ser às vezes muito rápida, sutil e até imperceptível no seu início.

Quais os cuidados que a família pode tomar para ajudar no bem-estar destes pacientes?
Digo a meus pacientes que nos relacionamos com pessoas e não com doenças. É importante, portanto, não haver qualquer discriminação ou rótulo do tipo: “você é doente”, “você é um bipolar”, “não dá para confiar, pois nunca sabemos quando vai adoecer” e outras observações negativas nestes sentido.

Os cuidados básicos são conduzi-lo a uma vida normal, sendo suporte nos períodos de crise ou de surto e ajudando na reinserção social logo a crise seja controlada. Estarem atentos aos possíveis “gatilhos” desencadeadores de crises, e através de um diálogo construtivo fazer com que o próprio paciente enxergue isto sem qualquer vergonha. Acompanhá-lo e incentivá-lo a um tratamento seguro e eficaz.

Quais são os principais desafios da família com este paciente?
É muito difícil entender ou aceitar que num período ele está normal, e logo a seguir é como se fosse outra pessoa. A alternância dos surtos, o prejuízo em sua vida profissional que não consegue ter continuidade acaba com a autoestima dele e nos deixa arrasados pela impotência em ajuda-lo ou em interromper estas fases.

O que vai ser de seu futuro? Ele não consegue estabelecer nada estável, nem relações afetivas, nem trabalho e quando não estivermos mais aqui para protegê-lo?
Em todos esses casos, a família deve se lembrar de pedir apoio também ao profissional que cuida de seu familiar, que poderá orientá-los melhor com esse tipo de dúvida ou incerteza. Além disso, a ciência tem evoluído bastante e contamos com novos agentes terapêuticos que já conseguem dar um nível e qualidade de vida muito bom aos portadores de TAB que efetivamente se tratam e tem a compreensão e o apoio familiar.

(Autor: Dr. Persio Ribeiro Gomes de Deus)

(Fonte: minhavida)

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