Quem nunca ouviu esta frase: “todo mundo precisa de terapia”? É uma daquelas máximas que ganham o mundo e vão passando de boca em boca. Mas será que é verdade? A resposta é não. E a razão é simples: fazer terapia é uma questão de escolha e não dá para obrigar ninguém a isso, pois requer disponibilidade e comprometimento.
“Por outro lado, é fato que grande parte das pessoas viveu situações traumatizantes ou abusivas ao longo da existência e necessita de tratamento para encontrar novas formas de lidar com o que aconteceu”, diz Miriam Barros, psicóloga clínica formada pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) e psicodramatista formada pela PUC (Pontifícia Universidade Católica).
Os ganhos são enormes em termos de qualidade de vida, ela afirma. No processo analítico, você adquire autoconsciência e passa a se perceber melhor, prestando atenção nas escolhas que faz. Dessa forma, enxerga como estão seus relacionamentos e, a partir daí, toma atitudes mais saudáveis e construtivas.
Autoconhecimento
Na opinião de Marília Castello Branco, psicóloga dos setores de adolescentes e mulheres do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), todas as pessoas deveriam, sim, cuidar da saúde mental. “Mas existem diferentes maneiras de se chegar lá, a psicoterapia é apenas uma delas. E, apesar de extremamente benéfica, a verdade é que nem todos dispõem de tempo, disposição e vontade de fazer.”
Se você tem dúvidas se deveria ou não investir nesse recurso, considere que há duas formas de enxergá-lo: como tratamento ou forma de autoconhecimento. No primeiro caso, ele vem ajudar a resolver um ou mais problemas, da dificuldade num relacionamento a quadros específicos como depressão, ansiedade, fobia, pânico, envolvimento com álcool e drogas.
No segundo, a pessoa simplesmente recorre a esse instrumento para se conhecer melhor. “A pergunta que devemos fazer é: para que ficar sofrendo se existe uma maneira de lidar com os entraves da vida e, muitas vezes, transformá-los? Questões familiares, afetivas, de trabalho, na relação com o outro – tudo isso pode ser abordado, resolvido, aperfeiçoado”, diz Marília Castello Branco.
Encarando o problema, ele parece menor
É aquela velha história: muitas vezes, falando do obstáculo ou da adversidade, ele fica menor. “À medida que o indivíduo leva seu conflito para a sessão, tudo se torna mais leve e diminui o sofrimento. E, com o passar do tempo, o paciente adquire outras conquistas: autoconsciência, autoestima, autoconfiança. Através do olhar do profissional, percebe uma nova possibilidade de ser visto e valorizado”, explica Miriam Barros.
Antes de se decidir pela terapia convencional, é bom fazer uma reflexão para saber qual o caminho ideal. Todos nós temos o que a psicanálise chama de “subjetividade”. Só que cada um lida com isso de forma particular. “Há sujeitos mais verbais, com aptidão da palavra, que elaboram bem suas questões falando com um terapeuta. Outros são mais fechados, e talvez se deem melhor com trabalhos como arteterapia ou musicoterapia. Há, ainda, os que, para manter a saúde mental, buscam a religião ou práticas como meditação, ioga, contato com a natureza. Enfim, o importante é procurar o que é mais proveitoso para você”, aconselha Marília Castello Branco.
Existem terapias pontuais/focais ou abrangentes. Ou seja: o profissional pode ser procurado para tratar de uma questão específica – como o medo de avião, por exemplo –, ou algo maior, como o desejo de mudar ou transformar a vida. “Neste último caso, são mais indicadas as terapias profundas, ou psicodinâmicas. Entre elas a análise, que pode ser de várias abordagens, de acordo com o gosto e a personalidade de cada um”, diz Marília Castello Branco |
A escolha errada de um terapeuta pode, sim, atrapalhar mais do que ajudar. Então, a dica é: procure indicações de conhecidos e siga sua intuição. “É importante você se sentir bem, à vontade, seguro. Claro que precisa estar preparado para ser questionado, e também para colocar questões desagradáveis, pois isso faz parte”, diz a psicóloga. Dica: converse com vários profissionais antes de escolher, e não tenha medo de mudar caso acredite que o processo não está se desenvolvendo bem |
Qualquer transtorno mental – depressão, fobia, ansiedade extrema, psicose – precisa e deve ser tratado. E, em grande parte das vezes, a psicoterapia é fundamental (embora muitas vezes seja preciso usar medicamentos) |
“De perto, ninguém é normal” – em relação a esta outra frase que corre o mundo, Miriam Barros observa que, dentro da psicologia, o conceito de “normalidade” é bastante controverso. “O limite entre o que é sadio e patológico (doentio) é muito tênue. Porém, podemos dizer que existem indivíduos que conseguem levar o cotidiano com espontaneidade e criatividade e não apresentam grandes conflitos internos para resolver.” Marília Castello Branco, por sua vez, completa que se deve olhar com cautela para indivíduos “excessivamente normais”: “Pode ser indício de um problema ou de um mecanismo de defesa enorme para não se confrontar com questões internas. É o que chamamos de ‘normopatia’, que não existe nos manuais, mas vemos frequentemente” |
A saúde psicológica é responsável pela maneira como você conduz sua vida, escolhe seus relacionamentos e lida com o trabalho, a família, os amigos… “Se as pessoas tivessem uma noção da real importância disso, não demorariam tanto para procurar ajuda e teriam melhor qualidade de vida”, conclui Miriam Barros |
(Autor: Rosana Faria de Freitas)
(Fonte: http://noticias.uol.com.br/)
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