Terapia

Terapia para enfrentar o medo de dirigir, eu fiz!

Confesso, é difícil admitir publicamente essa limitação, mas este é um assunto tão importante, que afeta tantas pessoas, que acho que cabe falar aqui. Cabe muito, inclusive, já que o foco da página é justamente a psique humana.

Eu tenho medo de dirigir e fiz terapia para superar. Claro, não fiz só por isso. Fiz terapia por vários motivos. Não vem ao caso esmiuçar, mas dentre eles o que mais me motivou foi o bendito pânico de dirigir. Ele me empurrou para o “divã”. Pretendo voltar, porque foi uma experiência maravilhosa e também porque sempre acabam surgindo outros problemas que apenas um profissional, um bom profissional, poderá ajudar a entender e tentar superar.

Sobre o pânico na direção, sou obrigada a confessar que sinto um constrangimento enorme. Sempre penso, “puxa vida, eu sou independente, resolvo tantas coisas sozinha, por que cargas d’água não consigo entrar no meu carro e sair dirigindo como todo mundo?”

Procurei ajuda. Contei para terapeuta do meu medo: “eu entro no carro e minhas pernas tremem. Parece que elas não vão me “obedecer”. Dá um embrulho no estômago. Meu coração dispara com barulho de buzinas e gritos de outros motoristas. Eu não consigo fazer isto sozinha. Não sei de onde vem este medo, mas quero que isto acabe.”

Ela me ouviu e me acalmou. Foi a terapeuta que me ajudou. Lembro que ela disse: “primeiro entre e saia da garagem sozinha. No dia seguinte dê uma volta no quarteirão.”

Quem não sente isto talvez não entenda a dificuldade que é entrar no carro e ligar a chave. Foi difícil, mas segui a instrução. Arranhei o carro um pouco nas primeiras tentativas, mas consegui. Logo comecei a dar voltas no quarteirão e no bairro. Sozinha. Aprendi os caminhos que eu precisava ir. Pode parecer uma bobagem (e no fundo sei que é uma bobagem) mas aprendi a ir aos lugares que preciso: casa da minha mãe, supermercado, fóruns, shopping center…

Leia Mais: O medo de dirigir: uma visão analítico comportamental

Minha vida melhorou. Não trabalho de carro. Ainda não consigo enfrentar a BR 101. Não tenho vaga de garagem no escritório e realmente acredito que da minha casa ao centro de Florianópolis é melhor e mais seguro usar o transporte coletivo, mas para o que preciso dirijo. Hoje e graças a terapeuta. Foi ela quem me ajudou. Não me ridicularizou, não fez pouco caso do meu medo. Disse que muita gente passa por isso, que é mais comum do que se pode imaginar. Ela me deu cada dia uma tarefa e eu fui cumprindo até onde consegui. Sim, a limitação ainda existe, mas sem a terapia ela ainda seria maior.

A terapia não é uma garantia de cura. Não é uma mercadoria de supermercado e, sem esforço, só pagando a consulta, os problemas não se resolverão como em um passe de mágica. A gente tem que se esforçar. Pelo menos é assim que eu vejo. É assim que eu sinto. A terapia, ao menos para mim, representou uma mudança grande, neste e em diversos outros aspectos, como por exemplo entender e aceitar que relacionamentos familiares e sentimentais nem sempre dão certo e que não existem tantos motivos para culpa e vergonha. Para (quase) tudo se dá um jeito. Um jeito de melhorar. E é bom tentar melhorar.

Fazer terapia foi uma grande evolução na minha vida, na minha maneira de enxergar, não apenas o trânsito, mas o mundo.

Claro que não dá para “se jogar” no divã de qualquer um. Busque uma recomendação, mas procure tratamento para essa fobia de dirigir. Você não é o único (e nem inferior) por não se sentir bem no trânsito. Principalmente se o trânsito de sua cidade é feroz como o da capital de SC. Você dificilmente se tornará o Ayrton Senna do seu bairro se nasceu com esta limitação, mas sua vida irá melhorar substancialmente, se conseguir ir aos lugares que precisa ir.

Além disso, você pode aproveitar e tentar resolver outros problemas que te causem aflição. É muito bom fazer terapia. Recomendo sim. Muitíssimo.

Saíle Bárbara Barreto

Advogada. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

View Comments

  • Tenho 27 anos, e até hoje não consigo me imaginar dirigindo. Minha fobia é tão grande que não tenho coragem nem de tentar tirar a carta, sinto tudo o que você descreveu quando tento me imaginar dirigindo. Seu texto foi libertador, muitas pessoas me julgam, dizem que é melhor eu nem tentar, eu me sentia muito mal, mas lendo seu texto senti uma vontade imensa de tentar, de lutar contra essa fobia. Obrigada pelo texto!!!

Share
Published by
Saíle Bárbara Barreto

Recent Posts

Realidade virtual e aumentada: o futuro da imersão de iGaming

Nos últimos anos, a indústria de iGaming (jogos de apostas online) passou por transformações significativas,…

4 semanas ago

A compulsão por jogos sob a perspectiva da epigenética e da constelação familiar

Utilizando terapias para uma nova abordagem ao problema A compulsão por jogos cresce na sociedade…

4 semanas ago

As melhores estratégias para jogar em cassinos ao vivo

Agora, a indústria de jogos de azar online está crescendo, o que não é surpreendente,…

2 meses ago

Três jogos de cassino populares que tiveram seu início na televisão

Muitos dos jogos de cassino mais famosos existem há séculos, como o Blackjack e a…

3 meses ago

Princípios básicos e regras do blackjack

Princípios básicos e regras do blackjack Blackjack é um jogo de cartas popular em cassinos…

3 meses ago

Eu tenho medo da maldade das pessoas

Algumas pessoas têm medo de aranha, outras de morcego, muitas temem cobras. Eu tenho medo…

3 meses ago