O distanciamento do casal é normal e tem solução. É normal que os casais sintam que a relação esfriou após muito tempo juntos e, principalmente, após o nascimento dos filhos. Mas isso não significa que a relação está fadada ao divórcio.
Filhos
Após o nascimento dos filhos, a mudança na vida a dois ocorre devido à atenção dispensada à criança. Segundo a psicóloga e psicanalista Anna Hirsch Burg, o primeiro ano de vida da criança é importante para estabelecer um modo de comunicação entre ela e os pais.
— A atenção de uma mulher quando vira mãe se volta demais para os filhos. Não podemos generalizar, mas é mais usual acontecer com elas do que com os homens. Isso é necessário para entender a linguagem da criança. Mas poucos homens aceitam isso.
Como a criança ainda não aprendeu a falar, a mãe vai entender os códigos para satisfazer as necessidades do filho. O foco na criança acaba refletindo na libido, que diminui nesse período, segundo Anna.
A psicóloga, psicanalista e também terapeuta de casais conta que o marido se sente preterido, pois a entrada “desse terceiro separa o casal. Eram dois, agora são três”.
— Ele se afasta, mas muito dificilmente se conversa sobre isso entre os dois. E a falta de diálogo num casal esfria o relacionamento.
Longa duração
Mesmo quando o casal não tem filhos, mas está em uma relação de longa duração, a acomodação um dia chega se instala e, quando menos se espera, está entre os dois há anos. Para a psicanalista e sexóloga, membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, Carmen Janssen, o processo é normal.
— Isso varia de casal para casal, mas a média de duração da paixão é de dois a quatro anos. Nosso cérebro não aguentaria tanto fogo, tanta paixão, tanta excitação o resto da vida.
A falta de interesse também ocorre conforme as pessoas amadurecem e se responsabilizam por mais tarefas.
— Todas as cobranças da nossa vida faz com que desviemos a atenção do erótico. Estudos mostram que para que haja interesse pelo outro deve existir um esforço, um empenho em manter o enamoramento, a sensualidade. É uma grande ilusão achar que o processo de voltar a ter interesse é natural.
Esfriou
Tanto para Anna como para Carmen, o casal só percebe que há um problema quando estão acostumados com a situação. A terapeuta de casais Anna Hirsch Burg afirma que é procurada quando a situação está quase insustentável e não há diálogo.
— Chega um momento em que brigam por qualquer bobagem, desavenças em um curto espaço de tempo, esfriamento sexual, paranoia de que o outro está traindo, desconfiança, a palavra do outro não tem mais sentido. Quando o casal perde a capacidade de dialogar todo o resto da relação é afetada. A terapia ajuda no resgate da capacidade de diálogo.
Infelizmente, segundo a terapeuta, muito dificilmente alguém vai buscar a terapia quando ainda não se falou em separação.
— Procurar a terapia de casal é de fato o último recurso. Não deveria ser, mas é.
A mulher que passa por problemas semelhantes, não deve hesitar em convidar o parceiro à terapia de casal.
— Homens não tem preconceito com a terapia, é mito.
Solução
Reconhecer que há um problema na relação é o primeiro passo. Um profissional pode ajudar o casal a tornar a relação saudável e, assim, preservá-la. O casal deve escolher o tipo de terapia mais adequada ao perfil dos dois.
Anna Hirsch Burg lembra algo importante: não existe casal que faça terapia e não queira permanecer na relação. Quando a pessoa procura ajuda é porque não quer perder o outro.
Também existe a possibilidade de procurar um sexólogo — que, ao contrário do que muitos pensam, não trabalha apenas com sexo, mas o relacionamento como um todo.
— O sexólogo, antes de tudo, precisa ser um terapeuta. O terapeuta cuida do relacionamento.
Cada relacionamento é uma relação específica, por isso não adianta seguir “os dez passos para salvar o casamento”. Carmen diz que é preciso olhar um para o outro e perceber que as necessidades mudam, até mesmo as eróticas.
— O casal deve pensar em reservar um espaço para que sempre tenha uma atmosfera erótica. Não é um simples horário para o casal.
Outro ponto da terapia de Carmen é entender que os dois são diferentes. A mulher, segundo a terapeuta, precisa de afetividade. Ela tem a necessidade de se sentir amada.
— Não que o homem não tenha, mas devido aos hormônios masculinos eles têm uma pré-disposição para o sexo maior do que a mulher.
A mulher precisa de carinho, de respeito e um estímulo de amor e afetividade maior, no dia a dia, do que o homem. Não apenas na cama. O homem por outro lado precisa ser mais estimulado do ponto de vista erótico.
— Cada pessoa se sente amada de uma forma diferente, precisamos contemplar isso. Precisamos nos colocar no lugar do outro e fazer essa pergunta que é um ponto essencial para o erotismo quando a chama apaga.
Para as duas, não há situação irreversível se há empenho de ambas as partes. Mas, para que se dê um pontapé inicial, o diálogo, franco, sincero e com vontade de melhorar deve ser trabalhado e, em muitos casos, retomado.
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