Quando estamos deprimidos (com ou sem motivo aparente) e demonstramos claramente o nosso sofrimento e falta de interesse pela vida, ouvimos e vemos as mais variadas reações e conselhos.
Alguns ficam constrangidos e preferem se afastar como se a tristeza profunda alheia fosse algo contagioso ou tão vergonhoso como um crime. Estilo: “Ela está deprimida”, com tom de quem diz “Ela desviou uma verba da empresa onde trabalha”.
Outros simplificam a questão, minimizando a dor alheia e narrando desastres muito maiores. Crianças que nascem sem pernas ou com três olhos. Gente que come um grão de arroz por semana.
Pessoas que dão estes exemplos são gente bem intencionada, mas ineficaz para animar um deprimido. Cada dor é única. Dor não se mede, não se compara.
Outros aproveitam para tripudiar. Sobre este tipo de gente prefiro poupar comentários. Não deveriam nem ser classificados como seres humanos.
Outros dizem coisas realmente valiosas. Outros com um simples abraço e um olhar terno dizem tudo o que precisamos ouvir. Vou me centrar na categoria que consegue ajudar.
Obviamente, cada um se consola com um tipo de conselho e se anima com algum tipo de atividade. Cada um tem a sua energia vital, mesmo que você ainda não a conheça. Não darei um guia passo a passo de como sair do buraco em duas semanas. Não tenho uma receita pronta, nem acredito nelas. Se a tivesse, já estaria rica e iria curtir a minha nova fase no Lago de Como…. Piadas à parte. Acredito em diretrizes.
Acredito em primeiro lugar que pessoas superficiais devem ser mantidas à distância como escondemos água sanitária de bebezinhos. Gente superficial tende a simplificar tudo de um jeito irritante e acaba te jogando em um poço mais fundo ainda.
Devemos nos centrar em gente densa, profunda, que sabe respeitar a dor alheia e o ritmo de recuperação dos entes amados. Gente que não força a barra, que se coloca à disposição para ouvir, mas sem se impor.
Nem sempre queremos falar. Cada um gosta de ocupar o seu tempo livre de uma forma: caminhando, cozinhando, lendo, praticando um esporte, fazendo uma arte (nos dois sentidos RS) estudando, etc, etc, etc.
Tente se centrar naquilo que te faz bem.
Pode ser uma coisa bem pequena. Não importa. Pode ser comer pipoca. Pode ser ver um filme trash. Pode ser tomar um banho quente. Pode ser ler uma revista de fofocas. Pode ser fazer brigadeiro para comer com colher. Faça!
Pessoas deprimidas por conta de um luto ou sem motivo aparente (motivo sempre existe mesmo que a gente não saiba qual é) e que está em tratamento, no começo, vive numa gangorra emocional. No mesmo dia pode se sentir bem, depois mais ou menos, depois bem de novo, depois mal e por aí vai. Sob tratamento, a tendência geral é ir estabilizando.
Gosta de dançar? Dance! Gosta de cozinhar? Cozinhe! Sempre quis fazer teatro? Se matricule num curso! Quer aprender um novo idioma? Aprenda! Sabe aquele curso ou projeto que sempre ficou em segundo plano por falta de tempo ou por acharem ridículo? Faça-o agora!
A depressão pode ser uma ótima oportunidade para nos descobrirmos, para fazermos aquilo que não faríamos quando estamos “bem”.
É hora de mandar certas atitudes , pensamentos e pessoas às favas. Seja um pouco mimado.
Seja um pouco egoísta mesmo que você seja naturalmente generoso. Não estou sugerindo que vire um facínora, mas aprenda a se respeitar, a lamber as suas feridas, a olhar para dentro de seu coração, ouvir seus desejos, seus apelos mais urgentes e histéricos. Deixe de ser a boazinha/bonzinho a bonitinha/bonitinho, use aumentativos.
Pode soar estranho, mas fazemos descobertas deliciosas a respeito de nós mesmos. Cada um tem as suas estratégias. Você só precisa descobrir qual é a sua ou simplesmente colocá-la em prática.
Se for preciso, conte com a ajuda de um profissional para auxiliá-lo em seu processo de autoconhecimento. Infelizmente, a nossa sociedade nos impele ao desconhecimento total de nós. Gente que se conhece irrita os outros. É menos manipulável. É menos carente.
Infelizmente, a sociedade com seus jogos e regras tolas, despreza e tem nojo de quem sofre. A maioria prefere passar a vida dizendo seus “tudo bem” de praxe, suas vazias frases prontas que denotam a necessidade de parecer feliz sempre, com seu medo de reconhecer em quem sofre seu próprio reflexo.
Me incomoda essa mania de achar que tudo precisa ser leve e os consolos impregnados de senso comum. Aprendi com um professor mais do que querido e especial que precisamos encarar o mal feito. Talvez, seja o único meio de nos mantermos sãos num mundo louco e doentio, num mundo obsessivo pelas aparências, pelo verniz dos sentimentos.
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Amei. Sem mais ❤