Somos fascinados pela imagem que mostramos ao espelho e não pelo que o espelho nos mostra. Por não sabermos lidar com tudo o que somos, declaramos o que somos para convenientemente nos convencermos da própria história que contamos, e a partir dela podermos aparentar o que gostaríamos de ser como se já fôssemos.

Não à toa vivemos recheados de certezas como se estas fossem verdades reconhecidas pelo peito. Calamos os vazios e dizemos que estamos preenchidos. Calamos a raiva e declaramos que estamos em paz. Calamos a ansiedade e afirmamos que sabemos aproveitar a vida. Assim, bebo até o exagero, tiro incontáveis fotos dos momentos em que digo que onde estou, com quem estou e o que faço é a vitrine da minha vida feliz.

Saímos até a exaustão por não sabermos ficar conosco. Não paramos porque não sabemos parar. Não sabemos olhar para os medos, para a solidão, para as carências. Assim, direi que só serei feliz ao ser amado. Assim, farei qualquer coisa que me distraia de mim, do que também sou, mas não tolero, do que também trago, mas não suporto.

Não, eu não sou invejoso. Os outros que me invejam. Não, eu não sou maledicente. Os outros é que falam mal de mim. Não, eu não sou impaciente. O outro é quem tanto me incomoda. Somos fascinados pela imagem que mostramos ao espelho e não pelo que o espelho nos mostra.

Às vezes, somente olhando verdadeiramente para a ilusão poderemos enxergar a verdade.

*Título original modificado pela equipe do Fãs da Psicanálise

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Poeta, escritor e colunista do site Fãs da Psicanálise.

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