Quando terminamos, eu pensava na pessoa a todo momento. De manhã, de tarde, de noite. Achava que nunca mais deixaria de pensar. E de fato, estava certo. A gente não deixa de pensar completamente, às vezes a gente pensa involuntariamente. Ainda que não faça mais sentido, nem doa.

Vez ou outra vem uma lembrança, um pensamento, um momento, bom ou ruim, mas que no final das contas tiramos como aprendizado. Inevitavelmente a gente pensa no outro. Ainda que não queiramos voltar, ainda que a gente já tenha superado, ainda que a gente já seja outra pessoa.

Pensar no outro não quer dizer que a gente queira viver aquilo novamente, muito menos que sentimos falta ou saudade. Às vezes é só uma lembrança solta perdida em meio a bagunça que somos e de vez em quando aparece ali, empoeirada, velha. A gente só vê e joga fora. Não sente nada.

Quando terminamos, eu pensei que nunca iria me acostumar com o espaço que ficou, que sempre iria sentir como se faltasse algo, como se eu não existisse mais por completo.

Cada vez que eu pensava, a lembrança vinha como um soco no estômago, doía, tirava o sono, faltava ar. Até que um dia eu pensei e não senti mais nada. Nada doeu. Nada.

Foi nesse momento que percebi o significado de superar. Superar alguém ou algo não é sobre esquecer o que aconteceu, porque é improvável esquecer o que foi vivido.

Superar não é ignorar as marcas que carrego. Superar é olhar pras elas, pras lembranças, pra qualquer pensamento intruso que possa aparecer, e não sentir nada.

É sobre sentir o seu corpo resistente e o seu peito destemido, a ponto de te tornar alguém maduro e preparado o suficiente pra redescobrir o amor.

Pelo outro, por si mesmo.

(Autor: Iandê Albuquerque)

*Texto publicado com autorização do autor.

*Título original: Sobre superar

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A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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