Featured

Sobre aquele velho vício de acinzentar os dias

Quero falar um pouco sobre a tristeza. E começo cheia de dedos pois não sou nenhuma PHD dos estados da alma humana, sou apenas uma poeta empática que observa a si mesma neste mundo e as pessoas em volta. E é nesse pé que eu quero falar sobre a tristeza.

A tristeza pode ter diversas formas, intensidades, colorações. Talvez hoje eu quero apenas divagar sobre um tipo de tristeza, uma melancolia que já me tomou tantas vezes os dias, que foi morar nos meus olhos, que me fez pensar que esse era o jeito adulto de estar na vida.

Todos sentimos tristeza, independente de classe, gênero, idade… Mas há um tipo de tristeza rotineira, há um tipo de tristeza (sutil e forte) que cria um espaço tão bem definido na nossa alma, que parece constituir a nossa essência e o nosso estar no mundo. Não é que a gente não saiba mais sorrir, mas os nossos olhos carregam um peso que podem desabar em lágrimas ou desânimos com qualquer descuido pequeno no caminho.

A gente desaprende a relaxar num momento, a ligar o foda-se para os assuntos grandiloquentes, a dar risada dos pensamentos negativos. A gente sempre tem uma sombra de tristeza por dentro que quando nota o nosso relaxamento, vem cochichar nos nossos ouvidos ‘olha, não fique assim tão satisfeito, porque você ainda não resolveu isso, aquilo e aquele outro, porque as pessoas te machucam, porque o mundo é cruel e o amor não lhe está disponível…’

E a tristeza vem acinzentar os nosso momentos sem importância. Vem colocar significado nos nossos afazeres simples do dia a dia. Vem dar um belo toque dramático no nosso temperinho simples de rotina.

Pra mim tristeza assim pode ser um vício. Vício nosso de querer colocar notas a mais na simplicidade da vida, vício de acreditar que carregamos culpas sem fim, vício de achar que não podemos relaxar os ombros e deixar que as marés da vida atuem silenciosamente nos nossos destinos.

Desaprendemos a sutil capacidade de ser feliz por nada. Porque a gente se cobra muito, porque a gente mede as consequências de tudo, porque a gente vive o dia de amanhã e a vida dos outros.

Leia Mais: 5 dicas para superar a tristeza profunda

Às vezes essa tristeza nos coloca de cama, sem coragem pra nada, perdemos a força para fazer coisas que gostamos, nos entregamos a esse estado de espírito. Eu sei, ele aparece e às vezes é mesmo maior que tudo. Mas a gente precisa começar, devagar e sempre, resgatar a nossa infância perdida, o nosso gosto por fazermos as tarefas do dia sem tantos pesos no corpo e na mente.

A gente pode pegar uma vassoura, ligar uma música, sorrir para o gato que passa, dar uma volta no bairro, espantar a responsabilidade de ser grande, navegar numa maré mais tranquila.

A gente esqueceu disso, mas é permitido não saber do dia de amanhã, seguir roteiros diferentes do que a maioria, exigir menos da gente mesmo e das pessoas, puxar o tapete de quem só sabe reclamar.

A gente pode focar em cuidar do próprio jardim, desativar as expectativas. Abrir as asas, respirar fundo, quebrar as pernas das muletas e deixar a alma ser livre no mundo.

Parece que seguindo assim, mais leve no sentir o mundo, devagar a gente vai mudando o tom da vida, vai corrigindo a postura da alma, vai acreditando mais na luz do sol que entra inevitavelmente pela janela do que nos pântanos que ocuparam os nossos jardins internos.

Clara Baccarin

Clara Baccarin é paulista dos interiores, nascida nos anos 80. É escritora, poeta e agitadora cultural. Faz parte do grupo editorial Laranja Original. Publicou, pela editora Chiado, o romance poético Castelos Tropicais (2015) e a coletânea de poemas, pela editora Sempiterno (2016), Instruções para Lavar a Alma. Em 2017 lança, em parceria com músicos e compositores, o álbum Lavar a Alma, que reúne 13 de seus poemas musicados. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

Share
Published by
Clara Baccarin

Recent Posts

Precisa de uma sala de jogos e está com orçamento limitado? Aqui estão 9 ideias para criar uma experiência imersiva

Encontre uma área divertida e relaxante na sua casa para transformá-la! Aprenda como seu estilo…

1 semana ago

O que você precisa saber sobre jogos de cassino on-line agora mesmo

Os jogos de cassino on-line cresceram muito nos últimos anos, e não é de se…

4 semanas ago

Realidade virtual e aumentada: o futuro da imersão de iGaming

Nos últimos anos, a indústria de iGaming (jogos de apostas online) passou por transformações significativas,…

2 meses ago

A compulsão por jogos sob a perspectiva da epigenética e da constelação familiar

Utilizando terapias para uma nova abordagem ao problema A compulsão por jogos cresce na sociedade…

2 meses ago

As melhores estratégias para jogar em cassinos ao vivo

Agora, a indústria de jogos de azar online está crescendo, o que não é surpreendente,…

3 meses ago

Três jogos de cassino populares que tiveram seu início na televisão

Muitos dos jogos de cassino mais famosos existem há séculos, como o Blackjack e a…

4 meses ago