Eu até poderia te ligar agora, como tantas vezes te liguei e depois me arrependi, pra te lembrar do calor dos meus braços, do vinho a beira mar, dos filmes no sofá da minha casa, do cafuné no chão da tua sala, dos nossos pés gelados por fora do edredom, das músicas que você errava o refrão, dos tantos livros que esqueci no banco do carro, da minha companhia nos lugares que só você conhecia e eu nem gostava tanto, do teu cotovelo batendo na minha cabeça quando você tentava me fazer algum carinho, do teu celular vibrando, eu insinuando que alguém estava quase te roubando de mim e você sorrindo me chamando de bobo.
Eu te dizendo que preciso levantar da cama porque tenho aula e o professor não tolera atrasos, e você me puxando pra ficar mais um pouco, e eu me cedendo por você, e você perguntando se eu prefiro ovo mexido ou mal passado, eu te respondendo – enquanto calço o sapato – que tanto faz porque ver você de samba canção e com o cabelo embaraçado no fogão era engraçado e ao mesmo tempo me fazia um bem danado. Você com aquela mania de olhar o Facebook enquanto come.
A gente puxa um assunto sobre a novela e no fim marcamos um viagem no próximo final de semana, eu digo que preciso ir, você me encara como se dissesse pra ficar mas eu não posso. Você me prometeu que voltaríamos a nos falar, lembra? Daí, você me acostumou ao teu cheiro, teu beijo, teu corpo, me escancarou a vida e me deixou assim, totalmente despreparado pruma hora dessas que você resolve partir.
Eu deveria te mostrar aquelas fotos da nossa última viagem e te chamar atenção pro tamanho do seu sorriso ao meu lado, deveria te pedir pra olhar as nossas conversas de dois meses atrás, onde a gente se tolerava e se resolvia. Cê disse que tinha adorado aquela nossa saída porque eu te fazia mais feliz do que qualquer outra pessoa já tinha te feito. Você disse que eu estava levando tudo a sério demais e tudo que você queria era me conhecer. Me conheceu. Eu não tive medo de te dizer os meus defeitos e falar sobre o quanto fui idiota nas minhas relações anteriores. Você disse que estava em um outro momento e mesmo que gostasse de mim não era o suficiente pra ficar. Foi difícil te entender.
Você disse que precisava conversar e começou com um: ”Eu até gosto de você, mas o problema é comigo”. Me falou que a gente já estava indo longe demais e que não queria me enganar, não queria que eu tivesse tantas expectativas. ”É melhor pararmos por aqui” foi a resposta que você me deu quando perguntei o que tinha acontecido. Você me deu mil e uma desculpas pra não ser minha.
Disse que não queria se envolver só depois que eu já estava envolvido. Eu te disse que a gente poderia tentar, não custava tentar. A gente já se dava tão bem, parecia tudo tão certo. Te pedi pra conversar, implorei pra te ver. Mas a última conversa que tivemos foi por mensagem, terminou com um: ”fica bem”. E doeu, pra caralho.
Fiquei péssimo, mas passou. Te superei e aceitei que se não foi com você, um dia, será com alguém. Depois do dia que você se foi, a tua ausência me ensinou um bocado. Eu achava que os amores verdadeiros eram apenas aqueles que permaneciam ao nosso lado, mas me dei conta que os amores sinceros também são aqueles que permanecem dentro da gente mesmo depois de terem ido.
Que existem pessoas que entram na nossa vida e bagunçam tudo ao irem embora, e existem pessoas que passam por nós, que nos ensinam muito mais do que achávamos saber, que somam e nos apresentam novas ideias, manias e lugares pra vida. Queria que soubesse que você faz parte da segunda fatia. É fácil sumir sem prestar socorro, aconselhar que o outro fique bem quando na verdade, você sabe que não vai ficar. Difícil é olhar nos olhos. De todas as lições que aprendi com tudo isso, a última e não menos importante, é que eu jamais seria capaz de dar adeus pra alguém sem nem olhar nos olhos dela.
Autor: Iandê Albuquerque
*Texto publicado com a autorização do autor.
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