Todo mundo que já levou um fora e procurou a solução para sua angústia nos amigos, no Google ou na mesa do bar sabe do que estamos falando. Você pergunta qual é o remédio para o sofrimento, o vazio, o desespero de ter sido deixado por um amor. E a voz do povo garante que o melhor antídoto é dar um trato no visual, sair por aí, conhecer gente e, finalmente, se apaixonar de novo. A fila anda, afinal. Dizendo assim até parece fácil.
Embora os cientistas ainda não tenham encontrado uma solução efetiva para o mal que acomete um coração partido, já mapearam o que acontece na nossa cabeça e no nosso corpo quando um relacionamento termina. Psicólogos e neurocientistas concordam que a recuperação de um coração partido tem duas fases: primeiro, vem o protesto. Ao ouvir dele ou dela que tudo acabou, você não vai acreditar, vai mandar flores, vai acessar o perfil no Facebook uma vez por segundo, vai insistir e se humilhar para que a pessoa volte.
Há quem chame isso de chilique, mas no livro Uma Teoria Geral do Amor, os psiquiatras Thomas Lewis, Fari Amini e Richard Lannon afirmam que o protesto é um mecanismo de defesa dos mamíferos que vivem em grupos, acionado quando qualquer laço afetivo é rompido. Você já viu o que acontece quando um filhote de cachorro é separado da mãe? Ele se debate, tenta subir pelas paredes, late, chora. Tal comportamento estaria associado à elevada produção de dopamina e norepinefrina, dois neurotransmissores que deixam o indivíduo alerta e o estimulam a procurar ajuda – afinal, em termos evolutivos, não era bom ficar sozinho na selva, sem ajuda para conseguir alimento ou para se defender de ameaças.
Nos humanos, esses dois hormônios ficam em alta quando você está apaixonado e causam aquela euforia que só se acalma quando a pessoa está ao lado – é como uma droga mesmo. Quando levamos um fora no auge da paixão, esses hormônios são os culpados por uma crise de abstinência e por esse inconformismo. Os níveis de cortisol, hormônio produzido quando passamos por situações de estresse agudo, também vão aumentar, prolongando a vigília – é por isso que, após um rompimento, você é capaz de passar a noite fitando o teto.
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A fase de protesto não dura para sempre – se você está perdido na floresta e sua mãe desapareceu, não parece muito inteligente continuar berrando e chamando a atenção de predadores. Pelo menos, essa é a hipótese dos autores do livro. Depois de um tempo, começa a fase do desânimo. O mau humor dá lugar à letargia, porque a dopamina diminuirá a produção de serotonina, que em desequilíbrio está associada à depressão. Assim como você, os filhotes isolados também não sentem vontade de comer nem de interagir e, caso alguém queira brincar, não dão a menor bola. O cortisol continuará agindo e sua imunidade vai cair. Ou seja, você ainda corre o risco de adoecer e achar que vai morrer.
Claro que é bem mais provável que você sobreviva. Quando o equilíbrio químico se restabelecer no seu cérebro, você será capaz de olhar para o lado de novo. Mas mesmo que tenha saído com outras pessoas na fase deprê, as drogas da paixão – dopamina e norepinefrina – tendem a manter seu vício no ex. O hormônio envolvido no desejo é outro – a testosterona – que não interfere nesse jogo. Só se essa transa fosse fenomenal (o que é mais difícil quando você está na fossa), novos hormônios, como a ocitocina, poderiam te levar a se apaixonar de novo e logo. É o que explica a antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutgers, nos EUA, e autora do livro Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love.
É difícil prever quanto tempo levará para você se recuperar do tombo, pois aí contam o seu histórico de relacionamentos, a imagem que você tem de si etc. O que se sabe é que a recuperação costuma ser mais ligeira do que a gente imagina. Segundo um estudo da Universidade Northwestern, nos EUA, que acompanhou jovens após romperem namoros de 14 meses, o tempo médio até estarem prontos a flertar de novo era de 10 semanas – metade do que os voluntários previram na fase de sofrimento.
O jeito então é esperar? Analisando 105 pessoas que romperam casamentos longos, por 9 meses, psicólogos da Universidade do Arizona descobriram que quem demonstrou mais autocompaixão – ou melhor, não se culpa pelo fim – se recuperou melhor. Outros fatores como autoestima, facilidade para se relacionar ou otimismo não foram tão importantes. A conclusão? Ser resiliente, não achar que fracassou como pessoa e entender que o fora faz parte da experiência humana é a melhor solução para sair logo dessa – e não sair pegando geral.
Outros conselhos amorosos ruins:
Não se preocupe, ele vai voltar
Taí outro conselho-atraso de vida. Entender que o fim é definitivo também ajuda a fazer a fila andar mais rápido. Mas aí você vai precisar da colaboração do seu ex – ou do seu amor não correspondido. Pesquisadores da Universidade de Waterloo, no Canadá, e da Universidade de Duke, nos EUA, fizeram um experimento em que voluntários liam um texto sobre a diminuição dos limites de velocidade para aumentar a segurança da população. A uma parte do grupo, foi informado que a lei certamente entraria em vigor.
A outra turma, afirmaram que havia uma pequena chance de ser derrubada. Em um debate, aqueles que achavam que a regra inevitavelmente entraria em vigor foram seus maiores defensores. Já os outros colocaram em dúvida a eficiência da nova medida. Fazendo uma analogia com o fim das relações amorosas, a psicóloga Kristin Laurin, líder do estudo, defende que, se a pessoa diz não, é coerente e não dá sinais de que reatará o relacionamento, o rejeitado não vai reagir tanto em oposição a ela e se recuperará mais rapidamente.
Muito complicado? Helen Fisher diz: “O mecanismo primordial do cérebro para o amor pode ser acionado em qualquer idade, e homens e mulheres estão vivendo mais. Quer dizer, a humanidade está ganhando tempo para amar”. Se o tempo é o melhor remédio, estamos no caminho.
Ninguém morre de amor
Morre sim. E não estamos falando de Romeu e Julieta, que se matam porque não podem viver juntos. Em artigo publicado em 2011, pesquisadores de Harvard analisaram durante 5 anos dados de pacientes que sofreram ataque cardíaco. Descobriram que a morte do companheiro ou de uma pessoa querida aumenta em 21 vezes o risco de infarto do miocárdio nos 6 meses subsequentes, pois os hormônios liberados com o estresse acelerariam a pressão sanguínea, a frequência cardíaca e a formação de coágulos. Para os cientistas, a rejeição amorosa teria efeito parecido – afinal, provoca reações químicas no corpo semelhantes àquelas desencadeadas pelo luto.
É tudo psicológico
Não se trata apenas da letra daquele samba na voz da Beth Carvalho. Em 2010, pesquisadores da Universidade de Colúmbia usaram um equipamento de ressonância magnética para examinar o cérebro de 40 voluntários que estavam sofrendo por desilusão amorosa. Os participantes tinham que dizer qual a intensidade da dor que sentiam quando os pesquisadores lhes mostravam a foto de um ex e a de um amigo.
Tinham também que classificar sua dor em relação a estímulos físicos: seguravam um copo de café quente e, na sequência, uma sonda de temperatura amena era encostada em sua pele. Edward Smith, o psicólogo que coordenou o experimento, constatou que a dor provocada pela queimadura do copo de café e a dor provocada pela foto do ex tinham o mesmo nível de intensidade.
Além disso, a ressonância magnética mostrou a ativação dos mesmos circuitos neurais quando os participantes olhavam a foto do ex-amor e quando sua mão era queimada. Ou seja, ao que tudo indica, a famosa dor de amor pode, sim, ser física.
(Autor: Ana Paula Severiano)
(Fonte: https://super.abril.com.br/)
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