Felizmente existe uma grande divulgação das síndromes e transtornos que podem assolar nossa psicologia em nosso mundo cada vez mais pós-moderno. No entanto, uma das mais perigosas síndromes passa despercebida dos grandes fóruns de psiquiatria. Eu a denomino “Síndrome do Prefácio” e seus sintomas são bem conhecidos.
Quando e quando. Nunca o aqui ou o agora!
O futuro x o presente
Penso muito nesta síndrome que a muitos acomete de forma inconsciente quase sub-reptícia tendo em vista a cumplicidade coletiva dos grupos sociais e das grandes instituições.
A síndrome do prefácio preconiza que sua vida ainda está para começar. Tudo o que você viveu e vive até agora é apenas o prefácio da grande saga que ainda irá escrever.Assim posterga suas mais importantes decisões, menospreza seus melhores feitos, ignora seus melhores amigos e subestima suas relações afetivas mais significativas.
Afinal esse namoro é apenas um passatempo! Esse emprego é temporário, essa amizade é passageira, esse romance é efêmero. O melhor ainda está ainda por vir!
Essa síndrome paralisa a capacidade de aproveitar o momento e degustar os aspectos mais proeminentes do aqui e do agora. Faz com que cada um viva o amargor diário da frustração de intuir que do outro lado a grama é sempre mais verde! E quanto mais distante estiver de si esse “outro lado” — seja no tempo ou no espaço — o verdor desse simbólico gramado será muito mais perfeito e pleno.
Querer ou não querer?
É em parte devido à essa síndrome do prefácio que as pessoas dirigem seus carros, completamente desesperados pelas avenidas ou rodovias do fim de semana com pressa de chegar a esse “outro lado”.
Seja para disputar uma mesa no happy hour do bar da moda seja para usar a espreguiçadeira compartilhada na casa de praia comprada em consórcio. O melhor está além. Sempre além. Seja o além das minhas posses. Seja o além de minhas possibilidades. Questões que podem ser resolvidas numa equação simples de investimento x oportunidade
Se estou na plateia quereria o primeiro balcão. Se estou em Canavieiras almejaria Joaquina. Não. Não é o velho dilema do copo meio cheio ou meio vazio. Ou da ave na mão comparada àquelas duas voando no céu inalcançável. É o dilema entre o real e o imaginado. O que no fundo é uma grande bobagem porque o imaginado sempre supera o real— pelo menos nessa perspectiva tão rasteira. Não é trocar o copo meio cheio pelo meio vazio. É trocar um copo cheio real por outro copo também cheio — porém — imaginado.
Especiaria perigosa
Não tenho nada contra a essa mola propulsora que nos faz querer sempre mais. O que me perturba na ambição em seu papel da pimenta que estraga o prato da vida, tornando-a intragável — Não é a ambição em si — mas seu excesso que amortece o sabor das pitadas necessárias para deixar a vida mais viva.
Mas é essa fome que nunca cessa; é esse vazio que nunca se preenche.E, no entanto, a vida é no fundo a própria jornada e não o almejado ponto de chegada.
Que tal reduzir a velocidade na sua a ida à praia e aproveitar o passeio? Porque o melhor instante é o agora e o melhor lugar é o aqui. Só dessa forma conseguiremos construir uma sucessão temporal de “aquis e agoras” num crescendo em qualidade e intensidade que transforme a aventura de viver numa experiência memorável.
(Fonte:raizesjornalismocultural)
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Œtima matéria e muito oportuna!
Balela, sei muito bem o que me faz feliz.