Não há como escapar das “loucuras” do final de ano. Pequenas ou exageradas. Pessoas instáveis emocionalmente tendem, em mudanças, vivenciar angústias de diversas maneiras. Ansiedade, estresse, depressão, compulsão… São alguns sintomas que variam de acordo com cada sujeito.
Generalizar é perigoso. Mas também é uma das loucuras listadas aqui. Ao menos de minha parte. Evito ao máximo fazer isso, mas, como estamos no final de 2020 (nem Freud explica este ano), me permito cometê-la em dosagem – sem tarja – controlada. A generalização faz parte, talvez, do grupo de sintomas da Síndrome do Ano Novo.
Certa vez, numa das edições da revista Psique Ciência & Vida, no qual sou colaborador, li uma entrevista interessante com a psicanalista Lea Waidergorn. O texto dizia que no consultório psicanalítico, neste período, predominam frases como: “Odeio festas”, “não gosto do final de ano”, “muita gente na rua comprando”, “isso me irrita”. E desde a leitura, há alguns anos vivencio na prática este mal-estar dos pacientes que manifestam repulsa pelas festas.
Alguns até fazem da reunião familiar um suplício. Entre os psicanalistas, o que mais ocorre é uma piada antiga: “Festas de fim de ano equivalem ao Seminário 10 de Lacan (Angústia)”.
E aos 45 do segundo tempo, na véspera, nos deparamos com o peso de nossa própria consciência que insiste na retrospectiva moral, financeira e possíveis conjecturas. O popular “balanço” do que foi o ano. Automaticamente propomos metas que não serão cumpridas no próximo. Isso, por culparmos os outros por nossas próprias falhas e/ou fraquezas. Se não consegui foi por causa de fulano ou de alguma circunstância ou falta de condições… Nunca a culpa do próprio martírio é nosso. Sempre o outro é o vilão da história.
Mas, para cada coisa, cada sintoma da Síndrome do Ano Novo, tem um jeito. Único. Conviver, da melhor forma possível com a manifestação da loucura acumulada durante o ano. Viver é conviver com isso para, então, experimentar, mesmo com o desconforto inicial, a novidade.
Não se preocupe. A gente se acostuma. E até o final do próximo ano muita coisa, boa ou ruim, vai acontecer e aparecer no momento exato do salto no trampolim com 365 metros de altura.
Supere. É tempo de viver o novo!
*Roney Moraes escreveu este texto em 2016, então precisei fazer algumas adaptações relativas as datas. Infelizmente nosso colunista e amigo faleceu, deixamos essa homenagem para ele no final de mais um ano.
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