Todo aquele que foi criado sem amor, tem sempre maior dificuldade em ser ele próprio. Pode parecer estranho afirmar isto, mas a verdade é que a falta de amor na infância cria um adulto com muita dificuldade em fazer valer as suas opiniões e em sentir-se seguro dele próprio.
Sem amor, não existe uma educação com respeito senão através do medo. Sem respeito por si mesmo, existe apenas um adulto com a vontade de cumprir obrigações e deveres para ser aceite entre os outros e poder ter a sensação de que está a conseguir sobreviver num mundo que lhe exige demasiado e lhe dá muito pouco.
A falta de amor faz com que se cresça com uma falta de respeito e confiança em si mesmo. Isto vai ditar atitudes de sobrevivência e desrespeito em demasia. Tais atitudes vão gerar frustração, insegurança e sofrimento, porque ninguém que não se respeite consegue sentir-se seguro e confiante.
Uma educação sem amor é uma educação sem liberdade. Quem educa sem amor, cria adultos sem a capacidade de acreditar neles mesmos. Muitos adquirem comportamentos de agressividade e necessidade de poder apenas para esconder toda a sua insegurança e falta de amor-próprio. Aliás, a ânsia de poder é uma das formas mais óbvias de colmatar a falta de amor.
Existe uma diferença entre serem supridas todas as necessidades da criança e haver amor na criação. Pais que não se amem a si mesmos, não vão conseguir amar os seus filhos. Aquilo que sentem por eles é acima do que alguma vez sentiram por alguém, mas mesmo assim, nas alturas mais difíceis, perdura um amor egoísta, o que quer dizer que não é amor, mas uma necessidade, um precisar de se sentir amando pelos filhos e de ver serem realizadas as suas expectativas em relação a eles.
Não me julguem pelo que digo, mas a verdade é mesmo esta. Só podemos dar quem somos. Se não nos amarmos, não vamos conseguir amar ninguém. Vamos de alguma forma precisar do que nos dão e fazem sentir.
Muitos pais julgam que amar um filho é querer o melhor para ele. O problema é que muitas vezes esse melhor esconde apenas a sua própria vontade e não a escolha dos filhos.
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Amar um filho é libertá-lo e permitir-lhe de escolher muitas vezes aquilo que não queremos para eles. A concepção de vida dos filhos é quase sempre diferente da dos pais. Têm a sua própria sensibilidade e aspiram viver coisas muito próprias a si e aos seus sonhos. A contestação que possam fazer diante da resistência dos pais é muitas vezes vista por estes como personalidade rebelde, do contra, fruto de irresponsabilidade.
O segredo é perguntar aos filhos o que querem, escutá-los, atendê-los, fazê-los saber que, independentemente de não concordarmos com as suas escolhas, estaremos presentes para quando precisarem de nós enquanto pais e amigos. Muitos pais não sabem e têm medo de ser amigos dos seus filhos. O receio de que os filhos percebam as suas supostas fraquezas faz assumir papéis de duros e inflexíveis que criam distância e decepção nas crianças e adolescentes.
A boa notícia é que os pais podem mudar no amor pelos seus filhos através do respeito por si mesmos. Não é fácil, porque muitos pais justificam-se a si próprios diante da sua ideia de estar a fazer o melhor que sabem. A verdade é que esta desculpa é uma forma fácil de lavar as mãos diante dos maus resultados, ou seja, dos filhos descambarem em relação àquilo que eles esperavam deles.
À medida que os pais vão crescendo no respeito por si mesmos, melhores pais se podem tornar. A ideia de que é tarde demais para mudar é uma perfeita estupidez. Conheço pais que deixaram de sentir um amor egoísta pelos filhos e aprenderam a amá-los em liberdade e confiança. A questão é até onde os pais estão dispostos a ir pelo respeito a si mesmos e, consequentemente, aos seus filhos.
Não é fácil mudar de atitude e ver tudo de forma diferente. No entanto, é fundamental que nos respeitemos enquanto pessoas para podermos ser melhores pais para com os nossos filhos. Não há outro caminho. Não existe outra forma.
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