Quando os planos da maternidade começam as mulheres, e no melhor dos casos os casais (seja qual for a composição do casal), começam a pensar em todas as responsabilidades, fazem planos, estudam mudanças corporais, se estruturam financeiramente, decidem parto, escolhem médico e decoração.
Mas uma pergunta que, por vezes, negligenciamos diz respeito ä nossa – mulheres – identidade. Quando embarcamos na maternidade, é preciso “abandonar” a nossa identidade para assumir a identidade “mãe”?
Essa pergunta me acompanhou durante um jantar na casa de amigos, durante meu café da manhã no dia seguinte e, se eu for mesmo ser sincera, durante os últimos meses. Após ter lido sobre depressão pós parto e o medo da perda da identidade e espaço social por parte das mulheres que escolhem ser mães, e sendo eu uma delas, foi impossível ignorar o assunto. Afinal, o papel que se perde é escolha das protagonistas dessa história ou uma imposição social?
Meu objetivo com esse texto não é dicotomizar opiniões e nem tampouco imprimir um perfil “certo” ou “errado” de ser mãe. Minha necessidade de diálogo parte da vontade de trazer para o consciente o quanto sofremos de influências em um perfil valorizado de maternidade pela nossa comunidade.
Na medida em que conversamos sobre isso, acho que começamos a flertar com as nossas possibilidades e nos dar o direito ao prazer.
Olhando para tantas mulheres ao meu redor que escolheram ser mães, identifico várias versões: As que escolheram abandonar suas carreiras, aquelas que as preservaram, as que decidiram ser mães solteiras, outras que estão em parceria e muitas que começaram em parceria e continuaram “solo”.
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Enquanto falamos de escolhas eu me sinto confortável, mas o que me trouxe para a escrita foi o desconforto do que não está no hall de escolhas possíveis. Explico: Sinto que ao nos tornarmos mães, nossas comunidades fazem de nós seres sagrados e imaculados. Segundo certos padrões, “mães” são aqueles seres que não bebem bebidas alcoólicas ou se encontram com amigas no bar.
Mães não se descabelam no show de qualquer coisa que decidiram ir, flertam no bar com um cara quando solteiras ou tem uma noite de prazer maravilhosa. Mães não têm tempo para nada: Não conseguem assistir filme, não conseguem se arrumar, não passeiam sozinhas ou tomam café da tarde na padaria preferida enquanto leem. Qual parceria falta para que na maternidade haja espaço para isso?
Já ouvi várias vezes que há uma “chave” que muda todas as suas prioridades e acredito nisso. Há um amor que surge na maternidade maior do que qualquer explicação possa ser possível. Mas eu vi/vejo mulheres odiarem a maternidade, sofrerem em silêncio com a depressão pós parto, rejeitarem os filhos e se arrependerem porque abandonaram “quem eram”. Quem escolheu isso por nós?
Não subestimo e acredito que haja algo divino na possibilidade de trazer ao mundo um novo ser. Do seu corpo inteiro se alterar para atender as necessidades de sua fertilidade. Somos nós, mulheres, que vivemos oscilações hormonais e sangramos todo mês para manter a continuidade da espécie no seu curso. Há algo de divino em ser tomada por um amor profundo, e o desconhecido de parir. Há algo de divino em parir.
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Mas não podemos negar que coisas que não queremos que mudem acabam mudando. Quantas de nós tentou retomar a carreira depois da licença maternidade (no tempo que nós decidimos que atendia melhor as nossas necessidades e de nossos filhos) e teve muita dificuldade?
Quantos relacionamentos não acabaram porque não tínhamos tempo de investir no nosso prazer com o outro e/ou o outro também não entendia as pressões que vivíamos? E mais ainda: O outro podia ir! Nós tínhamos que ficar. Quanto da nossa auto estima não abrimos mão?
Hoje consigo encontrar mulheres que se fizeram essas perguntas e, tornando-se conscientes de todas essas questões, agiram. Poderia citar tantas inspirações (vocês receberão mensagens de admiração e entenderão).
São mulheres que vão abrindo caminho para pensarmos novas maternidades. Um lugar de amor, de dedicação, de divino, mas apenas um dos papéis assumidos pelo nosso “eu”, pela nossa identidade. Outras escolheram a maternidade como eixo central de suas vidas e são felizes com essa escolha.
Há tantas questões para serem exploradas ainda nessa conversa. Há um equilíbrio tênue entre não negligenciar as necessidades dessa vida que surge de nós e mantermos nossa identidade.
Quando falo sobre termos espaço para assumirmos nossas identidades, não estou falando de não nos responsabilizarmos por um bebê. Estou falando sobre termos escolhas, termos rede de apoio, podermos transitar em outros papéis.
Há ainda a pergunta: “Quanto de responsabilidade projetamos em nossos filhos quando dizemos ä eles e ao mundo que largamos tudo por eles e que eles são nossa vida?”. Mais: “Nossa vida são outras vidas que terão suas vidas e irão embora?”.
O que acontece então quando nossos filhos vão embora? Será que estamos deixando que eles amadureçam e vão embora?
É possível uma maternidade em que eu preservo meus prazeres, minha identidade e as delícias de ser quem sou?
Via nosso site parceiro Pais que Educam
Autor: Pamela Greco
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