“Agora que faço eu da vida sem você
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar” (Fernando Mendes)
O luto é um processo psicoemocional que todo ser humano vivencia quando passa por uma perda significativa. Num processo de divórcio haverá múltiplas perdas pela ruptura do vínculo e um período para o luto será necessário. Não tente evitar, é necessário vivê-lo!
Um casal não acorda pela manhã com a descoberta de que deseja se separar. Isso é um processo. Quem passa por essa experiência se submete a um recolhimento reflexivo aflitivo porque, muitas vezes, não consegue assimilar facilmente a realidade de seus sentimentos.
Quando um casal decide pela separação, ambos vivenciam diversos tipos de perdas, sendo que a mais frequente é a perda da expectativa que se criou em relação àquele casamento. A pessoa vivenciará um luto existencial, um luto pela convivência que não deu certo, e até mesmo um luto pelo investimento afetivo que não vingou.
Uma separação conjugal não é uma tarefa fácil. Contudo, há um momento em que a angústia de permanecer naquela união é maior que a angústia de rompê-la.
Finalizar um relacionamento envolve uma carga significativa de sentimentos e sensações. As pessoas se unem com a esperança de que o “para sempre” seja uma realidade. Por isso, o sentimento de frustração é muito comum. Quando há filhos a angústia é maior.
Muitas pessoas se sentem culpadas pela escolha feita. Segundo Viorst (2005), a elaboração de um processo de luto decorrente do término do casamento pode ser mais difícil porque a pessoa enlutada lamenta a perda de alguém que está vivo. Embora o casamento não exista mais, os ex-parceiros continuam vivos.
A autora faz menção a mulheres que preferiam ter ficado viúvas a se divorciarem, pois a morte não provocaria discussões sobre filhos e propriedades nem sentimentos de fracasso e de ciúme (apud Rangel, 2008).
Num processo de separação há várias perdas: a perda da convivência cotidiana com a pessoa com quem se escolheu dividir a vida, dos amigos em comum e/ou do contato mais próximo com familiares do ex-cônjuge. Infelizmente, o divórcio representa, para algumas pessoas, a ruptura com grande parte da sua rede social. Cada pessoa à sua forma e no seu tempo, vivenciará a dor dessas perdas.
Passado o impacto inicial da separação, e após a pessoa ter se permitido entrar em contato com seus sentimentos e expressá-los, começa-se lentamente a compreender a realidade da perda. À medida que o processo de luto é feito, o vazio deixado começa a ser preenchido por outros sentimentos e pensamentos. Quando a pessoa entra na fase da compreensão ela se torna capaz de elaborar novos planos, novos sonhos e até mesmo de agregar novas amizades.
No entanto, caso a pessoa não esteja conseguindo suportar a dor e a angústia causadas pela separação, quando há prejuízos em seu trabalho, no relacionamento familiar e/ou no convívio social, há a necessidade de se buscar ajuda de um profissional, para que a pessoa possa apreender que as perdas fazem parte de nossas vidas, são experiências desestruturantes que exigem tempo e paciência para serem assimiladas e compreendidas.
Somente a partir dessa compreensão um novo contexto de vida poderá se apresentar e a pessoa enfim, poderá vislumbrar um novo modelo de felicidade.
Referências:
Glashan, R. Separação conjugal é como um luto. Regina Glashan – Terapeuta de Bebês e Família [online]. 26 set. 2017. Disponível em: http://terapeutadebebes.com/separacao-conjugal-e-como-um-luto/
Jacobucci, A.N.P. Luto e Perdas num processo de Separação Conjugal. Revista Adriana Chiari. Disponível em: https://issuu.com/adrianachiarimagazine/docs/revista_adriana_chiari_-_edi__o_13_/34?fbclid=IwAR3wwYTuEfF0ZCVTzsfzBRg_LXBpaiJgINSG_UWThwKzKHcD9cNOXXUWQmU
Lima, C. A dor de quem decide pela separação. Personare [online]. 14 set. 2016. Disponível em: https://www.personare.com.br/a-dor-de-quem-decide-pela-separacao-2-m622
Rangel, V.G.S. O Término do Casamento: o luto feminino decorrente da separação. 2008. 112 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Universidade Católica de Pernambuco. Disponível em: http://tede2.unicap.br:8080/bitstream/tede/108/1/dissertacao_vanessa_gerosa.pdf
Salvador, L. O Luto de Uma Separação. Psicóloga Luciana Salvador [online]. 14 mai. 2016. Disponível em: https://www.psicologalucianasalvador.com/single-post/2016/05/13/O-Luto-de-Uma-Separação-1
Viorst, J. Perdas Necessárias. São Paulo: Melhoramentos, 2005.
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