Hoje já dispomos de estudos e dados suficientes para sabermos que as pessoas que planejam adequadamente o final de suas vidas passam menos tempo em hospitais, submetem-se a menos tratamentos agressivos ou invasivos e têm qualidade de vida muito melhor, além de proporcionarem maior tranquilidade aos seus familiares nesses momentos delicados.
Apesar disso, apenas uma pequena percentagem das pessoas pensa nisso com seriedade e determina seus desejos de forma oficial, através de documentos legais ou pelo menos expressando claramente seus desejos aos familiares. A verdade é que estamos tremendamente despreparados para nosso inevitável final (e me incluo nesse barco).
Há alguns dias o site beliefnet.com publicou um texto que revela os seis principais erros que cometemos ao planejar nossos momentos finais. Os erros não só orientam os procedimentos mais eficazes para um bom planejamento, como também nos alertam para o quanto estamos despreparados, nos fazendo pensar no que (e quem) realmente tem valor em nossas vidas.
1. Deixar o planejamento para mais tarde
É incrivelmente comum ouvirmos de pacientes com doenças graves que não fizeram suas diretivas antecipadas de vontade porque achavam cedo demais, ou porque ainda não estavam doentes. Mas as evidências mostram que fazer escolhas sobre o final da vida durante um momento de crise é muito mais difícil. Além disso, algumas preferências, como evitar a ressuscitação cardíaca, podem não ser possíveis se não forem definidas antes, pois a urgência da situação não permite conjecturar no último momento.
O melhor momento para fazer o planejamento é agora, tão cedo quanto lhe ocorrer essa ideia. Dessa forma você terá a oportunidade de fazer suas escolhas independentemente do que aconteça. Os desejos que você expressa agora podem sempre ser revistos no futuro, quando suas prioridades ou sua situação de saúde mudarem.
2. Escolher a pessoa errada para falar por você
Nomear uma pessoa para tomar decisões em seu nome no caso de você não ter condições de se expressar é um dos passos mais importantes do processo de planejamento. Mas é essencial escolher a pessoa certa para esta responsabilidade. Lembre-se de que alguns amigos e familiares poderão estar tão abalados, ou sentindo-se culpados ou imersos em outros sentimentos intensos, que não serão capazes de advogar por seus desejos.
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Você deve escolher uma pessoa na qual você confie e que seja emocionalmente forte o suficiente para suportar a pressão do sistema de saúde e da família para proteger seus desejos. Essa pessoa também deve concordar com suas decisões, ou pelo menos compreendê-las e apoiar seu direito de decidir sobre sua própria vida. Além disso, deve ser alguém com boas chances de sobreviver a você.
3. Perder-se nos detalhes
Quando iniciamos um planejamento para nosso futuro, logo fica claro que há milhões de cenários possíveis que podem acontecer no final de nossas vidas. Poderíamos levar meses para considerar cada possível circunstância e decidir o que deverá ser feito em cada uma delas, mas isto seria uma grande perda de tempo, visto que apenas umas poucas vão realmente acontecer, e ainda haverá várias que não seremos capazes de imaginar.
Em vez de perder tempo com cada detalhe a respeito do futuro, faça questões mais amplas, como “Onde eu gostaria de estar no momento da minha morte?”, ou “Com quem eu gostaria de estar?”. Começando pelo final, fica mais fácil trabalhar no planejamento e as decisões realmente importantes ficam mais evidentes. Por exemplo, se você gostaria de estar em casa no momento da sua morte, fica claro que gostaria que fossem evitadas medidas que exigissem sua hospitalização.
4. Não discutir seus planos com seu médico
Estudos revelam que apenas 25% dos americanos informam a seus médicos a respeito de seus documentos relacionados às diretivas antecipadas de vontade. Entre os brasileiros, essa percentagem provavelmente é ainda mais baixa. Dificilmente seus desejos serão cumpridos se seu médico não tiver conhecimento deles.
O ideal é agendar uma conversa a respeito disso com seu médico para discutir com ele o que seria adequado ou não. Deixar com ele uma cópia de seu documento por escrito também é uma boa maneira de prevenir problemas.
5. Não expressar seus desejos aos seus entes queridos
Embora a grande maioria de nós evite esse tipo de conversa com familiares e amigos, discutir nossos desejos com eles é a forma mais eficaz de garantir que os mesmos sejam cumpridos, e diminui significativamente o estresse e as angústias deles quando chegar sua hora de partir. Sem conhecer suas vontades, as decisões se tornam muito mais difíceis para eles, e podem gerar sentimentos de culpa, remorso e ansiedade.
O ideal é que isso seja feito com todas as pessoas que realmente importam e com as quais você tenha vínculos afetivos significativos. Se for possível conversar com todos de uma só vez, é ainda melhor, pois evita mal-entendidos e permite que dúvidas de interpretação sejam esclarecidas.
6. Não atualizar suas preferências
Nossa vida muda o tempo todo, assim como nossas condições de saúde e prioridades. Por esse motivo, é importante atualizar suas decisões periodicamente. Preconiza-se que isso seja feito a cada 5 anos enquanto você é jovem e/ou não tem qualquer doença significativa, e anualmente quando você já está mais idoso ou é portador de doença com potencial de óbito.
As evidências mostram que, se você conseguir delinear suas diretivas antecipadas de vontade e evitar esses erros comuns, sua chance de passar pelo processo de morrer de forma tranquila aumenta significativamente. O tempo que você gasta elaborando esse planejamento (e atualizando-o) será recompensado (com folga) no futuro, quando você puder passar seus últimos dias cercado de pessoas e coisas que você realmente valoriza.
(Autora: Dra. Ana Lúcia Coradazzi)
(Fonte: nofinaldocorredor)
*Texto publicado com autorização da autora.
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