Esses dias enquanto tomava uma água com gás e limão espremido em um daqueles bares que pede, implora, uma cervejinha gelada, ouvi uma amiga de uma amiga dizer, e transparecer ser uma dúvida honesta, que tinha suas confusões ao se questionar se o suposto rapaz com quem ficava realmente estava gostando dela.
Ao ouvir aquilo do outro lado da mesa – ouvido de escritor, sabe como é – , o gole da minha água com gás e limão espremido – sim, tem que ser espremido, não gosto de rodelas – contrariou a gravidade e subiu a toda velocidade, meus olhos arregalaram e imediatamente olhei para as pessoas à minha volta para ver se alguém também havia se espantado. Como alguém teria dúvidas sobre o gostar do outro?! – pensei, silenciosamente indignado.
Todos temos dúvidas, eu tenho as minhas dúvidas, de, sei lá, escolher entre Tailândia ou Nova Zelândia, se terei dinheiro ao final do ano para viajar para qualquer lugar diferente do meu quarto até a sala, se a minha próxima leitura será um livro de ficção ou de crônicas, se irei colocar meias ou não para ir à padaria, se irei, finalmente, manter a frequência na academia, mas, dúvidas sobre gostar de alguém? Sério!? Já tive dúvidas se gostaria de continuar ficando com alguém, pois, apesar dos pesares, essa pessoa era uma companhia agradável, me tratava bem e tinha um papo divertido, mas dúvidas sobre o vibrar do coração, sobre o clássico sintoma de frio na barriga? Desconheço!
Me parece que poucos sabem, mas gostar de fato de alguém e achar a pessoa legal ou uma boa companhia, são coisas muito diferentes. Gostar tem pele, tem beijo que pode durar segundos, mas, magicamente, se mantem por horas na mente. Gostar é quando o sorriso estica involuntariamente ao ouvir o nome da pessoa, mesmo que nem seja ela; só o nome já traz boas lembranças.
Quem gosta quer presença, seja na segunda-feira para tomar um café, para rir de um filme besta ou para fazer qualquer coisa, pois, o programa é sempre detalhe. Quem gosta manda mensagem surpresa durante a tarde e morre de medo de atrapalhar. Quem gosta não economiza sentimento, muito menos tempo. Quem gosta quer companhia em todos momentos, mas, muitas vezes, fica com vergonha de convidar para algo um pouco mais íntimo e o outro achar que está indo rápido demais.
Sempre quando há gostar, há demonstração de afeto, seja com palavras, atitudes ou olhares. Quem gosta não consegue conter as manifestações que o coração emana; dói e sufoca a verdade. Se a pessoa não gosta em tempo integral, desconfie, demonstrar o gostar somente quando a carência dá as caras, quando a chuva se aninha na janela do quarto ou quando restam poucas opções, é uma triste e injusta ilusão.
Eu sei, parece desolador, mas muitas vezes a gente se engana, cria ilusões para apaziguar o coração, mas a verdade é que, bem no fundo, sabemos se alguém realmente gosta da gente ou não. É explicito, é gigante, é menos matemático e argumentativo, e muito mais proativo e espontâneo. E se por uma eventualidade a pessoa abrir a boca para dizer que sente sua falta… me desculpe, mas saudade, sem um arsenal de opções e propostas para poder te ver, não é saudade. Que saudade é essa que surge somente em dias específicos? Que saudade é essa que aparece somente em momentos de carência? Que saudade é essa que sobrevive de horário marcado? A saudade surge do coração, não pela lembrança da lista de contatos.
Gostar de alguém nunca é algo que sentimos pela metade, nunca é uma dúvida que perdura por meses. No mar dos sentimentos verdadeiros não há indecisão, não há intempéries que façam aumentar a distância do toque, e não há “este final de semana está difícil…”, “é porque acabei de sair de um relacionamento…”, “tenho medo de me apegar…”, que justifique a falta de um gostar genuíno. Quando a gente gosta, evitamos ao máximo usar argumentos para distanciar a pessoa, acreditar nestas palavras é um pobre delírio de quem, infelizmente, acha que amar é somente programa para um final de semana de chuva.
(Autor: Frederico Elboni)
(Fonte: eoh)
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