Família

A saúde mental na maternidade

Eu conseguiria mensurar quantos emails eu recebo com pedidos de “socorro” diante das mais variadas angústias da maternidade, mas para ser sincera isso me assustaria. No universo em que a mulher deve ser forte e dar conta de tudo para ser admirada – em 2017 ainda estamos nessa marcha – não há saúde mental que dê conta.

O meu foco no desenvolvimento das crianças me faria contar pra você que a saúde mental da mãe é fundamental para o desenvolvimento saudável da própria criança. Durante a gravidez as ligações são físicas: hormônios de todos os tipos sendo compartilhados, a criança se alimentando do que a mãe se alimenta e do que ela vive em seu universo psíquico. Sabe o cortisol, o tal “hormônio do stress”? O bebê está absorvendo-o também. Sabe a nicotina, o álcool, a tristeza, a angústia? Pense no bebê, sem aparato nenhum, se acostumando com todos esses componentes químicos.

E aí, nesse quadro, adivinha pra onde a culpa se voltou? Para a mãe, claro! Ela tem que ser esse invólucro perfeito e desprovido de reações para que seu bebê seja completamente saudável. Como se as mulheres já não sofressem pressões demais. Esquecemos do papel do homem, do pai, para além do provedor. Aquele engajado, assumindo sua responsabilidade e garantindo na medida do possível uma condição tranquila e confortável para as tantas mudanças acontecendo no corpo e na mente da sua parceira.

Aliás, esquecemos de educar os homens para que eles soubessem que esse papel lhes cabe. Os tais “desejos” da gravidez são só um pequeníssimo mimo e cuidado necessário para que a mulher se sinta amparada e amada. Há muito mais. Esquecemos também que os homens também estão perdidos nesse “novo” papel que sabem que devem assumir. Aceito aqui que estejam perdidos quanto ao novo papel, mas acho difícil digerir que hoje ainda não saibam do seu papel real. Assumindo que o saibam e não se façam de desentendidos, como é que tudo isso acontece? Quem está lhes contando todas essas novidades? Hoje despontam blogs e homens dividindo suas experiências nesse novo mundo. Mas e seus empregos? E as regras do status social? Será que ele está amparado?

E aí temos a mulher. A grávida. A mãe. Além de santa, tem que ser fitness, tem que ser gostosa, tem que estar bem vestida, tem que trabalhar e ter uma ótima carreira, tem que educar bem, tem que levar pra passear, tem que garantir uma boa escola e tem que ser parceira na hora de assumir a responsabilidade financeira da casa (quando tem um parceiro). Naturalizamos essas demandas.

Antes de podermos tatear o assunto de “sermos pais e mães melhores” é preciso entendermos que o contexto no qual vivemos não é, ainda, tão colaborativo para essas mudanças. Há uma série de estruturas que precisamos ir vencendo para que sejamos percebidos em nossas vulnerabilidades. A vulnerabilidade de querer ser a melhor pessoa na vida do seu filho e ainda ter tantas “amarras” dos modelos nos quais você foi educado e as “amarras” de não ter o suporte necessário.

Leia Mais: Eu não sou a mãe que eu esperava ser

Como você se sente quando seu filho fica doente e você precisa faltar no trabalho? Como você se sentiu depois da licença maternidade? Na hora de voltar pro mercado de trabalho? Na reunião da escola? E pro pai deve ser tão difícil quanto no trabalho se ele quiser assumir seu papel real, já que o exigido dele é que ele seja o provedor, apenas.

E aí ainda o tal do Pais que Educam vem dizer para você sobre o desenvolvimento do meu filho e suas necessidades? Veja bem, Pamela, você só pode estar delirante.

Calma, eu me explico. Eu quero é que a gente perceba a nossa humanidade, nossas necessidades e limitações. Eu quero te trazer aqui comigo para pensar nesse caos – produtivo/espaço de criação – das novas possibilidades em que vivemos. Se não abrirmos os olhos para essas expectativas e demandas, acabamos nos sufocando e não procurando ajuda.

É preciso ter um olhar mais atento com a maternidade e paternidade. Há um homem e/ou uma mulher por trás dos cuidados de toda criança. E como eles estão? Quais são suas lutas, suas dificuldades? Quais são as redes de amparo que te sustentam?

Meu desejo é que possamos assumir o que é direito nosso!

(Autora: Pamela Greco)

(Fonte: paisqueeducam)

*Texto reproduzido com autorização do site parceiro.

Fãs da Psicanálise

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