Comportamento

Rejeição: a dor mais intensa e profunda

Desde a mais tenra idade, o sofrimento emocional vez ou outra nos (re) visita. As dores emocionais mais comuns são: a rejeição, decepções, frustrações, mágoas, ressentimentos, dentre outras; estas experiências fazem parte da condição de todo ser humano, sendo a meu ver a rejeição a dor mais intensa e profunda.

A dor emocional é um mecanismo de defesa, é um processo natural para o fortalecimento da própria resiliência. Quando o padecimento nos bate à porta temos três escolhas: fugir, enfrentar ou estar no limbo, sem nada fazer e sem nada mudar. E você, tem fugido, enfrentado ou permanecido no comodismo de suas dores emocionais? Fugir e permanecer no limbo são as piores opções. O primeiro passo para sua superação é o seu enfrentamento.

Como enfrentar a dor da rejeição?

O discurso de uma paciente X diz muito sobre o processo de conscientização e enfrentamento desta dor:

“Alguma coisa quer gritar aqui dentro de mim; me sufoca, esbraveja, se revolta, se contorce. Não consigo compreender toda essa angústia. Acho que vou explodir. Existe algum remédio para essa dor”? Indagou-me a paciente sobre o processo delicado que estava vivenciando.

Naquele discurso coabitavam sentimentos dolorosos, conflitos sufocados e incontidos, a busca por um lenitivo, por uma saída, uma espécie de parto daqueles sentimentos reprimidos que vinham à luz. E onde se busca lenitivo existe dor. E no caso especifico, era a dor emocional incontida e cortante, que ultimamente se expressava também em constantes dores de cabeça e em outros pontos específicos de dor corporal, bem como em noites mal dormidas.

Isto porque estruturas cerebrais responsáveis pelo mecanismo da dor física são as mesmas estruturas envolvidas com a dor emocional, não existindo separatividade anatômica. Em outras palavras, uma dor física pode desencadear uma dor emocional e vice-versa.

Especificamente no que concerne à dor da rejeição, esta não é um processo fácil. Isto porque as feridas emocionais que ocasionaram estas dores podem ser profundas, fazendo parte da história de vida do indivíduo. Quando adultos, diante de situações de rejeição, evocamos experiencias passadas mal cicatrizadas, muitas vezes relegadas ao esquecimento através de mecanismos psíquicos de defesa, tamanha a dor.

Vale à pena salientar que algumas vezes é a percepção de rejeição que ocasiona esta ferida emocional e não a rejeição em si. A percepção do não sentir-se aceito, amado ou benquisto durante o processo de estruturação infantil pode ocasionar sentimentos de desvalorização e desamor, o que irá dificultar sobremaneira nos relacionamentos interpessoais futuros. Quando a dor não é elaborada, ela torna-se mais viva que nunca.

Leia Mais: Para psicólogo, dor da rejeição ativa mesmas áreas da dor física

Como superar a dor da rejeição?

Somente aliviar a dor não é o suficiente, mas aprofundar em seus conteúdos, em suas raízes, na matriz geradora; este trabalho nem sempre é fácil e geralmente é doloroso, mas imprescindível para a cura, respeitando sempre o limiar de dor emocional de cada um. Neste contexto, trabalham-se aspectos estruturantes da autoimagem e autoestima, bem como suas ressignificaçoes através de técnicas psicológicas específicas.

Sentimentos mal elaborados não desaparecem espontaneamente, mas buscam um meio de expressão. Uma comparação muito pertinente é quando jogamos a sujeira para debaixo do tapete. Quando a escondemos ou a negamos, a sujeira não desaparece, muito pelo contrário, se acumulará, chegando a um ponto em que não poderá mais ser contida. O mesmo acontece com o nosso corpo quando negamos, escondemos, postergamos ou não enfrentamos nossos incômodos. Esta postura dificulta o trabalho das dores emocionais pendentes. Em contrapartida, estas irão buscar meios de expressão “ilícitos” e os preferidos serão as doenças psicossomáticas, dos mecanismos de defesa do ego e do escapismo para anestesiar a dor.

Não “jogue sua dor emocional para debaixo do tapete”, pois o que você nega ou esconde cria vida e força; o que você traz à luz através do trabalho de autoconhecimento, de conscientização de suas próprias fragilidades, é o caminho seguro para uma melhor qualidade de vida, saúde, equilíbrio, harmonia, paz interior e bem estar.

Negar ou esconder a dor emocional é uma postura infantilizada, pois a criança acredita que fechando os olhos, o que ela vê deixa de existir. Deste modo, a melhor forma de enfrentar a dor da rejeição é encarando-a de frente e fortalecendo a autoestima e o amor próprio. Sinceramente, não há outro caminho.

Soraya Rodrigues

Psicóloga, escritora, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Soraya Rodrigues

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