O tempo passa para todos, de repente você se enxerga no espelho não mais como adolescente sonhador, mas como adulto conformado, seguindo a constante tarefa de existir. Existir obviamente não possui o mesmo significado.

Você sonha ainda, é claro, mas com os pés no chão.

Não corre o mesmo risco de antigamente, onde o prazo para consertar os erros cometidos era muito maior e o perdão mais fácil conquistado.

Quando vira adulto, as prioridades mudam. Encontra-se atolado de obrigações e incorporado a rótulos da sociedade. Rótulos esses que o transformam em robô com alma danificada. Passa a seguir um roteiro único, estudar, trabalhar, casar, procriar e transar de vez em quando. Passa a vida tentando acertar, ser incluído, em que, nem interessa tanto, mas que seja algo importante.

Então você começa a agradar. A quem ama, por vontade; a quem tolera, por educação; a quem não gosta, por interesse. Mas vai criando dependência. As pessoas se apoiam tanto em você, e você nelas, que a missão passa a ser não magoá-las nunca. Não haveria nada de errado com esta função, a não ser por um motivo óbvio: muitas vezes só se consegue isso à custa da sua própria felicidade. Passa a existir somente para o outro. Anula seus sentimentos e vontades, não magoa ninguém.

Mas sai ferido.

Isso nem incomoda muito, porque essa ferida já cicatrizou, e mesmo se abrir novamente, não vai doer tanto, é muito fácil conviver com ela. Já está acostumado com essa vidinha “mais ou menos”, cheia de paz, mas sem nenhum sentimento. A questão é quando o destino resolve te sacanear. Porque você esbarra com alguém que te desviará desse roteiro correto, que seguia tranquilamente.

Ah, o amor, ou pior, a paixão!

O que acontece quando depois de adulto, você se descobre amando feito adolescente, alguém que não é a sua namorada de quatro anos? Perde essa paz, ganha suspiros e uma nova vontade de viver. Não apenas existir, mas sentir. A ferida se abre de tal forma que se espalha por todo o corpo, atingindo em cheio o coração. O problema, é que você já concluiu seu próprio roteiro. Por alguns desvios, se achou no fim de sua história. É inadmissível outra pessoa chegar e mudar tudo isso.

Você, com a vida correta, que sempre lutou pra conseguir. Que absurdo, não? Seu coração ferve, sua mente flutua, ao mesmo tempo seu mundo desmorona. Você terá que reconstruir tudo de novo.

O pavor cega, o remorso atinge.

A dor de transformar outro mundo em tristeza corrói, te impedindo de agir. A vida toda quis ser correto com os outros e acaba sendo incorreto com seu próprio sentimento. Quão injusto é isso? Que mal há em buscar a real felicidade?

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Sentir medo é normal. Se não existisse o medo, não existiria a coragem, nem glórias, nem vitória. Se borboletas não voassem no estômago, não haveria fogo, nem paixão, muito menos amor. Se não houvesse risco, não haveria sentido, nem luta, nem superação. O que acontece quando se encontra o amor que sempre sonhou, e se joga fora, simplesmente porque estava fora do roteiro?

Vive infeliz.

É triste fazer alguém que se admira sofrer de verdade. Mais triste ainda é fazer essa pessoa feliz de mentira. Os casais deixam de se gostar quer você queira ou não, é regra da vida, ninguém é obrigado a amar pra sempre. Eu mesma aprendi isso a duras penas.

Não existem culpados.

Significa destino para uns, carma para outros, ou qualquer palavra inventada para dar sentido a essa coisa toda. Varia de consciência à religião. A vida é bela? Com certeza. Complicada? Ao extremo. Difícil? “Vish”, não dá nem pra mensurar.

Todos os dias no mundo inteiro alguém acorda suspirando enquanto outro morre de amor. Separação acontece constantemente, sabe o que não acontece? Um amor como o nosso. Não consegue entender quão sortudo nós somos? Esse amor só existe em livros, e a dedicatória foi entregue a nós.

Não abra mão disso.

Responda sim de uma vez. E vem, vem pra mim, deixe-me ajudar a reconstruir o teu mundo, e plantá-lo de cerejeiras. Não se contente em viver simplesmente. Simplesmente viva! Rasgue esse roteiro e vem ficar comigo.

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Publicitária por formação, aeromoça por opção e escritora por paixão. Virginiana, perfeccionista, mãe do Henri. Entre fraldas e mamadeiras, entre pousos e decolagens, entre artes e artimanhas, ela escreve. Escreve porque para ela, escrever é como respirar: indispensável à vida! É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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