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Quem precisa de limites? Questões subjetivas

Um primeiro aspecto a ser pensado é o conceito de limite na educação. O que é limite? Você consegue defini-lo? Consegue exemplificar a  falta ou excesso de limites? Para que serve o limite?

Segundo  o  dicionário  Aurélio,  limite  significa: linha  de  demarcação; divisa,  fronteira; extremo,  fim; ponto  que  não  se  deve  ultrapassar.

Ao se falar em limites, logo surge o pensamento da criança “sem limites”, aquela que em lugares públicos faz birra. Na sociedade, o que foge à linha de demarcação é considerado “sem limites”.

Poucas vezes pensamos que a criança em desenvolvimento está se adaptando a uma série de limites que são imposições sociais, que muitas vezes desrespeitam os limites fisiológicos ou emocionais da criança. Isso não quer dizer que deve-se privar a criança de aprender sobre os limites sociais, mas sim, ficar atento a capacidade de compreensão da crianças nas diferentes idades.

A teoria do desenvolvimento infantil relata que o bebê precisa sorrir aos 4 meses, repetir sons aos 5 meses, repetir sílabas aos 7 meses, andar com um ano, desfraldar aos 2 anos, (bem como largar a chupeta e a mamadeira nesta idade. Que idade difícil! Quantas perdas!!) e assim progressivamente. Mais que tudo isso, a criança deve respeitar os limites. Mas as crianças conhecem esses limites? Quem os ensina? Como o limite é aprendido pela criança?

Na atualidade, pouco são os pais que percebem os aspectos citados relacionados à idade como marcos a ficarem atentos, marcos que demonstram o desenvolvimento neurofisiológicos e psicológico do ser em desenvolvimento, mas que cada bebê possui um ritmo de crescimento, desenvolvimento e aprendizagem. Esses marcos são etapas, fases que o mesmo passará até se tornar criança, depois adolescente, jovem, adulto, idoso.

Se um bebê ou criança foge a esses marcos citados, logo os pais insistem numa estimulação “forçada” para que a criança se desenvolva “normalmente”. Isso é falta ou excesso de limites? O que uma estimulação fora ao que a criança está preparada provoca? É o contrário: o que ocorre ao impedir a criança que já está preparada para uma tarefa e é impedida de exercer? Onde está o limite ou a construção do limite nestas ações?

Esses marcos fisiológicos, sociais ou ambientais estão relacionados a construção de limites porque nos mostra o que a criança ou bebê pode fazer em cada etapa de seu desenvolvimento. Porém essa construção de limites também está associada a segurança que o bebê ou a criança sente nos pais (ou em quem a cuida) ou a conficança que os pais depositam nela, na sua capacidade de aprender e crescer e ainda mais dos pais em si próprios de serem agentes no crescimento de seus filhos. Também está relacionada ao respeito que permeia a relação afetiva dos pais entre si (com o par afetivo e consigo mesmo) e dos pais com os filhos.

O bebê ou a criança, constrói o significado do mundo através do que introjeta como significados. Se repetidamente ouve ou percebe que a mãe diz que ela, como criança é “arteira”, “ativa”, ou “bagunceira” como o pai, o avô, ou qualquer pessoa que represente segurança, entenderá que deve ser arteira, ativa e bagunceira, é o que ela deve ser. A criança responde a uma demanda do outro,  isto é, construirá as representações e o lugar que acredita possuir na família através do que ela ouve e percebe que o Outro (o familiar, o que está mais próximo), diz dela, esse dito que a representará.

É a família que a constrói  os primeiros conceitos, representações e os limites na educação da criança. Os limites são interiorizados a partir dessas representações, que possibilita a criança perceber e construir seu mundo interno e externo. Como? Através da observação, do lhe é expressado, o que é dito em palavras, em atos e o que fica também no subjetivo, no não dito, mas que é sentido e expresso de alguma forma. É importante lembrar que a criança constrói através do que observa e não somente conforme o adulto fala. A expressão dos pais, para a criança, tem mais significado que as palavras, até porque as crianças estão aprendendo o significado das palavras.

Ao nascer, durante meses o bebê acredita que permanece unido ao corpo da mãe. Muitas mães também tem a dificuldade de perceber essa separação, pois a amamentação une mãe e filho num sintonia única.

Ao diferenciar o mundo externo do interno, o próprio bebê começa a interiorizar alguns limites (corporais e emocionais) desde que o adulto possua o limite de prover esse espaço. É nessa separação que o limite e o amor é construído.

Você sabe que um bebê de 2 meses pode brincar sozinho por alguns momentos?

Esse espaço/ afastamento além de estabelecer limites auxilia a construção do respeito. Um adulto que respeita a si próprio, consegue construir limites com seus filhos?

A criança percebe o respeito do adulto por si próprio quando o próprio adulto consegue um tempo para parar, um tempo para conversar (conversar no sentido de falar e ouvir, entender o significado da vivência do momento).

E os adultos, tem se respeitado? Respeitam o momento de sono sem o celular na mão ou a tv ligada? Respeita sua alimentação? Seu momento de atividade física? De seu namoro?

Dolto (1998), ressalta que a colocação de limites, não significa simplesmente a imposição de uma série de comportamentos, mas relacionar-se com o ato de ajudar a criança a construir-se, ensinando-lhe o respeito por si mesma através do respeito dos adultos por ela.

Todos nós, enquanto seres em desenvolvimento, só podemos construir os limites educacionais das crianças se respeitarmos os nossos próprios limites.

Regras , valores, moral e ética são essenciais para viver em sociedade, mas para a construção de limites, também é essencial a sensação de respeito a si mesmo. Podemos (e fazemos várias tarefas ao mesmo tempo), mas a que custo?

A criança (e o adulto também) necessita de limites para sentir-se segura, confiante e em harmonia.

Termino perguntado ao adulto que lê: como está seus limites?

(Autor: Rachel Canteli, psicóloga, psicanalista e psicopedagoga)

(Fonte: rrclinicapsi.com.br)

 

Rachel Cantelli

Psicóloga. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Rachel Cantelli

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