Como podemos definir a mentira? Existem tipos diferentes de mentira?
Aprendemos desde pequenos que é feio mentir, ou que a mentira tem perna curta, mas será que não temos licença para usá-la?
Mesmo sendo comprovado que todas as pessoas mentem, ainda que sejam aquelas mentiras leves que não causam mal a ninguém, a mentira pode se tornar uma mania! Quando e por quê?
MENTIRA É DIZER SER VERDADE AQUILO QUE É FALSO, a fim de que haja uma indução ao erro. É o ato de deliberada e intencionalmente fazer uma declaração falsa.
Pesquisas mostram que todos mentem. Existem mentiras em todas as áreas da atividade humana: política, conjugal, religiosa, econômica. Existem diferentes tipos de mentira e, por isso, não podemos considerar todas as mentiras da mesma forma e com a mesma gravidade.
Desde crianças aprendemos que mentir é feio, que a mentira tem perna curta, ou seja, será descoberta. Mas mesmo dentro da família este é um conceito ambivalente. Quantas vezes as crianças acabam presenciando mentiras na família ou são estimuladas a mentir pelos próprios pais? Quando, não querendo atender a um telefonema indesejável, mãe ou pai, pede ao filho para dizer que não está, ou então consegue um atestado médico para a criança justificar não fazer aula de educação física, faltar às provas, fazer viagens, abonar faltas, etc.
Há crianças que têm dificuldade em enfrentar frustrações, críticas ou a repreensão e desaprovação dos pais, e acabam mentindo na tentativa de preservar sua autoimagem. Muitas vezes o resultado é bom e, além de não serem punidas, ainda ganham um reforço positivo, o que pode incentivar essa prática. Quando adultas acabam não sabendo se relacionar sem a mentira.
Quando usada de forma esporádica, é um mecanismo de defesa que visa enriquecer a autoimagem ou enaltecer talentos ou habilidades a fim de causar impressões mais positivas e favoráveis nas outras pessoas ou em si mesmo. Desse modo, serve como um falso apoio para a autoestima, uma maneira de se perceber ou se apresentar ao mundo de forma muito melhor do que de fato se acredita ser. Podemos relacionar o grau de sentimento de inferioridade de uma pessoa ao tamanho e a constância da mentira.
É contada pelo mentiroso que sabe que não está falando a verdade e mente somente para obter um benefício. Não mente o tempo todo ou em todas as áreas de sua vida. O político que durante a campanha promete inúmeras coisas que sabe que não irá cumprir é um mentiroso consciente.
Podemos dizer que é errado mentir, salvo quando, numa determinada situação, a sinceridade provocar mais danos ou mal-estar do que a mentira. É a chamada mentira social, popularmente conhecida como a mentira “branca”, aquela que fala que o vestido de noiva da amiga está lindo, quando na verdade, está só razoável.
As mentiras sociais são, geralmente, aceitas e se destinam a manter a harmonia nos relacionamentos. Em algumas ocasiões, ser transparente e absolutamente sincero geraria incompreensão e mágoa.
Neste caso, apesar do julgamento moral classificar a mentira como algo reprovável, o bom senso é um indicador de uma atitude saudável.
Mentir é um recurso fácil de utilizar, sem necessidade de passar por grandes esforços, ainda que haja o permanente risco de ser descoberto. Quando utilizada de maneira cotidiana ou com perversidade e/ou hostilidade, é chamada de mentira patológica.
Mitomania ou mania de mentir é uma tendência patológica pela mentira. Neste caso, é uma mentira compulsiva, que necessita de tratamento psicológico ou até mesmo psiquiátrico.
Um mentiroso compulsivo mente em todas as áreas de sua vida. Mente no trabalho, para os amigos, para a família, tem como hábito mentir para responder a qualquer pergunta, por mais simples que seja. Podem ser mentiras simples ou ricas em detalhes, e dizer a verdade chega a ser algo estranho e desconfortável.
Estudos dizem que vários fatores associados podem ser a causa da mitomania, como histórico de vida com relacionamentos familiares conturbados, traços de personalidade, genética e experiências estressantes. Acredita-se que a baixa autoestima, necessidade de apreço ou atenção e a tentativa de se proteger de situações constrangedoras marquem o início da mitomania. Pessoas que têm distúrbios psicológicos ou distúrbios mentais como personalidade bipolar ou depressão são mais propensas a sofrer com a mentira patológica.
Mesmo não tendo consciência total do motivo de mentir, o mitômano sempre sabe, no fundo, que o que ele diz não é totalmente verdadeiro.
Um EU fragilizado e severamente ferido, pode tentar negar a existência de um fato ou informação que ameace destruir a organização de sua autoimagem. Aí mente, faz de conta, para que todos acreditem e validem o que ele enxerga e suporta sobre si mesmo.
Podemos diferenciar a mentira interna e a externa, sendo a interna a que se conta para si próprio e a outra a destinada ao mundo lá fora.
Acreditar nas próprias mentiras é a pior delas, pois é a mentira que visa enganar a si mesmo.
Com o tempo e a convivência, é natural as pessoas reconhecerem um mitômano. Porém, mais importante do que identificar a ação repetida de mentir, é reconhecer este ato como um hábito patológico.
O diagnóstico da mitomania pode ser feito pelo médico psiquiatra ou psicoterapeuta após uma avaliação.
Os mitômanos sabem que estão sofrendo de um mal e desejam curar-se, mas raramente procuram ajuda por vontade própria. A compreensão dos companheiros ou familiares é muito importante. Se houver punição o tratamento é dificultado.
Mentirosos patológicos só podem ser curados se quiserem obter a cura. Geralmente, é muito difícil que um mentiroso patológico se comprometa com um tratamento, pois é difícil admitir que existe um problema que precisa ser curado.
É importante que o indivíduo consiga reconhecer os prejuízos que seu comportamento pode trazer para si e para terceiros e queira mudá-lo. O tratamento geralmente envolve acompanhamento psicológico e, no caso de pessoas que também apresentem outros quadros psiquiátricos (como depressão e ansiedade), o tratamento medicamentoso pode ser recomendado. Psicoterapia é um dos métodos de escolha para tratar uma pessoa que sofre de mentira patológica, pois ajuda o indivíduo a desenvolver novos repertórios, reforçando relatos verdadeiros e ignorando relatos falsos. Trabalha-se colocando o foco na visão distorcida de si mesmo.
Há muitas consequências em ser um mentiroso patológico. Devido à falta de confiança, relacionamentos e amizades tendem a ser destruídos. Se a doença continua a progredir, a mentira pode se tornar tão grave que eventualmente pode causar problemas de ordem social, psicológica e até legal. A pessoa geralmente é excluída do grupo que frequenta por vivenciar situações sem saída, passar por situações embaraçosas e perder a confiança de todos ao seu redor.
Todos nós mentimos! A mentira e a verdade têm diversas finalidades.
Apesar de a sinceridade ser uma qualidade altamente desejável, pode ser catastrófica quando mal usada ou mal administrada. Não podemos expressar tudo que pensamos, pois isso nos deixaria em situações complicadas e constrangedoras, além de dificultar os relacionamentos.
Aos poucos, as pessoas vão aprendendo os benefícios da mentira, mas é necessário perceber se ela não está se tornando um padrão de comportamento. É necessário discriminar a mentira social da que beira a desonestidade e perceber quando a mentira leve e inofensiva se transforma em mentira patológica.
Quando a sinceridade parece inviável, considerar a polidez como uma boa forma de expressar o que sentimos e pensamos parece ser uma excelente opção: quase tudo pode ser dito, quando se utiliza a cortesia, bom senso, educação e civilidade.
Finalizando, se for imprescindível mentir, é importante termos consciência das mentiras que contamos todos os dias. Dizem que as pessoas mentem de 5 a 19 vezes ao dia. Quantas vezes você já mentiu hoje?
(Fonte: http://www.psicoafins.com.br)
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