Antes eu respondia, eu me humilhava, tentava explicar o que não queriam entender. Perdia noites de sono, sentia-me culpada, adoecia a minha alma e não tinha sossego interno.
Sentia dependência, apego, necessidade de autoafirmação, por causa da maneira como me tratavam. Sentia-me rejeitada e desinteressante dentro do mundo que eu mesma criei, até perceber que poderia quebrar essa casca e essa sensação de fracasso emocional dançando no peito, pisando com mais firmeza nas feridas, nas lembranças, nas partes mais frágeis que eu possuía aqui dentro.
Despendi energia em relações naufragadas, não sabia mais de mim.
As atrações não vinham da alma, o coração já se sentia cansado e a vida dando sinais de vazio extremo.
Até que comecei a ver o que acontecia e porque atraia esse tipo de energia. Porque eu não conseguia dizer não, porque me sujeitei a coisas tão desnecessárias.
Antes eu não me enfrentava, deixava que me batessem com “luva de pelica”. Deixava-me em segundo plano, fazendo de conta que nada de tão grave acontecia.
Foi aí que comecei a sentir a doença do espírito, o estado angustiante inexplicável, os choros compulsivos e uma solidão já perceptível a olho nu.
Caí muitas vezes ao me escorar em sentimentos e coisas que já não valiam nada, até recuperar o fôlego e dizer que estava na hora de dar um basta, que estava na hora de me recuperar como pessoa, sem ser avariada o tempo todo, sem ser submetida a tratamentos de choque e resistência emocional.
Eu só quis atenção, só quis espaço para poder transitar. Quis ser livre à minha maneira, meio estranha, de me comunicar com o mundo.
Talvez eu tenha fracassado, talvez eu não tenha recebido o necessário. Tentei do meu modo, meio confuso, cheio de traumas de infância, cheio de perguntas e distanciamentos, tratar do emocional para atingir o espiritual mais lúcido e vivo.
Eu não morri e nem me acomodei. Eu enfrentei tudo, como quem enrijece o corpo para amortecer a dor, como quem recebe uma carga a mais de coisas a serem exploradas e, ao mesmo tempo, emancipadas de dentro para pisarem lá fora e extravasarem tudo o que ficou guardado no pote do tempo.
Coloquei um fim, para resgatar recomeços. Coloquei alicerces de sustentação para o tombo ser menor, para a pressa não ser tanta, para que a brisa também tocasse com mais suavidade em mim.
Antes, eu andava na sombra, com medo da própria luz. Vivia ao lado do inimigo e, mesmo assim, aprendi a perdoar o mal que ele me fez.
Que me perdoe Cazuza, mas raspas e restos não me interessam.
Estou mais segura, segurando na mão de Deus, estou mais viva e mais inteira do que antes. Estou menos tensa, menos enraizada no passado.
Antes tratada com amor, do que com desprezo. Antes sorrir com o olhar de quem se desprendeu, do que sentir o ar faltando nos pulmões.
Antes, eu me achava pouco. Hoje, eu me acho encantadora dentro da minha displicência e do meu jeito, por vezes, quase infantil.
Não importa o que digam. Eu me ouço, eu me humanizo e me abraço quando me encontro.
Aprendi a fazer festa para mim.
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Acho estranho fazer citação do que é ilustre, poeticamente incomparável. Chega a ser até injusto! Já tendo partido para brilhar noutro canto deste vasto infinito, chamado, "vida".
Quem se apropria do que é ilustre, deveria faze-lo para enaltecer, enfeitar sua fala, idéia, opinião! Contestar o que é incontestável, não tem perdão! Eu não concedo. Pois, Cazuza, não estando aqui mais para auto defesa, faço eu a ressalva!
A poética de Cazuza é incontestável, não permitindo arranjo, improviso, para auto ilustrar existência que seja, que sequer brilha, reverbera, pulsa! O romântico é sofrível, marginal, viciado, ama, e aos poucos morre, porque lhe negam, raspas, restos... A metáfora, para fome, súplica e carência por qualquer atenção, foi o hit que ironicamente, lhe deu atenção de milhões que o veneraram e idolatraram, e ainda hoje o idolatram! Cazuza, eternamente, Cazuza,,,!