Ela é livre… Como o vento. Eu sempre soube disso.
Impulsiva, como o instinto mais íntimo e primário de toda espécie. Jamais daríamos certo. E eu sempre soube disso.
Mas, vendo-a agora, enquanto dorme alinhada ao meu corpo, extasiada em sono profundo pós-gozo, fico imaginando com o que será que ela sonha.
Tento projetar o futuro, e penso se, algum dia, ela será a “mulher de alguém”, se há no mundo quem possa civilizar este instinto primitivo que, por hora, parece inofensivo em seu sono.
Volto à realidade, das paredes frias e cama ainda quente, em meu quarto. Ela ainda dorme. Me entristece um pouco a visão racional de um futuro do qual não faço parte.
Fecho os meus olhos, quero dormir e entrar no mundo de sonhos e ver que ela ainda está lá, é o único lugar em que eu sempre a poderei acompanhar.
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Não daríamos certo, eu sei. Mais que saber, eu sinto.
Você até pode entender como ela funciona e aprender a direcionar as velas a seu favor, mas você não poderá, jamais, prender o vento. E ela é como o vento.
Um dia, no futuro de que não faço parte, talvez nossos passos voltem a se cruzar, na calçada de uma rua qualquer. E ela, talvez, tenha a seu lado alguém que entenda melhor sobre ventos e velas que eu.
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Nossos olhares também irão se cruzar e eu sei que ela irá lembrar desta noite, em que nossos corpos, como dois corpos celestes, ainda que em órbitas contrárias, se alinharam na infinitude das improbabilidades e, no breve instante daquele olhar, ela dirá, com um discreto sorriso, que eu hoje estou errado e que, talvez, daríamos certo sim.
A eternidade pode ser uma vida toda… Ou apenas uma noite, como foi a nossa.
(Autor: Marcelo Rutshell)
(Fonte: amor.ano-zero.com)
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