Família

QUANDO O PAI ESQUECE O FILHO DO PRIMEIRO CASAMENTO

Um homem que se finge de burro é mais burro do que um burro honesto.

O que me dói é ver um pai casar de novo e esquecer o filho do primeiro casamento. Esquecer. Nenhum cartão de Natal ou presente debaixo da lareira.

É que ganhou um herdeiro do segundo casamento, está envolvido na escolha do enxoval, no anúncio do jornal, em fumar charuto com o sogro e com aquela vaidade suprema de ostentar para sua esposa que é experiente e sabe segurar a criança.

Ele apaga a casa anterior — com o que havia dentro dela — e se apega à casa recente. Entende que sua criança ou adolescente cresceu o suficiente para não depender mais dele. Nenhum filho cresce o suficiente para ser órfão de repente, não importa a idade.

Aquele filho a quem amava e criava com zelo, a quem aconselhava e trocava as fraldas passa a existir somente como uma pensão, uma linha do seu contracheque. Não pergunta. Não telefona. Não se encontra fora de hora. Está muito ocupado criando um bebê. O que dá para entender é que ele não ama o filho, mas a mulher com quem se encontra no momento. Faz qualquer coisa para agradá-la, inclusive negar a paternidade do primeiro casamento.

É do tipo ou tudo ou nada, ligado à figura masculina patriarcal, que oferece e tira conforme suas vantagens. Não é bem um pai, mas um latifundiário emocional, desconfiado, sob permanente ameaça de invasão de suas terras.

Leia Mais: Pais que são Superpais!

Mãe é diferente, sempre se elogia quando menciona seu filho. Mareja os olhos ao mexer na gaveta das camisas, coleciona bilhetes e desenhos, inventa uma porção de neologismos no abraço. Não se guarda para depois, para um melhor momento, está disposta a conversar pressentimentos e costurar recordações.

Pai costuma se omitir no momento do desabafo. É comedido demais para estar vivo. Troca de personalidade, de residência, de amor, o que precisar, no sentido de prevenir a sobrecarga de problemas. Para namorar, ele some por meses (exatamente o contrário da mãe, que administra o final de semana com o apoio da babá e da avó). Homem ainda não conseguiu conciliar sua vida profissional com a afetiva. Não é capaz de unir nem a vida afetiva pregressa com a vida afetiva atual. Cuida de um afeto por vez.

Pai não forma sindicato, não cria associação. Continua defendendo que ninguém tem o direito de se meter na vida dele e converte em inimigos os amigos que insinuam sua indisposição filial.

Ele se separou de uma mulher, não do seu filho, mas culpa o filho porque não consegue completar uma frase com a ex. Parte do princípio de que ajudando o filho está ajudando a ex. Gostaria de matá-la, mas então se mata para o filho.

Ou entende que seu filho deve procurá-lo, cria paranoias e neuroses para aliviar sua culpa. Age como um ressentido, fala mal do filho do primeiro casamento para a mulher do segundo casamento, alegando ingratidão. E a mulher do segundo casamento concorda com o absurdo porque está preocupada com o nenê e deseja a exclusividade do marido. E não entende que um irmão depende do outro irmão, que uma família não cresce por empréstimos.

Homem tem que aprender a sofrer em público, sofrer por um filho o que sofre por uma dor de cotovelo, apanhar das cólicas e da coriza, desabar numa mesa de bar, beber interurbanos, fechar a rua e o sobrenome para encurtar distâncias, chorar nas apresentações escolares, fingir abandono a cada despedida, para só assim mostrar que pai, pai mesmo, nunca será dispensável.

(Autor: Fabricio Carpinejar é poeta, cronista e jornalista)

*Esse é um texto que gerou muitos comentários em nosso site. Trata-se de uma abordagem unilateral, que narra sobre pais que abandonam seus filhos. É claro que existem outras visões sobre o assunto, mas nesse texto está narrada a opinião deste autor, sobre esse tema, especificamente.

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  • Toda generalização é burra. Zero de psicanalise neste texto, está no site errado.
    Apresenta problema, não mostra solução. Mentalidade de rebelde sem causa, do que vai a ruar reclamar, mas não sabe resolver ou propõe utopia.

    • Estou vivendo isso no momento, passam a odiar a ex mulher, e qualquer situação difícil que está vivendo eu sou culpada, até nas filhas tem descontado, sendo omisso nos dias de visita, infelizmente é a realidade de muitas famílias!!!!!

      • Verdade...tbm passo por isso...meu ex foi saindo de cena aos poucos... sempre me culpando por alguma coisa.... minha filha tem 12 anos e ele tem outra esposa e filha e pediu redução da pensão que já era pequena.... .. e agora sumiu de vez...minha filha se tornou um número no contra cheque dele.... ele "esqueceu" de procurar até mesmo no aniversário dela... nunca foi proibido de procura-la ... sempre teve nosso endereço e telefone...sumiu porque quis e pra piorar se faz de pobre coitado... e eu fico preocupada com minha filha...órfã de pai vivo...

        • Criei um filho assim, órfão de pai vivo, superamos a ferida e carregamos a cicatriz. Nossa única opção é seguir em frente e construir uma boa história de superação genuína sem espaço para o rancor e sem expectativas, porque quem abandona jamais poderá concertar o que se quebrou ainda que queira

      • A maioria das minhas amigas divorciadas, irmãs tbm é ex colegas de trabalho passaram ou passam, com os filhos este drama, o do abandono do pai na vida do filho, seja qual for a idade, existem país que não apenas se divorciar da mulher mas também se divorciam letigiosamente do filho(a) ou filhos (as), literalmente deletam o afeto, o amor, o carinho, a presença, a paternidade em si vivida, quando não desaparecem por anos ou décadas, qdo o prejuízo ao convívio foi totalmente destruído, alguns as vezes reaparecem como se não tivessem feito nada de errado. ..
        É doloroso ver a falta de humanidade em muitos ... Mas a vida dá voltas e acredito que essa mesma vida é um bumerang, ela aqui ou em outro plano não deixará que ninguém saia da mesa sem pagar a conta.

    • Concordo com o João! O Autor, Fabricio Carpinejar, é poeta, cronista e jornalista... faltou mencionar que nada entende de psicanalise, ou deixou entender isso, pelo menos.

      Generalizar uma espécie é uma forma totalmente ignorante de avaliar casos. Este é um julgamento pessoal, que coincide com alguns casos e se diverge de muitos outros.

      O entendimento que retiro do texto que acabo de ler, faz sentido se avaliar tanto ao pai quanto à mãe, que partem para um próximo relacionamento (aí não julgo se for o segundo, terceiro ou até o 17º, né Gretchen?!) devem ter noção que a relação anterior que acabou foi com a "esposa" ou "marido", e que os filhos são para sempre!

      • É um ótimo texto psicanalítico!
        Concordo que o Fabrício acabou generalizando.
        Mas infelizmente é o que acontece na maioria dos casos.E é impressionante como os comportamentos são padronizados!

    • Concordo plenamente, parece uma mulher abandonada e rancorosa falando como se fosse um padrão isso acontecer. Não mencionou o que as mulheres fazem para afastar um pai dos filhos com a intenção de atingir o ex e não pensam nas consequências para os filhos.

      • Ah sim... concordo contigo tbm, Marlos. Isso e outra coisa que acontece bastante qdo ha separação... Filhos se tornam uma maneira de atingir o ex... infelizmente, tanto o que o autor diz, como o que vc mencionou acontece rotineiramente, em muitos lares qu foram "desfeitos" pelo divorcio...

        • Conheço um assim; o meu. não tenho como não me projetar neste texto.
          Meu pai colocou uma filha no mundo e sumiu pra não assumir eu e minha mãe, depois de dois anos fez isso com outra mulher, mais uma criança no mundo. A avó materna insinuou jogar a criança no lixo, pois a mae do mesmo nÃo podia ficar com o menino. Minha avó com pena da criança foi busca lo e registrou o menino com sobrenome dela, o ex marido dela que tambem a abandonou por outra mulher, meu avô processou minha avó, por colocar o sobrenome dele num bastardo, e meu pai o apoiou. Minha avó teve que cumprir pena, serviços comunitario pelo crime que cometeu.
          Cada um criado com suas avós maternos. As vezes o viamos, as vezes vinha deixar alguma bobagem, comida basica(arroz,feijao) penso que era mais pra satisfazer a cobrança da sociedade do que minhas necessidades. Me lembro apenas de um brinquedo que ele me deu, e eu chorei e a tia com quem morava na epoca fez questao de me dizer que eu devia chorava por ela que me criava e não por quem não me queria. Minha mãe também saiu da cidade pra trabalhar em outra, pois meus avôs ja eram velhos e doentes, inclusive morrerao os dois enquato ela estava fora, foi um golpe.
          Com algum tempo depois ele casou a primeira vez, e também nao sustentou a familia, saiu deixando uma filha que tambem foi criada por seus avós, e também sua mae teve que ir pra outra cidade trabalhar e sustentar a menina. meu pai que já era tecnico em enfermagem na epoca em 3 hospitais achou um absurdo os avos da menina o terem colocado na justiça para pedir pensão.

          Graças a Deus sai dessa atmosfera aos 12 anos, conheci a cidade grande, vim morar com minha mãe e um padrastro otimo e atencioso, o pai chegou me ligar algumas vezes ate me mandou 50 reais por tres vezes, quando sabia alguma coisa de mim, dizia aos meus tios; já estao criados não se preocupem mais.
          Passei por muitas emoçoes sozinha, sem apoio ou uma palavra amiga, Hoje eu acho até bom não ter morado com ele, mas quando o penso nÃo posso deixar de pensa-lo como um covarde, é o unico adjetivo que o classifico.
          Peço até desculpa pelo desabafo pois me emocionei.

          • Sei bem que isto existe, tão comum mesmo nos dias atuais.Te desejo toda a felicidade, um dia ele irá lembrar q vc existe...

    • Concordo contigo... sei que esse tipo de situação realmente acontece e muito, mas me parece um texto de julgamento... e não vim aqui para julgar e sim na tentativa de encontrar alguma solução proposta... me decepcionei, pois so encontrei um desabafo "de mulher" que esta passando por este problema.

    • Utopia???? Vc não tem noção da quantidade de utopia que esta tendo no mundo agora,mas concordo com algumas criticas suas,tem pai e pai,o meu pai é o pai,um grande homem que me acolheu quando meu ex marido,médico,me abandonou quando a nossa filha especial nasceu,se ele a viu 5 vezes em 6 anos foi muito,fora os outros dois meninos que ele não da a minima.

    • Pastor Rubens muito bom mesmo!E isso aec mesmo,A oportunidade e8 nos dada temos que apiveortar agora; enquanto temos a chance,depois ne3o adiantar se lamentar."Buscai enquanto se pode achar,invocai enquanto este0 perto".Deus abencoe peloartigo vou compartilhar le0 no blog tbem!Na fe8Dani

  • Texto completamente senso comum, sem fundo psicanalítico nenhum. Não se pode generalizar todos os casos. E quando o pai dá o apoio emocional ao seu filho muito mais que a mãe?! E quando o pai é a figura espelho para o filho com seu falo e a mãe é a coadjuvante?

    • Sim, esse pai maravilhoso existe, ainda bem! Mas este texto quis mostrar o mundo de um ex-pai, que infelizmente, também existe..

  • Que texto simplesmente ridículo!! Com toda a evolução e diversidade que há nesse mundo colocar a mamãe como boazinha e o pai como monstro, generalizando, é uma estupidez completa. Conheço mais de uma mãe que usam o filho para transformar seus ex em seus escravos. Que horror ler isso...

  • Mais burra ainda eh a segunda mulher de aprovar essa atitude do marido sem imaginar q se um dia os dois tbm terminarem isso vai acontecer com os filhos dos dois..

  • Não entendo a revolta com o texto. A solução é "não abandone seu filho". Trazer fórmula pronta para lidar com milhares de lares distintos aí sim seria errado.

    Não houve generalização. O texto se trata de pais que abandonam e não dois que permanecem, cuidam. Ser inspiração até um pai ruim é,a depender da perceção que o filho tem, já vi gente se gabando do pai ser um garanhão — tendo a mãe levando chifre em casa... ficando dessa forma.

    Ele aproveita e ressalta o utilitarismo que muitas vezes impregna a criação, muitos pensam que sendo o suporte financeiro basta para cumprir seu papel.

    Achei muito pertinente. Vários pais comumente agem dessa forma. Já cheguei a ouvir"eu sou seu pai, não seu amigo". Não dá pra ser os dois? E temos uma relação boa, de irmos a festas juntos, sair para bares, trocar mensagens, conversar sobre política, futebol, economia e algumas lorotas . Não vejo os pais da maioria de minhas amigas fazendo nada disso, fazem com os filhos, mas não com filhas. Só que mesmo assim não chega nem perto da que tenho com minha mãe, ela me dá abertura para falar sobre o que eu quiser e não tem reserva ao mostrar/contar o que fez de bom ou ruim. Com ela posso falar de namorados, sexo, meus medos. Amo os dois da mesma forma e meu pai é maravilhoso, mas não conciliava afetos. Só agora ele está mais confortável, mais aberto pra mim ,como antes, quando eu era criança.

    A situação descrita é quase rotineira sim, já cansei de ver conhecidas querendo demandar ex— marido por isso (e elas podem, porque não é só assinar o cheque). Tenho amigos que cresceram sem os pais ou que ficaram sem após um divórcio.

    • Muito boa reflexão, concordo contigo! O autor disse do seu modo, como cronista, escritor, se a alguem quiser colocar do outro ponto de vista, deve ficar a vontade...esse personagem existe e muito em nossa sociedade

  • Acho que muitos não entenderam o texto;de maneira nenhuma o texto generaliza...ele simplesmente conta que existem pais assim..que abandonam os seus filhos por qualquer razão..independente se existe uma nova mulher ou não..mas não somente pais fazem isso muitas mães também abandonam seus filhos,não razão ou justificativa que se faça valer em alguns casos.

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