É muito comum uma pessoa avaliar um relacionamento passado, ou mesmo atual, e perguntar-se: “nossa, onde eu estava com a minha cabeça para ter me envolvido com essa pessoa”? Em muitos casos, não é necessário fazer muito esforço para encontrar a resposta: a cabeça estava mergulhada na carência. E o que esperar de uma escolha feita em meio à tanta fragilidade emocional? Aliás, dependendo do contexto, nem é adequado usar o termo “escolha”, considerando que o desespero foi o elemento motivador para o início do vínculo.
Para muitas pessoas, ter um relacionamento tornou-se a questão mais urgente da vida, é algo tão prioritário que dispensa a avaliação de critérios inegociáveis. Para um carente em “estado terminal”, suas conquistas intelectuais, financeiras e patrimoniais perdem completamente o valor se ele não tiver uma companhia. Inclusive, já ouvi uma mulher bem intelectualizada referindo-se à irmã como “cachorro sem dono” pelo simples fato de a moça ter mais de trinta anos e estar solteira.
Diante disso, constata-se que condicionar o valor ou dignidade de uma pessoa ao estado civil dela é uma questão que, para muitas pessoas, independe do nível intelectual ou social. Existem pessoas que, por mais que estudem, tendem a manter-se escravas de padrões e crenças que pertenciam aos bisavós.
Pois bem, uma vez que uma pessoa enxerga num relacionamento a senha de acesso para a própria dignidade, ela tornar-se-á alguém extremamente vulnerável a meter os pés pelas mãos. Por estar desesperadamente focada em ter uma aliança no dedo, ela fará vistas grossas para qualquer fator negativo no pretendente, ela terá uma justificativa para toda e qualquer evidência preocupante que apareça, chegando a acreditar piamente que nada do que a pessoa fez de grave em relacionamentos anteriores acontecerá com ela e não adianta o mundo inteiro tentar alertá-la. O que uma pessoa assim quer é mostrar ao mundo que ela também tem dignidade e valor, uma vez que ela cristalizou a crença de que uma pessoa torna-se desqualificada por estar sem uma companhia.
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Então, ela entrará num relacionamento ofertando apenas a sua carência como contribuição, sinalizando, que estará disposta a sujeitar-se a absolutamente tudo para manter-se como uma integrante do “sagrado” universo das pessoas dignas, ou seja, o universo daqueles que possuem um parceiro.
Ser feliz, ser respeitado, ser valorizado e receber afeto, definitivamente, serão detalhes dispensáveis para um carente terminal, para ele, importa o status de “relacionamento sério” nas redes sociais e comparecer com alguém a tiracolo nos eventos familiares e sociais.
Sobre as agressões verbais ou mesmo físicas, isso não vem ao caso, pois elas acontecem entre quatro paredes, ou na frente dos filhos, sendo assim, o que contam são as fotos do casal no facebook cheias de likes e comentários, não é mesmo? E as olheiras causadas pelas noites sem dormir de tanta angústia e frustração? Ah, que bobagem, existem muitos recursos para isso, nada que uma boa maquiagem não resolva, certo?
O que não pode é a pessoa ser vista sem uma aliança no dedo, isso sim, é muito deselegante e não pega bem. E assim, muitas pessoas seguem a vida, maquiando as manchas que o companheiro deixa no corpo, chorando em frente ao espelho, sob o chuveiro e embaixo do cobertor, talvez sonhando com o dia em que, quem sabe, a tecnologia seja capaz de fabricar uma maquiagem para os machucados da alma.
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Boa tarde!
Esse artigo é um tanto duro, não?!
Devo ser tola em acreditar que a psicanálise e a psicologia estariam aí para justamente estudar as mazelas da mente?
Por experiências pessoais digo ninguém fica com alguém na condição de carrasco ou vítima se algo não estiver algo errado com sua alma. Inclusive a própria carência que trás uma dependência de se ter alguém ao seu lado a qualquer preço.
A mente quando fica aprisionada, e aos olhos de leigos é difícil imaginar um ser humano sofrer ao lado do outro e parecer estar tudo bem nas redes sociais. Será mesmo que se paga um preço tão grande só para dizer que está com alguém? Ou essa pessoa estaria doente de alguma forma?