Amor

Quando o amor se torna um vício

Existem, e sempre existirão, os que sofrem por não terem sido correspondidos em seus afetos. Mas, não são sobre estes que sofrem sem que haja testemunhas nosso relato.

Pois assim são, como uma entre tantas frustrações da vida humana “normal”, inclusive retratados em prosas e versos, por grandes artistas em suas obras, óperas, letras de canções consagradas,ou belíssimas literaturas, conhecidas e eternizadas por seus finais trágicos.

Todavia, a maior tragédia, é a realidade dos amores patológico como ferida aberta, capaz de trazer sofrimento e produzir sofrimento em si mesmo. É sobre este assunto que nos debruçaremos.

Se você não se satisfaz com a quantidade de atenção e tempo que recebe de seu (a) parceiro (a), ou acredita na necessidade de controlar a vida dele(a), ou se sente ameaçado(a) quando ele(a), manifestam interesses e relacionamentos diversos dos seus. Ou se sente na iminência de ser abandonada (o). Este artigo é para você.

Se respondeu sim às questões, você pode esbarrar em um terreno nada saudável, o amor patológico. Ainda que haja necessidade de um exame mais detidamente na sua história de vida, há sem dúvida necessidade de uma avaliação clínica mais aprofundada com um especialista.

O amor este sentimento tão supostamente sublime, pode virar uma armadilha se confundido com obsessão.Quando amamos alguém genuinamente, apenas queremos que o outro seja feliz. Ou na pior das hipóteses, feliz longe dos nossos olhos. Porém, quando certos limites são ultrapassados, ele pode se tornar uma doença.

O suposto sentimento de amor, torna-se dependência, e a droga, o ser amado. A dependência é tanta, que tudo se torna em razão e em função dele.

Os primeiros sintomas são as chamadas telefônicas, se ele(a) não atende ao primeiro toque, já imagina que ele(a) esteja com outra pessoa romanticamente. A ideia de ser trocada(o) ou rejeitada(o) se torna tão insuportável que sufoca o parceiro com suas demandas e necessidades.

Quando o amor se torna um vício é chamado de Limerência. Este termo foi cunhado em 1979 por uma psicóloga, caracterizado por um quadro patológico, que envolve obsessão e dependência pelo outro. Outro termo também usado aqui no Brasil para denominar esses estados de pensamentos obsessivos é o “Amor Patológico”.

No Amor patológico, há um medo permanente e intenso de perda do par amoroso. Um sofrimento também intenso em suportar distâncias do ser amado, física e emocionalmente. Uma perda total do controle sobre seus pensamentos e sentimentos, diringindo-os em 90% para a pessoa objeto do seu suposto “amor.

Sabemos por experiência ou por proximidade com quem já viveu uma grande paixão que os relacionamentos normalmente nascem deste fulminante sentimento. Todavia a paixão não dura mais que 6 meses, ou em caso extremos até 2 anos.

Neste período é bem comum, que tenhamos alterações cerebrais leves, ou como dirigiam alguns céticos da paixão, demência leve temporária, caracterizada por falta de concentração , perda do apetite entre outras característica moderadas, tudo em nome deste vulcão incandescente.

Com o tempo, essa fase turbulenta cede espaço a um sentimento mais profundo, menos melindroso, mais seguro, mais sensato, a mente se acalma.

O estágio da paixão é comum tanto para homens quanto par mulheres, ambos podem sofrer de amor patológico. A diferença básica é que as mulheres costumam perceber e admitir estes sentimentos, não têm medo de falar deles. Assim, oportuniza mais facilmente ajuda. Todavia há algumas doenças pré-existentes que podem deixar o indivíduo com maior vulnerabilidade para o desencadeamento da patologia:

ansiedade;
baixa autoestima;
instabilidade emocional;
transtorno bipolar;
problemas afetivos na infância , adolescência e fase adulta;

Quem sofre com alguns desses episódios, precisa procurar ajuda profissional. O mais indicado é um psiquiatra, para a indicação de medicamentos como os antidepressivos e os estabilizadores de humor. Todavia, para que o efeito dos remédios não seja somente um tampão, é super necessário o tratamento em conjunto com um bom psicólogo. A terapia cognitivo comportamental é a mais utilizada nesses casos. A que mais tem comprovação de eficácia.

No Rio de Janeiro existem alguns grupos de autoajuda como o MADA. Nesses grupos há possibilidade de convívio com outras pessoas que se encontram nas mesmas condições e isto pode ser muito favorável para a recuperação da saúde mental.

O Amor patológico é tão desfuncional que atrapalha a vida tanto da pessoa que supostamente “ama”, quanto da outra a quem devota sua obsessão. Pois restringe sua vida, suas necessidades e sua devoção inteiramente à pessoa amada. Os casos de amor patológico podem ser tão distintos e complexos que a USP criou o Ambulatório do Amor em Excesso (Amore) desenvolvendo pesquisas e auxiliando os portadores dessa patologia.

O ambulatório da USP definiu como principais sintomas:

– A ansiedade como angústia, taquicardia ,suor na ausência ou em qualquer situação de distanciamento afetivo do(a) amado(a).
– Preocupação excessiva com o(a) parceiro(a)
– Tempo destinado a controlar as atividades do(a) parceiro(a)
– Abandono de interesses e atividades particularmente prazerosas;
– Falta de atitude mesmo frente a problemas pessoais e familiares em decorrencia da dependência do outro;

Com autorização para narrar, segue um pequeno relato de uma historia comovente. P aos 26 anos, estava casado, contudo se apaixonou perdidamente por outra mulher, sem que ela correspondesse na intensidade dos seus sentimentos. Fora uma paixão avassaladora a primeira vista, conta ele. E com o tempo só aumentava. Costumavam ter pequenos esbarrões nos corredores onde trabalhavam.

Trocavam olhares. Tiveram algumas trocas de carícias por insistência dele. Ele aparecia na porta da casa dela sem ser convidado, pegando-a nas mais diversas situações, sempre com constrangimento. Ou ficava esperando ela chegar. Na madrugada em um estacionamento ficava olhando sua janela, para ver se ela estava, observava-a à distancia com ciúmes de cada homem que se aproximava dela.

Seus pensamentos eram todos em torno dela, ainda que ela tivesse deixado claro que não era recíproco, tampouco viável. Ainda assim, quando seus olhares se encontravam eventualmente, ele imaginava ser correspondido. Quando ela fora morar fora do Brasil ele entrara em crise, com episódios de panico e sofrimento intenso. Reclamara de fortes dores no peito.

Foi quando decidiu buscar ajuda e se descobriu-se vítima de amor patológico, capaz de causar-lhe tanto sofrimento, quanto qualquer patologia como a compulsão por álcool, jogos de azar, sexo ou comida. Tão destrutivo quanto as dependências químicas.

Nem sempre os relatos sobre amor patológico se restringe a sofrimentos pessoais, em geral são responsáveis por grandes tragédias e crimes passionais.

Laila Wahab

Advogada, psicóloga clínica e escolar.

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