Tem tudo para ser fantástico, provavelmente conseguias projetar na tua juventude a vida ideal, seja ela qual for. Seguiste os teus valores para chegares a este ponto da tua vida profissional. Alguns dizem que é sorte, mas tu, sabes que a sorte é um casamento, entre a preparação que tiveste que fazer e a oportunidade que surgiu. Lutaste. Por vezes, até acredito que tenhas sacrificado a tua vida pessoal, os teus desejos, para estares onde estás e teres o que tens. Construíste o teu castelo, fortificado pelas tuas conquistas, alavancadas pela tua extrema competência e exigência. Esse castelo tem muros tão altos, que hoje, já te questionas o que está para lá dessa enorme muralha.
Sabes o que está do outro lado da muralha?
Aqueles momentos em que tu vais de carro e sentes a adrenalina a baixar, um desconforto inexplicável à medida que vais conduzindo, servindo de alento apenas o fato de estares a ter aquele momento só teu, em modo automático, olhando para o teu interior unicamente com o propósito de estares um pouco em contacto contigo. Chegas ao teu destino sem te lembrares do que viste durante o trajeto, de tantas vezes que já o fizeste, provavelmente nem reparaste que mudaram os sinais de trânsito e onde antigamente estava um sinal de perda de prioridade, agora, está um stop.
Já paraste para perceber qual é a tua verdade prioridade?
Talvez a tua carreira, que antes te preenchia de uma forma transversal, neste momento, começa a apresentar um sentido paralelo, em que um inconformismo desconfortável começa a estar cada vez mais presente, mas no fundo, não sabes porquê. Poderás usar a justificação mais racional, aquela que te irá permitir manter na zona de conforto: “É uma fase”. Sim, até poderás ter razão!
Mas o que é que está por detrás disso? Consegues perceber?
Sabes?! Essa fase vai passar a ser plural. Vai ser mais e mais desconfortável. O inconformismo vai intensificar o teu discurso interno, vais ter duas forças, uma que formula positivamente e outra negativamente. O que provavelmente ainda não tomaste consciência é que ambas se vão anular e é necessária uma terceira força.
Já pensaste que essa terceira força possa ser alavancada através de uma mudança?
Lembraste da muralha que te falei há pouco? Muito bem, quantas vezes tentaste ver para lá da muralha? Talvez seja esse o teu maior desafio até agora, perceber o que está para lá da muralha. Eu sei o que está lá, mas não te vou dizer. Para já!
Há alturas em que o olhar para o vazio começa a ser uma constante, daquelas partes do dia em que estamos só conosco, em que precisamos mesmo de estar sós. O olhar para um vazio exterior significa reflexão, quer dizer que estás em contato, ou a tentar entrar em contato com o teu interior e aí, de uma forma mesmo muito inconsciente, começas a tentar perceber o que está para lá da muralha que foste construindo. Temos necessidade de estabelecer uma circunferência á nossa volta que nos traz segurança, certezas, conforto, previsibilidade.
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Vou-te contar como construí a minha muralha. Era tão alta que não sabia sequer se existia algo para lá da muralha.
Subi a pulso em termos profissionais ao longo de 17 anos de carreira. O meu foco eram as conquistas profissionais e todo o reconhecimento que daí poderia trazer. Esse reconhecimento era uma necessidade que estava no topo da minha pirâmide de valores e sem esse reconhecimento nada faria sentido. Aquilo a que chamava “mimos” não era mais do que uma prova que necessitava para sentir reconhecimento, para me sentir valorizado, mudando completamente o significado daquilo a que o meu inconsciente assumia como valor o reconhecimento. O imediato era indispensável para mim.
Essa muralha foi crescendo, sem me dar conta da enormidade do seu tamanho.
O que estaria eu a perder da vida? Certamente, muito mais do que aquilo que estava a ganhar. Perdia-me de mim, perdi-me da pessoa que ficou do outro lado da muralha, perdi-me da transparência da verdade, que sem eu saber, não quis que me acompanhasse. Sabia que mais cedo ou mais tarde essa muralha teria que ser transportada, mas para isso, tive que me perder ainda mais, uma aventura, que não vou detalhar aqui, á qual eu chamei, o “Lado Emocional da Razão”.
A circunferência que nos traz certezas é confortável, aquela que nos faz sentir seguros e que é sustentada na maior parte das vezes por crenças. Crenças que não nos deixam avançar, que resultam das interpretações, muitas vezes estereotipada, redutora e simplista da realidade.
A tal muralha, que muitas vezes achamos que é intransponível, não é mais do que uma construção interna, de um conforto, que á medida que vamos avançando na nossa vida se torna cada vez mais inquietante, um conforto imediato que nos vai causando desconforto.
Aqui, tens duas hipóteses e lembro-te, que ambas são válidas num determinado momento, daí o teu discurso interno. Ou continuas e adaptas-te a esse desconforto, canalizando a tua energia para combater algo que no fundo não sabes bem o quê, ou, valorizas-te, aceitando na total plenitude aquilo que és, nem melhor, nem pior que ninguém, és tu, como ser único neste mundo.
Sabes o que é essa aceitação da pessoa que és? É Amor-Próprio! Quando aceitares a pessoa que és, a muralha cairá. Tudo começa pelo respeito por ti própria, e com ele vem a autoestima.
Na questão da autoestima, tenta perceber que tens duas vozes, a voz essência e a voz critica. A tua voz essência é aquilo com que nasceste, que procura o crescimento e que arrisca sem medo de errar. A tua voz critica é moldada pela cultura, amigos, família, que está sempre á procura da perfeição e te impede de seres livre de aprender. Esta é aquela voz que está sempre a julgar, que está sempre a sentenciar pela negativa, dizendo-te que não és capaz, que a felicidade não existe e por isso não podes ser feliz.
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Desenvolvemos três pessoas em nós, que nos acompanham e se tentam sobrepor. Uma que representa quem realmente somos, algumas das vezes inconsciente, vitima do constante disfarce. Outra que representa quem gostaríamos que os outros pensassem que somos, e por ultimo, uma que nos obriga a ser alguém que vai ao encontro das expectativas que criamos.
– É importante nesta fase traçar pequenas metas que sejam mensuráveis. As questões que deves fazer a ti própria são a chave para este processo, ou seja, a análise. Uma construção sólida requer planeamento e alguma paciência. Uma pessoa segura não é imediatista.
– Escreve de ti, para ti, como se tratasse do teu diário de viagens, o teu diário de bordo.
– Aceita que irás falhar e com essa falha vem alguma frustração, é normal. É com essas falhas que evoluis.
– Aprende a estabelecer limites, aprecia a força que pode ter dentro de ti o fato de dizeres um “Não” na altura certa, quando o eu critico quer dizer “Sim”. Esse não, vai-te fortalecer física e espiritualmente.
– Aprende a perdoar-te, não sejas tão dura contigo, não te castigues eternamente, aceita e perdoa.
– Aceita-te como és, respeita a tua essência, respeita as tuas fraquezas, as tuas forças. Só respeitando os teus pontos fracos é que os consegues transformar. Todos temos limitações e ter consciência delas é um passo decisivo para a tua aceitação.
– Valoriza as tuas capacidades e aprende a dar-lhes valor. Provavelmente já atuas de uma forma tão automática, tão mecanizada, que nem te apercebes das capacidades que tens de ter para fazeres o que fazes. Aos teus olhos podem parecer simples, banais, e isso só acontece porque não te valorizas. A realização pessoal vai contribuir para remover essa sensação de vazio, essa sensação de que te falta algo, mas de fato, o que te falta, és tu própria.
Deves perceber que colocares-te em primeiro lugar não é egoísmo, não é orgulho, é amor-próprio e, para dares para fora de ti, tens que permitir dar-te em primeiro lugar.
Olha-te ao espelho sem medo, sem julgamento, ri-te de ti própria, escreve uma carta de amor para ti, luta pelo que verdadeiramente acreditas, aceita encarar outras perspetivas diferentes daquelas que encaraste até agora. Ninguém se vai lembrar de ti pela beleza física, mas pela tua simpatia, simplicidade, generosidade, por aquilo que tu verdadeiramente és.
Já sabes agora o que é que está do outro lado da muralha?
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