No início de nosso processo de crescimento interior, tendemos a crer que a opinião alheia nos é importante. E ainda que admitamos que isso é um erro, não conseguimos superar as amarras a que nos deixamos prender.
Em outras palavras, sabemos que devemos fazer e ser aquilo que simplesmente gostamos e somos, mas a ilusória necessidade de sermos bem quistos e admirados por nossos pares distancia-nos de nossas verdades, daquilo que realmente nos traz harmonia e bem-estar.
Essa confusão começa a se tornar tão grande dentro de nós que, às vezes, nos autoenganamos, sabotando aquilo que realmente desejamos, e que se perde no meio do caminho, mediante mentiras que contamos para nós mesmos. Dessa maneira, fingimos que acreditamos na importância das expectativas sociais, nos sonhos que os outros formulam para nós, naquilo que nos tornaria pessoas melhores sob a perspectiva dos olhares vulgares.
E, em algum ponto de nossas existências, diante de nossa exacerbada necessidade de sermos vistos e aceitos como alguém especial, fingimos tanto que acabamos acreditando em nossas próprias mentiras, vivendo uma vida que não deveria ser a nossa, já que nos distancia de nós mesmos, de nosso cerne de luz, daquilo que nos arrebata para cima e nos satisfaz de maneira plena.
Começamos, então, a eterna saga de correr atrás daquilo que não nos importa, posto que nada nos acrescenta, daquilo que nunca nos completará de maneira perene. Nunca haverá o suficiente e aquela novidade maravilhosa ficará esquecida num canto qualquer à espera de nosso interesse já entediado. O carro novo perdeu a graça tão rapidamente, aquele emprego cobiçado não era, afinal, tão interessante assim, aquela roupa descolada é apenas mais uma no guarda-roupa. O tempo transforma-se em nosso maior inimigo, em uma batalha sem volta, em que precisamos correr para chegar antes não se sabe bem onde.
Buscamos, assim, formas de distração com viagens caras, consumismo exacerbado, relacionamentos conturbados, alienação mental por meio de crenças excessivas na aparência e pouco valor na essência, com receio de que a verdade inolvidável venha à tona, chamando-nos a nós mesmos. Mas, por mais que fujamos, sentimos que algo nos falta. Sentimos saudades dos pés descalços no chão, do sorvete no banco da praça, da água da chuva nos molhando o corpo inteiro sem sombrinhas ou guarda-chuvas, da vida simples que esquecemos e deixamos de lado.
Mas, como é difícil aceitar que nem sempre estamos no controle de nossas próprias vidas; que, às vezes, deixamos que as expectativas sociais dirijam o automóvel de nossa estrada. A dificuldade em aceitar que nos deixamos conduzir pelo outro faz com que fechemos os olhos para as razões de nossas tristezas, que vão se acumulando em nós, sem que saibamos o que está errado.
Se pararmos para refletir, entenderemos que nos falta a conexão com nós mesmos, que a excessiva preocupação com os “outros” nos roubou a própria natureza humana.
Alguns dizem: “realmente não me importo com aquilo que as pessoas pensam sobre mim”. Será mesmo? Pode ser. Mas, para que se atinja, de fato, esse sublime estado d´alma, é necessário que se possa amar a todos os seres. Trata-se do amor incondicional àqueles que julgam e atropelam as verdades de um outro ser. Amando verdadeiramente a todos, apesar de pontos de vista arcaicos e limitantes, conseguimos deixar a nossa própria vida fluir naturalmente, independentemente do julgamento alheio. Se o amor transborda em nós, não há espaço para rancores, preconceitos e medos. Mas, pobres mortais que somos, convenhamos que, embora possível, é muito difícil deixar o amor seguir em nós de maneira tão livre.
Como amar aquele que me julga? Ainda que não nos seja possível amar, nesse momento, iniciemos pela compreensão. Compreensão de que também julgamos e atropelamos os sonhos de nossos pares, mesmos sabendo que não devemos fazê-lo e ainda que não percebamos que também julgamos a todo tempo.
Após o diário exercício da “compreensão”, podemos minorar os efeitos deletérios da importância da opinião alheia sobre nossas vidas a partir da aceitação. Aceitar que nos importamos com a consideração que os outros têm sobre a nossa pessoa é fundamental para trabalharmos esse sentimento em nós. A partir da aceitação, precisaremos, então, refletir sobre quem são os “outros” e porque a opinião “deles” afeta o nosso modo de viver.
Definição do “outro”: Será que nos importamos com aquilo que pensa sobre nós alguém que mal conhecemos? Em regra, pouco nos afeta a estima (ou ausência dela) que desconhecidos possam ter a nosso respeito. Com efeito, não damos muito significado para aquilo que pensam de nós pessoas que não nos são importantes, seja do ponto de vista emocional, social ou intelectual. O fato é que nos preocupamos demasiadamente com aqueles que convivemos e que, de certa forma, competimos, seja no passado ou no presente. Preocupamo-nos com a imagem que passamos a essas pessoas. O nosso ego precisa demonstrar que estamos acima ou, pelo menos, no mesmo patamar.
Mas quem são esses indivíduos? São tão infalíveis assim? As suas verdades, os seus valores são tão irretocáveis que mereçam ser o centro de nossas atenções? Por que precisamos estar acima deles? Afinal, todos temos pontos a transformar, a melhorar, a mudar. E todos temos as nossas dores ocultas, embora quase nunca as divulguemos nas redes sociais.
Conforme crescemos, percebemos que não há pessoa perfeita ou irretocável seja em suas considerações intelectuais, culturais, sociais, familiares, e por aí vai. Por isso, não há nada mais insano que mudar a rota de nossas vidas para satisfazer aquilo que nosso ego requer, sem considerar as necessidades de nossa alma. O que fazer, então? Qual ou quais objetivos precisamos tentar encontrar ao longo de nosso processo de amadurecimento como seres humanos?
São três objetivos e, nesse ponto, retornamos à nossa maior dificuldade:
1.Tenha amor
Amor por todos os que erram porque nós erramos também. Amar aquele que erra não é colocar-se em uma posição de superioridade e, tampouco, aquiescer com o erro. Amar aquele que erra é escutar os seus posicionamentos, sem julgamentos extremos, entendendo que um dia também pensávamos de maneira semelhante ou, então, equivocada.
Amor por você mesmo, pela verdadeira pessoa que pulsa em você.
Amar a si mesmo é respeitar o momento de crescimento em que se situa, permitindo-se. Sim, permita-se ser você mesmo ainda que o mundo negue a sua forma de viver e de agir, e desde que isso faça de você alguém mais conectado com seu “eu superior”. Descubra as suas imperfeições, sabendo que a superação dessas limitações fará de você alguém ainda melhor. Não perca tempo em caminhos que não são seus, que fazem a felicidade do outro que quer competir com você, mas que não lhe trarão a plenitude tão almejada.
Amor pela vida. Lembre-se que é através da vida, errando, acertando, retornando, seguindo, que temos a oportunidade de aprendermos, sermos melhores e harmonizarmo-nos.
Só com o amor, o amor e o amor, três ingredientes fundamentais, conseguiremos dar passos largos em nosso crescimento interior, alcançando, quem sabe, uma pequena fatia daquilo que chamam felicidade. Não nos esqueçamos que o verdadeiro amor transborda e contagia. Com ele, conseguimos até o sorriso sincero daquela pessoa difícil, que ainda não é capaz de nos entender, e que nos julga sem, de fato, nos conhecer.
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