Você se lembra na sua infância de ler e reler o mesmo conto de fadas inúmeras vezes?

Mesmo com o advento da tecnologia, alguns pais ainda possuem o hábito de contar as historias clássicas para as crianças, e elas sempre mostram predisposição para um conto específico, pedindo para ouvir o mesmo repetidamente.

Mas porque as crianças fazem isso?

Elas repetem as historias, pois estão elaborando aquele conteúdo que a historias traz; pode ser um medo, uma angústia ou mesmo o heroísmo. Elas vivem aquilo como se fosse real. Isso representa uma aprendizagem e uma assimilação por parte da personalidade dessas emoções.

Quando nos tornamos adultos, esquecemos desses contos que povoaram nosso imaginário, principalmente nosso favorito, que vai ser reprimido da consciência.

Mas no processo analítico, esse conto com o qual nos deslumbrávamos é de muita importância, pois marcou a vida do analisando, sendo um grande auxiliar na compreensão dos processos psíquicos da pessoa, auxiliando a detectar complexos que atuam na vida da pessoa, auxiliando assim no autoconhecimento

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O conto de fadas predileto tem um papel relevante na infância, pois é nessa época que a estrutura psíquica está se formando e aponta para possíveis problemáticas na vida adulta.

A psicanálise aponta que as formações primitivas infantis são de grande importância, pois formam uma realidade psíquica – a despeito da realidade exterior – nos quais as raízes das neuroses se formam.

Durante a infância mudamos de contos favoritos, no entanto, a problemática fundamental permanece a mesma, e assim a escolha se dá em um conto semelhante.

Sua importância na análise é a de que ele abrange o fundo mágico – mitológico que forma a base do complexo central do paciente.

Os contos de fadas mostram uma camada muito profunda, primitiva e arcaica do inconsciente coletivo.

Por essa razão na análise, ao acessarmos os contos de fadas trazemos conteúdos muito arcaicos e primitivos pessoais e coletivos, mas é justamente esse que contém, com mais ênfase, elementos compensatórios para a consciência, que auxiliam a pessoa em sua compreensão da vida.

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Durante a análise esse conto predileto pode ir e voltar várias vezes. Pode-se aprofundar o tema e assim levar a pessoa a uma compreensão gradativa.

O tema pode se apresentar sob outros aspectos, trazendo novos pontos de vista.

A pessoa pode, num primeiro momento, se identificar com a figura do herói ou heroína, mas com o tempo o complexo de ego começa a observar os outros personagens, como os adversários, como forma de ampliação de consciência, fazendo com que a pessoa compreenda que os personagens do conto são complexos com os quais ele pode dialogar e estabelecer uma relação.

Todos os personagens existem como realidade psíquica dentro da pessoa.

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Exemplo disso: pessoas com função principal intuição, geralmente costumam se identificar com Alice no País das maravilhas, por exemplo, que mostra muitas facetas de uma intuitiva. Sabendo disso, passa – se a conhecer, o que é mais importante, a função inferior da pessoa. É essa que precisa ser trabalhada e conhecida.

Alguns contos de fadas já trazem a função inferior no herói, como o conto As três penas, dos Grimm. Nesse caso uma identificação, pode significar que o ego está tomado pela função inferior.

Para finalizar, existem muitas possibilidades dentro do trabalho com os contos de fadas, pois ao realizar esse encontro com seu conto predileto, é possível acessar emoções escondidas, desejos inconfessos, medos e traumas.

Assim, com os contos de fadas, podemos trazer de volta a capacidade de nos encantar, emocionar, fantasiar, criar, se espantar, trazendo nossa criança esquecida e acessando possibilidades novas e ampliando horizontes.

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Hellen Reis Mourão é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas. Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica em SP e RJ. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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