Um sopro de esperança e renovação tem se espalhado pelos corredores do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Centro. É que desde a semana passada, uma funcionária nada convencional tem feito a diferença na vida de muitas crianças em tratamento.
O nome dela? Hope, uma cadelinha da raça Golden Retriever, que está dando expediente no local e leva um pouco de alegria à ala pediátrica da unidade.
Peludinha e com um dom todo especial de arrancar sorrisos, a cachorra se tornou uma espécie de celebridade por lá — até crachá de identificação ela já conquistou. Tanta fofura, no entanto, se deve à iniciativa da médica oncologista Bianca Santana, que teve a ideia de criar o primeiro projeto de Terapia Assistida por Animais do Inca, com o objetivo de tornar o ambiente hospitalar um pouco mais leve e aconchegante.
“A Hope conseguiu arrancar sorrisos de crianças que não esboçavam nenhum tipo de emoção. A presença dela é fundamental para que elas percam o foco da internação e até mesmo da própria doença para se aproximarem do conforto de seus lares”, destaca Bianca, que já identifica transformações positivas nos olhares dos pequenos. “Está sendo uma experiência ótima para nós e, principalmente, para os pacientes. Vale muito a pena ver o rostinho de felicidade de cada um deles. O trabalho da Hope, hoje, consiste em aliviar o estresse e proporcionar bem-estar nos momentos de dor. Ela chegou para dar esperança à vida de todos nós”, afirma a doutora.
Com apenas 10 meses de vida, a cadelinha foi adestrada por André Donza desde que nasceu em um canil de Itaipava, em Petrópolis. Apesar da vontade de fazer o projeto dar certo, Bianca teve suas dúvidas sobre a sucesso do tratamento. Mas foi surpreendida com a adaptação rápida de Hope aos pequenos pacientes. “Era uma loteria. Não sabíamos se ia dar certo, mas, logo no primeiro dia, parecia que ela já era parte daquilo tudo. Estava muito à vontade e logo foi rodeada pelas crianças. Até uma mãe insistiu para que eu levasse a Hope até o quarto de sua filha”, lembra.
A médica conta que tira do próprio bolso os gastos com o projeto. “Não tenho incentivo do governo ou de qualquer ONG. Não tenho ambições. Decidi fazer acontecer. Quando se quer algo, é preciso fazer. A terapia assistida por animais fora do país, por exemplo, está muito mais estabelecida. Aqui, ainda é muito cru. É a primeira vez que esse serviço entra com crianças oncológicas”, destaca.
EFICÁCIA
Os estudos ainda não são conclusivos sobre a eficácia do tratamento com animais. Entretanto, a história da paciente Lívia Valim, 15 anos, chamou atenção. A jovem, que trata um tumor do sistema nervoso central, estava em coma e despertou com a presença da cadela em seu leito. “A menina não abria os olhos há alguns dias. A Hope pulou na cama e, milagrosamente, a Lívia despertou e todo mundo começou a chorar. Foi um momento mágico. A mãe me abraçou e agradeceu por eu ter levado a Hope até a paciente”, lembra Bianca, emocionada.
O momento foi comovente para Luana Valim, mãe da jovem internada. “Ela fez um dia que estava muito triste ficar alegre. Minha filha só dormia e acordou com a chegada da Hope. Foi um momento muito marcante em que nós ficamos agradecidos e emocionados. Estávamos muito ansiosos com a chegada dela”, conta Luana, que sempre acreditou na terapia assistida com animais. “Nós estávamos muito ansiosos pela chegada da cadela. Acho fundamental, não só no Inca, mas em outros hospitais esse tipo de tratamento. Nunca tive receio. Foi uma novidade agradável. A Hope é uma cadela muito especial e carinhosa”, completa.
DIA A DIA
Mesmo sendo um filhote, Hope segue uma rotina de muita responsabilidade. Em dias de visita ao Inca, ela toma banho e se prepara para receber o carinho das crianças, que é o único pagamento da cadela. “Tenho um monte de cuidados. Ela passa álcool nas patinhas, toma vacinas especias e medicações mansamente. Até o momento, ela não vê aquilo como um trabalho. É uma diversão. Quem não gosta de receber carinho?”, argumenta Bianca. Além de Hope, ela pretende ainda aumentar o números de pets em sua nova empreitada. Atualmente, treina uma ararajuba para incluir na terapia assistida com animais.
CACHORRINHA CRIADA PARA FAZER O BEM
Desde que nasceu, a cadelinha Hope é treinada pelo adestrador André Donza, cujo trabalho foi crucial para a ida da ‘amiga’ da Pediatria do Inca. “Precisávamos de um cão filhote muito calmo e tranquilo. Para tanto, os pais teriam que ter estas características. Feita a escolha do cão, iniciei o adestramento assim que ela chegou na casa da doutora Bianca. Ela tinha dois meses de idade e passou por todas as etapas de adestramento, tanto de obediência, quanto comportamento.
Hoje, mesmo tendo feito poucos atendimentos, é notória a mudança no olhar das crianças, pais e funcionários do instituto. É sem dúvida muito recompensador ver na expressão de cada um deles quando a Hope entra nas salas e todos ficam encantados com seu olhar e carisma. Fazer parte desse projeto é um sonho que está sendo realizado”, comemora o adestrador.
Para ele, o contato entre os paciente e a cadela tem sido positivo. “As crianças são tão puras quantos os animais e a conexão entre eles acontece naturalmente. No seu primeiro encontro com um grupo de sete crianças, ela deitou no chão sem comando nenhum, mas por conta própria, e recebeu carinhos e abraços das crianças que ali estavam. Fiquei emocionado, foi lindo”, recorda.
PRESENÇA APROVADA POR LEI
A lei que garante a entrada de animais em hospitais foi sancionada pelo prefeito Marcelo Crivella. Segundo texto, desde que autorizados pelo médico do paciente e comissão de infectologistas, os pets podem entrar nas unidades de saúde. Autor da lei, o vereador Luiz Carlos Ramos Filho comemora. “A presença do pet pode melhorar a recuperação do paciente”, explica.
Para a psicóloga e professora, Mônica Portela, animais podem ter papel fundamental. “Cachorros, gatos, passarinhos, ajudam a melhorar a qualidade de vida. Hoje, algumas pessoas tem os bichos como filhos e parentes. Contato com eles pode beneficiar a situação clinica”, diz.
(Autor(a): Leonardo Rocha)
(Fonte: odia.ig.com.br)
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