Ela está comprometida em reduzir o impacto das estradas e do tráfego de veículos na biodiversidade brasileira. Fernanda Abra, 32 anos, pesquisa formas de diminuir os atropelamentos de animais, principalmente mamíferos.
Em julho, defenderá uma tese de doutorado na USP, em Piracicaba, sobre as implicações dessas colisões para a vida silvestre, a segurança humana e os custos para a sociedade paulista.
Fernanda não se limita à área científica do problema. Desde 2014, a bióloga e sua amiga Paula Prist mantêm uma empresa de consultoria chamada ViaFAUNA, especializada em gestão de vida silvestre em estradas, ferrovias e aeroportos. São mais de 30 projetos, incluindo nove planos estratégicos para mitigar atropelamentos. Suas espécies-alvo são canídeos, felinos, xenartros e ungulados brasileiros ameaçados de extinção.
Por essas ações, foi escolhida como uma liderança que pode inspirar e mobilizar comunidades, organizações, governos, investidores e o público em geral para a proteção de espécies de animais e plantas silvestres. No último dia 20 de fevereiro, Fernanda foi anunciada como uma das vencedoras do Future For Nature, junto com Dyvia Karnad, da Índia, e Olivier Nsengimana, de Ruanda.
A Fundação Future For Nature (FFN) é uma organização holandesa que apoia jovens talentosos e ambiciosos comprometidos em fazer a diferença para o futuro da natureza. Anualmente, a premiação oferece 50 mil euros para incentivar o trabalho dos ganhadores, além de oportunidade de reconhecimento e de integrar uma rede internacional de conservacionistas para futuros financiamentos. Em maio, os vencedores viajarão à Holanda para receber o prêmio.
“Me sinto muito feliz em trabalhar pela conservação de espécies incríveis, como a anta, tamanduá-bandeira, lobo-guará, onça-pintada e outros canídeos e felídeos brasileiros, e ser orientada e apoiada por pesquisadores e conservacionistas tão respeitados. Estou muito emocionada e honrada em receber o prêmio Future For Nature, isso ajudará a aumentar meus esforços e fazer a diferença na proteção da incrível biodiversidade brasileira”, comemora Fernanda.
A diferença na prática
Kátia Ferraz, do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, orienta o doutorado de Fernanda e destaca que a pesquisa gera novo conhecimento sobre o número de mamíferos mortos nas rodovias, entendendo os padrões espaciais e temporais e desenvolvendo ferramentas para reduzir o impacto das rodovias e do tráfego na biodiversidade brasileira.
“A combinação do trabalho sério da Fernanda e de sua determinação resultará na redução da mortalidade não natural dos mamíferos e na redução da fragmentação do habitat causada pela infraestrutura de transporte.”
Marcel Huijser, pesquisador sênior do Western Transportation Institute, Montana State University, também orienta a bióloga. Eles trabalham juntos há quase nove anos e, segundo Huijser, ela tem visões de longo prazo, metas concretas e sabe como implementá-las. “Quando a conheci em 2010, uma de suas metas era que eu ensinasse sobre ecologia de estradas no Brasil.
Ela percebeu que levar mais conhecimento era necessário para lidar com os impactos ambientais associados à rápida expansão da rede de transporte do Brasil. Fernanda me ajudou a conseguir recursos financeiros e, desde então, já ministrei três cursos no Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Esalq. Eu não poderia ter feito isso sem a dedicação, persistência e apoio prático dela.”
Huijser acrescenta sobre características que contribuíram para a seleção da doutoranda entre os vencedores do prêmio. “Ela é experiente e sabe como fazer as coisas acontecerem, mesmo em situações sociopolíticas difíceis e com recursos limitados.
É motivada, tem um coração enorme, realmente se preocupa com a conservação, faz uma quantidade incrível de trabalhos e está sempre focada em ajudar tanto as pessoas quanto a vida selvagem. É exatamente isso que o Future For Nature procura: a vontade e a habilidade de fazer a diferença pela natureza.”
Voluntária no projeto Bandeiras
Além de seu trabalho acadêmico de pesquisa e consultoria, Fernanda é voluntária em alguns projetos de conservação, como a Iniciativa de Conservação da Anta Brasileira e o projeto Bandeiras e Rodovias.
Ela é responsável pela coordenação dos grupos de trabalhos ligados ao impacto de transportes nos planos de ação nacional dos canídeos, felinos e ungulados ameaçados de extinção, incluindo espécies icônicas como o lobo-guará, raposa-do-campo, onça-pintada, onça-parda e antas.
Foto: Reprodução Facebook
“Ela desempenha um papel fundamental na conservação das espécies brasileiras de mamíferos, pois sabe medir a extensão do impacto do atropelamento, o efeito barreira e, mais importante, sabe como mitigar os impactos.
Acho muito interessante como a Fernanda se sente confiante e confortável, tanto fazendo trabalho de campo em condições adversas nas rodovias quanto participando de reuniões técnicas e políticas com profissionais e autoridades de agências ambientais e de transporte. Ela é extremamente versátil e sabe manter essa ligação entre o mundo lá fora e as salas de reuniões”, afirma Patricia Médici, coordenadora da Iniciativa de Conservação da Anta Brasileira, presidente do grupo de especialistas de Anta da IUCN e vencedora do prêmio Future For Nature em 2008.
Fernanda e Patricia trabalharam em um relatório que compilou informações sobre o atropelamento de antas no Estado do Mato Grosso do Sul. Fernanda também prestou assessoria em um plano de mitigação para uma rodovia específica (MS-040) e apoiou a equipe de Patricia em uma ação civil requerendo ao governo sul-mato-grossense a implementação de medidas contra os atropelamentos.
Adaptado de Caio Albuquerque/ Assessoria de Comunicação da Esalq
(Fonte: jornal.usp.br)
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