Quanta vida nessa alma! Que linda você é. Que grandeza sentimentalizada.
Você é completamente atemporal, lúcida, louca, você é o primeiro gole, embriagante, líquida, intensamente plena, uma completa metáfora, o tédio sublimado, a metafísica do que é realmente belo, a poesia interrompida, o gozo retesado, o infinito, o céu claro e as três estrelas dando as mãos perto da lua, o primeiro nome da minha filha, minha menina, minha irmã, minha amante, deusa, amor, a terapia bem feita, o último ansiolítico do dia, o remédio pra dor de cabeça, a metástase do câncer, o beijo de língua, o tesão demonstrado, o sexo entre vândalos, o fim, o meio, o começo.
Você é o inesperado, o exato, a matemática, você é humana, você é a parte que eu deixei escondida na puta que pariu. Você é o diabo reencarnado, Jesus fantasiado de demônio, o inferno, a dor de dente que não cessa, a quarta-feira de cinzas, a segunda-feira, o domingo na TV, o boné pra trás, o telefone fora do gancho, você não tem nome, não tem endereço, não tem descrição.
O compromisso que eu faltei, o zero que eu tirei na redação que eu fiz com o seu nome, a vontade de andar do aleijado, a bronquite do asmático, o calor do deserto que queima a minha pele mais que sol de praia, montanha de serra, a fruta do Adão, o sim, o não, o talvez, o nunca mais, o gol, o impedimento, o cumprimento, o “valeu, até mais tarde”, o “vou te liga pra gente sair”.
Ficar em casa assistindo desenho, ver o filme de trás pra frente, morrer enterrado no caixão lacrado como indigente, a melhor sinfonia de Beethoven, a pupila do Stevie Wonder, a cadência do samba, o topo do prédio, o vai tomar no cu com vontade, o esquecimento da semana, o arrepio de frio, a manhã fria no inverno do polo sul, você é a falta de inspiração, você é a piração, a alienação. o 2+2 que virou 5.
Madrugada sem sono, o sangrar dos dedos quando eu digito o comentário comentado, a curtida do dia, o compartilhar do choro, a anfetamina que mata depressa, o tiro na testa, a grande gozada, a piada do meu tio que HOJE teve graça, o compartilhamento do que foi compartilhado, o crente que perdeu a fé, minha avó pegando na mão do meu avô, a hora do almoço, o chocolate de sobremesa.
O invisível, a poesia que converge no caminho que ela quiser e foda-se qualquer inspiração vagabunda, pobre e pífia do que você representou nessa madrugada que encheu meus pulmões e me fez suspirar até o último debater das veias do coração.
Você é. Você será. Você já é. Você, namorada!
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