Jessica Jones é a segunda empreitada do canal de streaming mais acessado do mundo. Após o sucesso de Demolidor, o canal exibe Jessica Jones para dar continuidade ao universo compartilhado pela Marvel nos cinemas, além de fazer ponte com o primeiro herói de Hell’s Kitchen.

Vivida pela ótima Krysten Ritter, a ex-heroína Jessica Jones precisa lidar com os traumas de um passado doloroso.

Como é de costume do canal dar liberdade sem um controle extensivo de classificação etária, a série contém conteúdo sexual e violência ao extremo, mas o mais importante, e algo característico e também que envereda por um caminho real das séries oriundas da Casa das Ideias, é a desconstrução de assuntos sérios como estupro, violência contra a mulher, de forma geral, e o papel das mesmas na sociedade.

Eles terminam por serem tratados de formas excepcionais pelos roteiristas. De fato, até o término do sétimo episódio, Jessica Jones é, sem sombra de dúvida, a melhor série do ano.

Urgente e com uma trama pulsante, atuações são um show à parte. O vilão, Killgrave (mais conhecido como Homem Púrpura nos quadrinhos), ganha vida brilhantemente pelas mãos e feições do escocês David Tennant, que já viveu o icônico Doctor Who. Sem apelos desnecessários, Kilgrave não é um vilão qualquer. Nada de dominar o mundo. Ele quer Jessica. Como mulher, principalmente. Por si só, o argumento embutido já daria pano para os mais variados debates acerca do ignorante pensamento de muitos homens em imaginar ser dono de uma mulher.

Mas esse é o tipo de reflexão individual que cada espectador sentirá ao assistir o programa. Mesmo com assuntos cruciais, Jessica Jones ainda é sobre um personagem oriundo dos quadrinhos, e nesta vertente nerd, é preciso ação e tramas interessantes sobre o bem contra o mal a fim de cativar o público, seja ele conhecedor ou não da origem da história contada. Infelizmente é nessa tentativa de agradar que a série se perde a partir da segunda metade da temporada.

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Existe uma enorme quantidade de personagens secundários irrelevantes para trama como um todo. Seus objetivos de trazerem carisma para uma protagonista desconhecida do grande público mais atrapalham que ajudam.

Subtramas acabam sendo inseridas levianamente. Cenas constrangedoras no sentido de em nada agregarem para o escopo da série tomam muito tempo de tela. É aí que você nota a falta de mais pessoas familiarizadas com o conteúdo mostrado.

Porque veja bem, o espectador não necessariamente precisa ser fã de quadrinhos para assistir o programa, mas os envolvidos precisam ser fãs dos personagens para, junto da sua bagagem técnica e de experiências vividas, saberem dosar os eventos narrados.

Em Jessica Jones, a showrunner é Melissa Rosenberg. Para quem desconhece o nome, Rosenberg trabalhou nas primeiras temporadas de Dexter, pelo canal Showtime, mas ao mesmo tempo, também fora uma das pessoas responsáveis por todos os roteiros da Saga Crepúsculo nos cinemas. Não se trata de um discurso de gêneros, mas de qualidade audiovisual.

De toda forma, a Netflix caminha novamente para o sucesso e reafirma a sua posição dominante no mercado online. Em diferentes níveis, a série é essencial e atual, para não dizer de suma importância mediante tantas discussões sobre o que é ser humano. Mesmo com alguns solavancos, Jessica Jones precisa ser assistida.

Não por homens e mulheres, mas por seres que, coletivamente, desejam respeito mútuo e oportunidades iguais para fazerem o certo.

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Cidadão do mundo com raízes no Rio de Janeiro. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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