Certamente você conhece alguém que, mesmo em tempos de pandemia, insiste em sair de casa para jogar dominó na praça, ou promover festas às escondidas. De acordo com uma recente pesquisa, esses perfis, aparentemente opostos, podem ter elementos em comuns que ajudem a explicar porque algumas pessoas não cumprem o isolamento social, medida para combater a pandemia de coronavírus.
Para Jéssica Farias, estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília (UnB), fatores como renda, status profissional e posição política são fundamentais para definir se um indivíduo se junta àqueles que saem às ruas, mesmo sem nenhuma necessidade.
Para o estudo, ela ouviu 2.056 entrevistados de 25 unidades da Federação, com idades entre 18 e 88 anos, das cinco regiões do país. A constatação principal é que estudantes, pessoas de baixa renda, com posicionamento político de direita e desempregados são mais propensos a furar a quarentena.
Segundo o psiquiatra Luan Marques, o não cumprimento do isolamento também pode ser explicado pelo viés psicológico. Muitas pessoas estão passando, atualmente, pela fase da negação. Nesse grupo, é normal atitudes como defender que notícias verídicas são fake ou desacreditar no número de vítimas ou mortos por Covid-19, que segue em curva crescente.
“A reação emocional mais comum frente ao novo ou desconhecido é a negação, que aconteceu enquanto o vírus estava em países Europeus e China. Observamos, naquele período inicial do primeiro decreto, um movimento de dúvida e desconfiança de quanto as medidas eram necessárias ou se não eram um exagero. Após o aumento de casos, um medo real tomou conta, o que facilitou o cumprimento das medidas de isolamento social”, explica Luan, professor colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB).
De acordo com ele, os obstáculos enfrentados para o cumprimento das medidas se relacionam basicamente aos desafios que o próprio isolamento traz. “Os brasileiros, em sua maioria, têm como característica a relação próxima com o outro, o contato, o abraço e o que parecia ser fácil, revelou-se uma tarefa muito difícil”, argumenta.
O psiquiatra aponta ainda que a informalidade e os medos advindos dos riscos econômicos do isolamento pressionaram para que a camada mais vulnerável da população continuasse muitas atividades. “Uma boa política que garanta renda para essa população contribuiria no manejo desses medos”, defende.
Ansiedade
Outra questão importante a se levar em conta é a ansiedade. Em 2019, o Brasil foi apontado pela Organização Mundial da Saúde como o país mais ansioso do mundo. Esse sentimento relaciona-se a medos de incertezas e, de acordo com o especialista, “pode contribuir para uma maior desconfiança das medidas mais rígidas e facilitar seu descumprimento.”
Independemente do perfil, ele orienta, a quem ainda cogita furar o isolamento sem necessidade, fugir de atitudes impulsivas. É hora de agir com maturidade.
Mas, e quando quem descumpre a regra são os idosos? “Quanto mais velhos, mais dificuldade temos de modificar um comportamento. Por isso, observo forte resistência enfrentada em convencer alguns idosos, o grupo mais vulnerável, a tomarem parte das medidas de isolamento social”, diz.
“Nunca foi tão necessário um movimento de consciência coletiva. Temos que respeitar e ajudar o outros nas barreiras que o dificultam de se manter em isolamento, que é a medida mais eficaz apontada pela ciência para conter o colapso do serviço de saúde e evitar mortes”, finaliza.
(Fonte: psicologiasdobrasil)
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